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Entulho cidadão

Um puxadinho no fundo de casa para o filho que acabou de casar; o reparo da calçada no fim de semana; a sonhada reforma do banheiro; o conserto do muro e outras incursões ao mundo dos tijolos, somadas à construção civil formal (que ainda desperdiça inexplicáveis 20% do material utilizado) produz, nas cidades, mais de 0,5Kg de entulho/habitante/dia. Dessa forma, uma cidade de 500 mil habitantes gera mais de 250 toneladas entulhos/dia.

Entulhos ou caliças são resto de construções como pedra, caco de telha e tijolo, cimento, cal, areia, ferro, madeira. Jogados em calçadas, meio-fios, praças, terrenos baldios, fundos-de-vale, são um transtorno para a cidade.

Onde já existe entulho, as pessoas jogam pneus velhos, papel de bala, lixo orgânico e outros resíduos. Não demora, o local vira um pequeno lixão.

Uma cidade chega a ter milhares destes pontos de depósito. Legiões de roedores, baratas, moscas e mosquitos aí encontrarão abrigo e comida. Ou seja: milhares de focos de contaminação do solo, da água e do ar. Provavelmente, muitas das doenças que nos acometem originem-se daí.

Até cupins, antes de assolarem árvores e residências crescem, alimentados com a madeira deixada nestes locais.

A chuva e o vento também levam os entulhos para rios e lagos, assoreando-os. Eles entopem bueiro. Bueiros entupidos, ruas alagadas nos dias de chuva.

Que fazer?

Os entulhos podem ser reaproveitados.

Uma experiência exitosa, em Londrina (PR), construiu mais de 200 casas, quilômetros de calçadas, anfiteatros ao ar livre e prédios administrativos, com matéria prima que seria condenada a um bota-fora qualquer.

Nesta ação pioneira, em 1994, triturando-se 100 toneladas de entulho ao dia, produzia-se 3.500 tijolos. Número suficiente para construir uma casa de 25 m2. A cidade gerava 300 toneladas de entulho/dia e moia 100 toneladas.

As casas destinaram-se a favelados e ocupantes de fundos-de-vale.

Sob supervisão técnica e em mutirão, estas pessoas construíam as casas, sem saber qual seria sua. Depois de prontas, um sorteio indicava o futuro morador.

Durante a construção, um programa capacitava os mutirantes que qualificaram-se como serventes, encanadores, pintores, eletricistas.

Tudo pronto, passaram a residir em uma casa com número fixo, em uma rua com nome, a não terem mais o constrangimento de dizer na entrevista ao emprego que não possuíam endereço. O fato mudou radicalmente o comportamento dos homens e mulheres. Estes, reduziram o consumo de álcool em mais de 60% e aquelas, diminuíram a quase zero a procura de atendimento médico por queixas vagas como dores-de-cabeça, zumbido nos ouvidos e alterações menstruais. Os espancamentos e demais maus tratos entre os casais, praticamente foram abolidos.

Acabou-se com o desperdício, reciclando os materiais (que saem da natureza); acabaram-se os muitos pequenos lixões; poupou-se o ambiente; deu-se um destino social aos entulhos; o êxito da promoção social coroou o processo.

E a cidade passou a ser não só poupadora mas produtora de energia, um conceito que inverteu a lógica das políticas ambientais até então.

O que você pode fazer:

Nunca coloque material de construção sobre a rua ou calçada. É proibido por Lei e ecologicamente desastroso.

Jamais faça massa ou reboco sobre o asfalto ou a calçada. Os restos acabarão em algum bueiro e, depois, em um lago ou rio.

Venda ou dê para quem reaproveite as sobras de reforma ou construção.

Nunca entregue entulho para carrinheiros, caçambeiros ou caminhonetes de aluguel sem a certeza de que eles darão destino adequado aos mesmos.

Uma casa com número fixo, uma profissão e uma cidade limpa.

Chamado de entulho cidadão não seria exagero.

Fonte – Luiz Eduardo Cheida, médico e Deputado Estadual. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais é membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Foi prefeito de Londrina e presidente da Comissão de Ecologia da Assembleia Legislativa do Paraná.

Esse é o nosso deputado, sempre criando leis para proteger o planeta e a humanidade.

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