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Araucária. A floresta disseminada pelos índios e que hoje vive ameaçada

Flávio Zanette destaca que a mata de araucária deveria ser considerada um bioma pelas inúmeras formas de vida que se estabelecem ao seu redor

O legado dos povos originais para as populações atuais é imensurável. Entretanto, um dos problemas da humanidade hoje é não só não reconhecer esse legado, como ainda destruí-lo. É mais ou menos o que ocorre com a floresta de araucária, presente do norte do Rio Grande do Sul até o estado do Paraná. “A araucária dependeu dos índios para sua disseminação e agora depende de nós para sua preservação”, destaca o professor da Universidade Federal do Paraná – UFPR Flávio Zanette, que se dedica a pesquisar essas florestas. O problema é que essa preservação não ocorre como deveria. No início dos anos 1940, a mata de araucária compunha 15% do território gaúcho, 25% do território catarinense e 35% do paranaense. Em menos de 80 anos, foi reduzida a 1,5% no Rio Grande do Sul, em torno de 3% em Santa Catarina, e no Paraná, conforme o levantamento feito pela Fundação de Ciências Florestais, não chega a 1,5% de mata virgem em relação ao original.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, o professor explica por que a araucária é tão cobiçada. “Sua fragilidade é seu grande valor econômico e por isso os proprietários das terras não deixariam uma só árvore em pé, se a legislação permitisse”, detalha. Para ele, a floresta segue ameaçada “porque nossa política pública referente à espécie só se preocupa em impedir a derrubada, mas não fomenta o plantio”. Zanette ainda ressalta que esses bosques poderiam ser considerados um bioma específico. “Se justifica pela grande área que ocupa, pela quase exclusividade do Brasil e pelas inúmeras particularidades da espécie e das que convivem com ela”, diz.

Flávio Zanette é graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Paraná – UFPR, mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e doutor em Fitotecnia pela Universite de Clermont II. Atualmente é professor da UFPR, onde atua no Laboratório de Micropropagação Vegetal, pesquisando técnicas de enxertia da araucária.

No dia 14 de junho, das 19h30min às 22h, ele profere a conferência Bioma Araucária: riquezas e fragilidades de um bioma ameaçado, dentro da programação do evento Os biomas brasileiros e a teia da vida, promovido pelo IHU. Veja a programação completa.

IHU On-Line – A floresta de araucária , que tecnicamente, seguindo com a classificação do IBGE , está inserida como ecossistema no bioma da Mata Atlântica, pode ser considerada um bioma? Por quê?

Flávio Zanette – Recentemente, numa defesa de tese, manifestei meu desejo de ver um dia o bioma Araucária fazer parte dos biomas brasileiros. Se justifica pela grande área que ocupa, pela quase exclusividade do Brasil e pelas inúmeras particularidades da espécie e das que convivem com ela.

IHU On-Line – Quais as riquezas e fragilidades da mata de araucária? E por que é tão ameaçada?

Flávio Zanette – Bastaria falar da araucária e do xaxim , que vivem neste bioma há muitas dezenas de milhões de anos. Sua fragilidade é seu grande valor econômico e por isso os proprietários das terras não deixariam uma só árvore em pé, se a legislação permitisse. Está ameaçada porque nossa política pública referente à espécie só se preocupa em impedir a derrubada, mas não fomenta o plantio. Como todo o ser vivo, necessita de renovação da população, pois um dia todos morrerão de velhos. Araucária não é peça de museu, é necessário fomentar seu plantio, pois ela não se regenera no interior da floresta porque necessita de luz.

IHU On-Line – Quais os impactos da degradação da araucária noutros biomas e ecossistemas?

Flávio Zanette – Com o desaparecimento da araucária, seu ecossistema certamente será afetado pelo comportamento das espécies parceiras. E, principalmente, muitas espécies animais seriam afetadas.

IHU On-Line – Quais os maiores desafios para a preservação da araucária?

Flávio Zanette – Preservá-la pelo uso com base no conhecimento científico/técnico atual e elaborações de políticas de fomento, especialmente para produção de pinhões.

IHU On-Line – E em que medida a ecologia em torno da araucária pode inspirar reflexões sobre as inúmeras e complexas relações que compõem a teia da vida no planeta?

Flávio Zanette – O quanto tempo uma espécie vegetal já vive no planeta tendo superado todas as mudanças climáticas que ocorreram. Isto poderia ocorrer também conosco!

IHU On-Line – Como as mudanças climáticas, a poluição e até a diminuição da fauna, como populações de passadores, podem impactar no desenvolvimento das araucárias?

Flávio Zanette – A araucária dependeu dos índios para sua disseminação e agora depende de nós para sua preservação. A fauna se beneficia muito das sementes da araucária, mas pouco ou nada pode fazer para salvá-la.

Fonte – João Vitor Santos, IHU de 13 de março de 2017

Imagem – Hoffmann, J. S.

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