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Brasil perde R$ 120 bilhões por ano ao não reciclar lixo – 2017 e 2020

Custos. Natura investe em refil, desenvolvimento de produtos e negociação com fornecedores para ser ambientalmente responsável

País gera quase 80 milhões de toneladas de rejeitos anualmente e só reaproveita 3% do total

A economia brasileira perde cerca de R$ 120 bilhões por ano em produtos que poderiam ser reciclados, mas são deixados no lixo. “Geramos no país quase 80 milhões de toneladas de rejeitos por ano, e reciclamos apenas 3%”, diz o especialista em economia circular e sustentabilidade e coordenador do grupo de resíduos sólidos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Paulo Da Pieve.

Em Belo Horizonte, a reciclagem atinge 1,5% do lixo gerado, segundo o empresário Ronaldo Carvalho, da Tecscan, que produz equipamentos para processamento de resíduos sólidos. Esse é um dos desafios que as empresas brasileiras enfrentam para se tornarem mais sustentáveis ambientalmente. “Falta investimento na indústria de reciclagem. A oferta pequena acaba encarecendo o produto”, diz Da Pieve.

Outro problema é a queda do preço do petróleo no mundo, o que faz com que a matéria prima nova fique tão ou mais barata que o produto reciclado. “A dispersão dos materiais pós-consumo onera a etapa de logística reversa, prejudicando ainda mais a competitividade desses materiais. Para piorar, os plásticos derivados de insumos petroquímicos ficaram mais competitivos com a queda do preço do barril de petróleo, o que torna menos vantajoso o uso de material reciclado”, explica o gerente de sustentabilidade da Natura, Keyvan Macedo.

Em outros países, como a Alemanha – que desde 2010 já recicla mais de 50% do seu lixo –, existem subsídios para as empresas que utilizam material reciclado. “No Brasil não tem incentivo. Pelo contrário, tem uma tributação que o encarece. O imposto incide no produto quando ele é matéria prima e depois, quando é reciclado”, diz Da Pieve. Segundo Carvalho, no caso do plástico, chegam a incidir oito impostos. “Não existe o incentivo fiscal necessário para estimular o desenvolvimento dessa cadeia de materiais”, diz Macedo. A alta dos custos atinge também o papel reciclado, que chega a custar até três vezes mais do que o convencional.

Para Da Pieve, o consumidor brasileiro ainda tem pouca consciência da importância ambiental de consumir produtos com material reciclado e acaba focando apenas no preço. O diretor comercial da Fleurity, que produz coletores menstruais, Carlos Dieter, concorda. “Uma parte dos consumidores busca o coletor por causa da questão ambiental, mas a grande maioria quer economizar”, afirma Dieter. Um coletor menstrual, comparado com o uso do absorvente convencional, se paga em cerca de seis meses e reduz, em um ano, até 4 kg de lixo gerado por uma única pessoa.

O gerente da Natura, porém, pondera. “O consumidor brasileiro está cada vez mais atento à origem dos materiais e aos modos de produção daquilo que consome”, diz o gerente.

NÚMEROS

US$ 102,5 custo médio da tonelada na coleta seletiva

US$ 25 custo médio da tonelada de lixo regular, diz o Cempre

Indústria – Reciclagem é mais difícil com lixões

O desrespeito à Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei nº 12.305/10), que prevê o fim dos lixões nos municípios, dificulta o desenvolvimento da indústria de reciclados no Brasil. “Hoje, apenas metade do lixo produzido no Brasil vai para aterros sanitários”, conta o empresário Ronaldo Carvalho, da empresa de equipamentos de trituração de resíduos sólidos Tecscan.

A construção dos aterros sanitários facilita a reciclagem do produto descartado. Porém, muitas prefeituras não se adaptaram à lei, que previa o descarte de todo o lixo do país em aterros sanitários até 2014. Com isso, o Senado, em 2015, prorrogou o prazo de adaptação à lei. Os municípios passaram a ter de 2018 a 2021 para se adequarem à lei, de acordo com o seu tamanho.

“Na Europa, muitos países proibiram a construção de novos aterros sanitários porque reciclam até 90% do seu resíduo. Nós ainda não conseguimos a adoção deles”, diz Carvalho.

Alternativas – Embalagem reduzida corta custos

Para garantir a responsabilidade ambiental, a Natura busca diminuir as embalagens. “Dentro do processo de desenvolvimento de produtos, reduzimos o consumo de materiais de embalagens e incorporamos o material reciclado pós-consumo”, conta o gerente de sustentabilidade da companhia, Keyvan Macedo.

Outras soluções envolvem a negociação com fornecedores e o uso de refil. “Buscamos melhorar os custos das embalagens que utilizam material reciclado trabalhando em parceria com nossos fornecedores para construir cadeias de fornecimento. Também disponibilizamos refil desde 1983. Com isso, o consumidor tem acesso a produtos com custo mais acessível, já que o refil utiliza menos material de embalagem”, conclui.

Fonte – Ludmila Pizarro, Jornal O Tempo de 16 de janeiro de 2017

Agora é a reportagem de 2020 – Nada Mudou

Brasil deixa de ganhar R$ 14 bilhões com reciclagem de lixo

Talis Maurício e Paula Forster, da CNN em São Paulo

04 de agosto de 2020 às 12:51

O Brasil perde R$ 14 bilhões por ano com a falta de reciclagem adequada do lixo. Foram cerca de 12 milhões de toneladas de resíduos sólidos que, ao invés de gerarem dinheiro e emprego, acabaram descartados no meio ambiente. Os dados, obtidos com exclusividade pela CNN, são da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais).

Por ano, são gerados quase 80 milhões de toneladas de lixo, mas apenas 4% são reciclados. A reciclagem é um dos gargalos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que acaba de completar 10 anos. “Então, existe um horizonte bastante amplo para que esses índices sejam melhorados”, afirma Carlos Silva Filho, presidente da Abrelpe.

Ainda sobre os números do desperdício, só de plásticos são 6 milhões de toneladas. Papel ou papelão representam 4,7 milhões. Vidro (1 milhão) e alumínio (185 mil) também aparecem entre os principais materiais não reaproveitados.

Lixões

Além da falta de reciclagem, o Brasil também não avança na extinção dos lixões. O número de locais praticamente se manteve estável nos últimos dez anos. A Política Nacional de Resíduos Sólidos previa o fim dos lixões até 2014, data que foi prorrogada para 2024.

Luiz Gonzaga, presidente da Abetre (Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes) comentou a situação. “Lamentavelmente, nós temos pouca evolução no aspecto da reciclagem. Os acordos setoriais da logística reversa ainda são poucos, não traduz o anseio e o desejo da sociedade brasileira. E o que é pior, os lixões continuam”.

Cerca de 40% de todo o lixo produzido no Brasil acaba despejado em locais inadequados. São mais de 30 milhões de toneladas de resíduos sólidos que vão para quase 3 mil lixões ou aterros controlados espalhados pelo país.

Como consequência, não só o meio ambiente é prejudicado, mas também a saúde das pessoas. “Isso tem um impacto na saúde de 76 milhões de brasileiros, e um custo para tratamento de doenças, um custo ambiental, de um bilhão de dólares por ano”, afirma Carlos Silva Filho.

 

 

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