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Consumismo e poluição

Este lago acumula boa parte do lixo que nossa necessidade por gadgets produz

Essa imagem que mais parece um filme de ficção científica no qual o planeta foi destruído é, na verdade, uma fotografia bem real de um lago tóxico em Baotou, a maior cidade industrial na Mongólia Interior, na China. Ele foi criado artificialmente para servir como local de despejo de resíduos que o processamento de minerais gera — minerais estes que estão presentes em nossas TVs e celulares. O município é um fornecedor global de minérios, sendo o principal distribuidor de metais de terra-rara do mundo — minerais presentes em muitas coisas: ímãs, turbinas de energia eólica, motores de carro e nas pequenas peças que fazem nossas TVs funcionarem. Acompanhado de arquitetos e designers do Unknown Fields Division (grupo que viaja o mundo em expedições em busca de “mundos alternativos, paisagens alienígenas, ecologias industriais e cenários precários”), um repórter da BBC esteve no local para conhecer, e entender, o que é este lago tóxico e como nossa gana por novos produtos tecnológicos está relacionada a ele.

Os metais de terra-rara são um dos grandes responsáveis pela ascensão tecnológica e econômica da China. Só em 2009, o país produziu 95% desses minérios e Baotou sozinha é dona de 70% das reservas mundiais. Mas tudo isso vem com um custo: a indústria desses minerais deixou uma marca clara na cidade, e não foi só neste lago artificial nojento. É difícil dizer onde termina a cidade e onde começa a área industrial; canos enormes surgem do chão e passam por ruas e calçadas; as ruas são largas para acomodar os enormes caminhões que transportam carvão que dominam o trânsito e a cidade tem um “constante cheiro de enxofre”, segundo a BBC.

A cidade explora o cério, mineral raro aplicado das mais diversas formas, desde colorir vidro, até a produção de catalizadores — a BBC visitou uma fábrica que produz óxido de cério, usado para polir touchscreens de smartphones e tablets. Baotou também explora neodímio, minério usado para a produção de lasers, tingir vidro, mas usado especialmente na produção de ímãs de pouco peso, que são encontrados em fones de ouvido internos, microfone de celulares e discos rígidos de computadores. O neodímio é encontrado também na produção de turbinas eólicas e na nova geração de carros elétricos.

Ambos os minerais, apesar de serem chamados de raros, são encontrados com certa abundância em todo o planeta. Para tornar estes minerais utilizáveis, no entanto, é preciso que eles passem por processos perigosos e caros. Por exemplo: o cério é extraído ao esmagar misturas minerais dissolvidas em ácido nítrico e sulfúrico e isso precisa ser feito em escalas industriais, o que gera grandes porções de lixo tóxico — e estes minerais não são apenas processados com ácido: são extraídos do solo usando químicos. “Não existe um passo desse processo que não seja desastroso para o meio ambiente”, diz Du Youlu, do departamento de segurança e proteção ao meio ambiente do Baogang Group, uma entidade mantida pelo governo que opera na maioria das fábricas processando toneladas do lixo antes dele ser despejado. O fato de esses minerais serem garimpados apenas na China talvez esteja mais relacionado à disposição do país em receber este dano ambiental do que à localização e extração dos minérios. E é possível ver como isso afeta o ambiente com o lago tóxico.

O lago foi criado represando um rio e inundando o que um dia foram fazendas — hoje, as antigas fazendas servem apenas de despejo de lixo tóxico. É possível vê-lo pelo Google Maps aqui, e ao aproximar a imagem, dá pra ver os dutos usados para despejar o líquido preto no lago. Du Youlu explica ao Daily Mail que o lago possui 30 metros de profundidade, aproximadamente 10 km de diâmetro e fica um metro mais largo a cada ano. Representantes do Greenpeace dizem que aldeões vizinhos se expõem a inúmeros riscos de saúde, de cancerígenos a radioativos — e não é só o lago que apresenta risco a estes moradores: a fumaça do processo utilizado nos minerais também é de grande risco à saúde desta população.

É aterrorizante ver como a nossa necessidade por novas tecnologias — cada vez menores e mais rápidas — destrói pouco a pouco vidas e cidades inteiras, nos fazendo questionar não só a real necessidade de se fabricar tantos aparelhos, mas também a de energias tidas como limpas, como a eólica: os aerogeradores, ou turbinas de vento, usados em grande parte da Europa, utilizam minerais extraídos e processados na China, o que faz com que nos perguntemos quão limpa é esta energia. Nos faz questionar também se a nossa realidade não está lentamente se tornando um aterrorizante filme de ficção científica. Mas nós ainda podemos mudar o final dele.

Fonte – Renan Lopes, BCC, Daily Mail de 14 de abril de 2015

Imagem – Liam Young/Unknown Fields

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