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O uso de fertilizantes é um problema sem solução na agricultura?

Ainda que essenciais, esses compostos químicos contribuem para o agravamento de diversos problemas ambientais

Os fertilizantes são compostos químicos utilizados na agricultura para aumentar a quantidade de nutrientes do solo e, consequentemente, conseguir um ganho de produtividade. Atualmente, são muito utilizados, ainda que paguemos um alto preço por isso.

Entre os problemas estão: a degradação da qualidade do solo, a poluição das fontes de água e da atmosfera e aumento da resistência de pragas.

Tipos de fertilizantes

Existem dois grandes grupos de fertilizantes: os inorgânicos e os orgânicos; ambos podem ser naturais ou sintéticos.

Os inorgânicos mais comuns levam nitrogênio, fosfatos, potássio, magnésio ou enxofre e a maior vantagem desse tipo de fertilizante está no fato de conter grandes concentrações de nutrientes que podem ser absorvidos quase que instantaneamente pelas plantas.

Em relatório apresentado durante a Rio+20, o Ibge descreve o crescimento do uso de fertilizantes no Brasil. Entre os anos de 1992 e 2012, o consumo mais que dobrou, pulando de 70 quilos por hectare para 150 quilos por hectare vinte anos depois. Segundo a Petrobras, 70% dos fertilizantes nitrogenados são importados de países como a Rússia e os EUA. Da produção nacional, a empresa é responsável por 60%.

Já os fertilizantes orgânicos são feitos a partir de produtos naturais, como húmus, farinha de osso, torta de mamona, algas e esterco.

Estudos mostram que o uso desse tipo de fertilizante aumenta a biodiversidade do solo, com o surgimento de microrganismos e fungos que contribuem para o crescimento das plantas. Aliado a isso, no longo prazo, há um aumento da produtividade do solo.

A fabricação dos fertilizantes nitrogenados

Os fertilizantes nitrogenados estão entre os mais utilizados e são os que causam maior impacto ambiental. De acordo com a Associação Internacional de Fertilizantes(IFA), a produção desses compostos é responsável por 94% do consumo de energia de toda produção de fertilizantes. Os principais combustíveis utilizados são o gás natural (73%) e o carvão mineral (27%), ambos fósseis, cujas emissões de dióxido de carbono (CO2) contribuem com o processo de desequilíbrio do efeito estufa, logo, favorecem o processo de aquecimento global. A fabricação consome aproximadamente 5% da produção anual de gás natural.

O nitrogênio é extremamente importante para o crescimento e desenvolvimento das plantas, causando a atrofia quando ausente. Na atmosfera, é encontrado na forma de N² (não metabolizável por plantas ou animais), e de outras moléculas, como o NO – não metabolizável por plantas ou animais. Os principais fertilizantes de nitrogênio são a amônia e seus derivados, como a ureia e o ácido nítrico, que proporcionam um nitrogênio de forma assimilável.

A produção de fertilizantes nitrogenados se dá através do processo de Haber-Bosch. Nele, o nitrogênio (N2) presente na atmosfera é captado e misturado com o metano (CH4) do gás natural e com algum composto de ferro, como o óxido de ferro, que serve como catalisador da reação. Com o calor da queima do gás natural e com mudanças de pressão, a amônia é formada. Ainda de acordo com a IFA, apenas 20% da amônia produzida não é utilizada na agricultura.

Ao fertilizante entrar em contato com o solo, e aqui reside o grande problema, ocorre reação química em que bactérias, principalmente as do gênero Pseudomonasliberam óxido nitroso (N2O), um poderoso gás de efeito estufa com potencial 300 vezes superior ao do dióxido de carbono (CO2). O processo de Haber-Bosch se assemelha ao ciclo do nitrogênio realizado pelas bactérias na natureza. A diferença é que ao invés de devolver N2 à atmosfera, ele devolve um gás que contribui para asmudanças climáticas no planeta.

O processo de extração do N2 da atmosfera é uma das mais preocupantes atividades realizadas pelo homem. Em 2009, um grupo de 29 cientistas publicou umestudo sobre as ações humanas e seus limites para a manutenção da vida no planeta. Os pesquisadores sugerem um limite anual de 35 milhões de toneladas de N2 extraídas do ar. Enquanto isso, atualmente, 121 toneladas do gás são removidos da atmosfera todo ano.

Outros problemas associados aos fertilizantes inorgânicos

De maneira geral, o uso de fertilizantes inorgânicos acarreta problemas para o meio ambiente, dentre eles a contaminação de lençóis freáticos, rios e lagos. Muitos dos fertilizantes levam poluentes orgânicos persistentes (POPs), como dioxinas e metais pesados em sua composição, que contaminam os animais e plantas que vivem na água. Outros animais ou o próprio ser humano podem se contaminar ao beber a água ou comer animais intoxicados. Estudos já demonstram a acumulação de cádmio presente em fertilizantes no solo da Nova Zelândia (saiba mais sobre os POPs em nossa matéria especial).

A contaminação da água também pode levar à sua eutrofização. Esse é um processo em que, segundo estudos, os compostos nitrogenados ou fosfatados, ao chegarem à rios, lagos e zonas costeiras favorecem o crescimento e o aumento de número de algas, que por sua vez levam à diminuição do oxigênio e à morte diversos organismos. Alguns ambientalistas afirmam que esse processo gera “zonas mortas” nos ambientes aquáticos, sem qualquer tipo de vida além das algas.

Processo similar ocorre com o uso intensivo de sabão que contém fosfato em sua composição e acaba por ser destinado nos rios e mares (clique aqui para saber mais sobre os problemas dos sabões).


Lago eutrofizado

Estudos mostram também que fertilizantes fosfatados e nitrogenados também podem causar dependência do solo, por matar organismos da sua microflora como o fungo mycorrhiza e diversas bactérias que contribuem para a riqueza do solo e para o desenvolvimento das plantas. A acidificação também é um dos problemas e causaria a perda de nutrientes do solo.

Problemas associados aos fertilizantes orgânicos

Outras pesquisas afirmam que um dos perigos dos fertilizantes orgânicos está na sua própria composição. Se não fabricado de maneira correta, pode conter agentes patogênicos.

A quantidade de nutrientes presentes nos fertilizantes orgânicos não é exata e, diferentemente do que ocorre com os fertilizantes inorgânicos, podem não estar à disposição no momento correto do crescimento da planta. Isso faz com que não haja utilização desse tipo de fertilizante na produção agrícola intensiva moderna.

Ainda que em escala muito menor, esse tipo de fertilizante, assim como os inorgânicos, causam acidificação do solo e pode liberar óxido nitroso na atmosfera.

Panorama futuro e sugestões

As perspectivas não são animadoras. Com o crescimento populacional a necessidade constante de aumento da produção, a tendência é que o uso de fertilizantes inorgânicos aumente.

Com o passar do tempo, os fertilizantes orgânicos se tornaram extremamente ineficientes e não há pesquisas contundentes sobre a substituição dos fertilizantes inorgânicos por compostos químicos menos abrasivos ao meio ambiente. Esse problema se torna especialmente perigoso para o Brasil. O país é uma das principais fronteiras agrícolas do mundo e será um dos principais responsáveis pela produção que alimentará a população que, de acordo com a ONU, deve chegar a 9 bilhões de pessoas até 2050. Isso mostra o potencial aumento de gases do efeito estufa emitidos no país em um período de tempo relativamente curto.

Atualmente, o governo federal tem incentivado a diminuição das emissões dos gases do efeito estufa através do Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC). Entre as metas estão a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagem degradada, o plantio de florestas e o incremento do uso de técnicas de fixação do nitrogênio.

Para não se expor a todos esses problemas, ou até mesmo diminuir o impacto ambiental das suas compras, quando possível opte por alimentos orgânicos de pequenos produtores locais. Você pode até mesmo cultivar seus próprios legumes frutas e verduras utilizando fertilizantes orgânicos.

Fonte – eCycle

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