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A verdade desconcertante sobre quanto tempo vai permanecer na Terra o plástico que usamos

Vamos deixar às gerações futuras um legado de resíduos plásticos.

Vamos deixar às gerações futuras um legado de resíduos plásticos. Pode ser desconcertante, mas é verdade.

Os produtos de plástico que usamos, como as garrafas e as fraldas descartáveis, demoram mais de 400 anos a decompor-se, o que é cinco vezes superior à esperança média de vida de um português ou de um brasileiro.

“Estamos a produzir demasiado plástico, acreditando que ele é descartável, mas não é. É indestrutível”, disse Jo Ruxton, produtora do documentário “Oceanos de Plástico”. 

Produzimos quase 20 mil garrafas de plástico por segundo. A produção deste material deverá duplicar nos próximos 20 anos e quadruplicar até 2050, estimou um relatório da Fundação Ellen MacArthur, que também avisou que até meio deste século haverá mais plástico do que peixes no mar (por peso).

Os resíduos plásticos que vão parar ao mar percorrem grandes distâncias, flutuando durante décadas e prejudicando os ecossistemas marinhos. O seu impacto no ambiente e na vida selvagem tem sido bem documentado: são responsáveis por estrangular leões-marinhos, asfixiar aves e encher os estômagos de golfinhos e baleias que acabam por morrer de fome.

Resíduos plásticos flutuam no mar das Caraíbas | Foto: Caroline Power 

“[O plástico], ao envelhecer, torna-se quebradiço, e fragmenta-se, dando origem a pedaços minúsculos, os quais se misturam com o plâncton, que é o centro da cadeia alimentar marinha”, explicou Jo Ruxton.

Segundo estimativas das Nações Unidas, existirão 51 biliões de partículas de microplásticos nos mares e oceanos – 500 vezes o número estimado de estrelas na nossa galáxia. Quando estas partículas são ingeridas pelos peixes e outros animais marinhos, podem acabar por fazer o seu caminho, através da cadeia alimentar, até aos nossos pratos.

O plástico está em todo o lado

As imagens chocantes da “maré de lixo de plástico” que invadiu a costa de uma ilha paradisíaca das Caraíbas, assim como as de outros acontecimentos semelhantes, lembram-nos de que “a poluição dos plásticos está tão disseminada, que nenhum lugar – não importa quão remoto – está imune”, disse o cientista Alan Jamieson. Erik Solheim, diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, chamou-lhe o “Armagedão dos oceanos”.

Foto: Jedimentat44/Flickr

Os plásticos também já são “ubíquos no ar que respiramos, na água da torneira, no peixe que comemos, na cerveja que bebemos, no sal que usamos – os plásticos estão simplesmente em todo o lado”, desabafou Sherri Mason, professora da Universidade Estadual de Nova Iorque em Fredonia.

A reciclagem não é a solução

Apenas 9% dos 6,3 mil milhões de toneladas de resíduos de plástico criados desde os anos 50 foram reciclados.

“Embora a reciclagem ajude a reduzir a produção de novos plásticos, também não resolve o problema dos resíduos a longo prazo. Os plásticos só podem ser reciclados um número limitado de vezes e, no final do processo, continua a existir uma quantidade de material indesejado que demorará décadas a decompor-se.”

Recentemente, a China, que processou metade dos plásticos reciclados no mundo em 2016, parou a importação de vários tipos de resíduos sólidos. Esta medida poderá significar que mais plástico – cerca de 540 mil toneladas só no Reino Unido – será enviado para aterros ou incinerado.

O ocidente terá de “aprender a tratar do seu próprio lixo”, disse, a este respeito, um jornal do Partido Comunista Chinês.

Sinais de mudança

No mundo, já há sinais de mudança. São cada vez mais os países, empresas e indivíduos a aperceberem-se do problema e a tomarem medidas para o enfrentar.

Canadá, o Reino Unido, a Nova Zelândia e os EUA, por exemplo, proibiram as micropartículas de plástico em cosméticos e produtos de cuidado pessoal – uma fonte de poluição marinha facilmente evitável.

O Chile, Goa e o Quénia proibiram, recentemente, os sacos de plástico. A França proibiu os talheres, pratos e copos descartáveis de plástico, num decreto-lei que entrará em vigor a 1 de janeiro de 2020.

“Se queremos proteger os nossos oceanos, precisamos de pôr fim à era do plástico descartável. As empresas precisam de abandonar o plástico descartável, apostar nas embalagens reutilizáveis e garantir que o resto é feito de materiais 100% reciclados”, disse Louise Edge, da Greenpeace.

Algumas empresas também se têm comprometido a reduzir os resíduos plásticos. A “Pret a Manger”, uma cadeia de fast-food britânica, aumentou, em janeiro deste ano, o desconto que oferece aos clientes que levam copos reutilizáveis de 0,28€ para 0,56€. A Patagonia aliou-se a dois alemães para desenvolver um saco que captura 99% das fibras de plástico libertadas durante a lavagem de roupas sintéticas.

Foto: NOAA

O que podemos fazer?

Também se pode juntar a este movimento, mudando alguns dos seus hábitos de consumo.

1 Em primeiro lugar, evite os plásticos descartáveis, como as garrafas, palhas, talheres e pratos de plástico. Troque-os por artigos reutilizáveis.

2 Compre produtos com embalagens de cartão ou vidro ou que têm embalagens maiores, em vez dos que trazem muitos pacotes individuais.

3 Faça compras a granel ou avulso e leve os seus próprios sacos reutilizáveis. Pode pesar os legumes ou frutas em sacos de rede.

4 Opte por comprar sabonetes e “champôs sólidos” em vez de produtos líquidos de cuidado pessoal que vêm embalados em plástico.

5 Para as máquinas de lavar, compre detergentes com caixas de cartão em vez de cápsulas embaladas em plástico.

6 Preste atenção à forma como descarta o plástico que não consegue eliminar do seu dia-a-dia. Não deite cotonetes na sanita e recicle o plástico no contentor amarelo.

7 Pense duas vezes antes de comprar balões ou purpurina, cujos impactos na natureza são tudo menos festivos.

Lembre-se: reduza e recuse primeiro. A reciclagem deve ser encarada como uma última opção.

“[Quando se recicla] não se está a fazer algo de positivo pelo ambiente. Só se está a fazer algo que é menos mau”, disse Adam Minter, escritor e ativista. “Se queremos mesmo lidar com o problema dos resíduos que estamos a enfrentar, precisamos de pensar melhor sobre a natureza do próprio consumo.”

“Para se dizer adeus ao plástico descartável, vai ser necessário o empenho dos governos, empresas e consumidores”, disse Louise Edge. “Quando decidimos reduzir a nossa pegada de plástico ao levar connosco um saco, garrafa ou copo reutilizáveis, não estamos apenas a reduzir o risco para a vida marinha, também estamos a transmitir aos comerciantes, fabricantes e, em última análise, ao governo a mensagem de que este problema é importante para nós.”

Fonte – The UniPlanet de 07 de fevereiro de 2018

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