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Aquecimento global afeta corrente do Golfo e pode até interrompê-la

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São 3 milhões de metros cúbicos por segundo de águas cálidas a menos alcançando o norte do Atlântico

Quem assistiu ao filme-desastre “O Dia depois de Amanhã” (2004) vai se lembrar da importância da circulação das correntes oceânicas para o clima do planeta. E ganhará agora razão para inquietar-se de verdade com um estudo indicando que uma parte crucial dela perdeu 15% de força nas últimas décadas.

Fonte congelada, em Nova York, em 2017
Fonte congelada, em Nova York, em 2017 – Frank Franklin II/Associated Press

Para quem acha pouco: são 3 milhões de metros cúbicos de águas cálidas a menos alcançando o norte do Atlântico —por segundo— com a corrente do Golfo, uma espécie de rio marinho que corre pela superfície. Seria o mesmo que pegar toda a descarga do rio Amazonas e multiplicar por 15.

Na fita, o colapso dessa imensa correia aquática de transmissão de calor mergulha a cidade de Nova York numa era glacial instantânea. Uma licença cinematográfica, porque transições climáticas desse porte duram décadas, séculos, e não dias.

Nem por isso seria o caso de tranquilizar-se com a pesquisa publicada no último dia 11 na revista Nature. Em especial se você morar na Europa ou na América do Norte.

Nos EUA, mais precisamente no Maine, houve nos últimos anos um salto repentino na produtividade da pesca de lagosta. Em contrapartida, entrou em crise a captura de bacalhaus. Sinal inequívoco de que o mar ali está anormalmente quente (para nada dizer de uma elevação de mais de 10 cm no seu nível).

Bem mais ao norte, formou-se uma gigantesca piscina de águas frias, na área de oceano compreendida entre o sudeste da Groenlândia, o sul da Islândia e o noroeste do Reino Unido. Em lugar de afundar e iniciar a longa viagem de retorno ao sul nas profundezas do mar, parte delas fica represada ali, freando o fluxo proveniente de latitudes equatoriais.

Ambas as anomalias parecem estar associadas com a desaceleração da corrente do Golfo, cujas águas amenizam o clima da Europa. E, por consequência, com eventos climáticos extremos dos últimos anos nos dois lados do Atlântico Norte, como ondas de calor, tempestades caudalosas e invernos anormalmente frios.

Uma hipótese para explicar o acúmulo de águas geladas ao norte põe a culpa no derretimento acelerado da calota de gelo sobre a Groenlândia, atribuído ao aquecimento global. Essa imensa quantidade de água doce chegando ao oceano altera sua salinidade e, com isso, uma das condições que fazem as águas afundarem.

Um colapso total da corrente do Golfo e da circulação oceânica como a conhecemos não seria bom para ninguém. Nem para quem viu “O Dia depois de Amanhã” na estreia, nem para seus bisnetos ou tatatatataranetos.

Eles é que vão pagar um preço amargo por nossa poluição climática, na forma de sistemas de saúde, práticas agrícolas e infraestruturas urbanas virados de pernas para o ar.

Marcelo Leite é repórter especial da Folha, autor dos livros ‘Folha Explica Darwin’ (Publifolha) e ‘Ciência – Use com Cuidado’ (Unicamp).

Fonte – Folha de S. Paulo de 23 de abril de 2018

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