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ONG americana diz que fornecedores do Burger King estão ligados ao desmatamento

Cerrado brasileiro (Foto: Jim Wickens/Ecostorm)Desmatamento recente no Cerrado brasileiro (Foto: Jim Wickens/Ecostorm/divulgação)

As ONGs Mighty Earth e RFL afirmam que há relações entre o desmatamento no Cerrado e na Floresta Amazônia e o cultivo de soja para a criação de gado

Um estudo publicado pela ONG americana Mighty Earth afirma que as empresas Cargill e Bunge, fornecedoras de suprimentos para a rede de fast-food Burger King, estão ligadas ao desmatamento da região do Cerrado no Brasil e da Floresta Amazônica na Bolívia.

Por meio da utilização de drones e satélites, as ONGs Mighty Earth, dos Estados Unidos, e Rainforest Foundation Norway (RFL), da Noruega, mapearam as áreas de desmatamento recente na América Latina ligadas às empresas. Com base nessa análise, afirmam que as regiões mais afetadas são o Cerrado brasileiro e a Bacia Amazônica, na Bolívia. No Cerrado, a pesquisa apontou que 567.562 hectares da área em que a Bunge opera foram desmatados entre os anos de 2011 e 2015. Nesse mesmo período, a investigação constatou também que o Cerrado brasileiro sofreu com 130.000 hectares de desmatamento por parte da Cargill. A produção de soja foi o principal motivo pelo qual houve o desmatamento na região.

Ainda segundo a pesquisa, o cultivo de soja é uma das principais causas do desmatamento na América Latina. Aproximadamente três quartos da produção mundial são destinados à alimentação animal para a produção de carne e laticínios. Segundo as ONGs, o desmatamento é causado pela necessidade de ter mais espaço para a produção de soja, que por sua vez alimenta o gado, que vira alimento nas redes de fast-food, como é o caso analisado do Burger King.

O estudo realizado pela Mighty Earth tem seu foco no Cerrado. Segundo o presidente da Mighty Earth, Glenn Hurowitz, “o Cerrado encontra-se em um grave estado de crise ambiental, sendo que metade já foi destruída. O desmatamento da Cargill e da Bunge está comprometendo o abastecimento de água para metade das bacias hidrográficas do Brasil, bem como o patrimônio natural do Brasil”. Glenn ainda afirma que tanto a pecuária quanto a agricultura estão diretamente ligadas, visto que “75% da produção de soja é utilizada para alimentar os animais”, diz.

Incêndio florestal (Foto: Jim Wickens/Ecostorm)Incêndio florestal no Cerrado brasileiro (Foto: Jim Wickens/Ecostorm)

Insatisfeita com as informações que as empresas fornecem sobre a produção de carne e seus impactos, a ONG Mighty Earth foi atrás. A equipe de pesquisa checou 28 localidades do Cerrado brasileiro e da Bacia Amazônica. O estudo cobriu uma área de aproximadamente 3.000 quilômetros de extensão, a fim de investigar a origem da soja. Segundo as ONGs, os drones documentaram o desmatamento de regiões que estavam intactas até então. Com base nesses dados, chegou-se à conclusão de que os responsáveis em grande parte por esse desmatamento eram as duas empresas de agronegócio americanas Cargill e Bunge, ambas fornecedoras de suprimentos do Burger King. “Os grandes comerciantes de soja como ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus possuem políticas riogorosas voltadas à conservação das florestas. Entretanto, nossa investigação mostra que a Bunge e a Cargill não estão cumprindo seus compromissos de proteger essas florestas”, diz Glenn.

A gerente de clima e serviços ambientais na ONG ambiental brasileira Imaflora, Marina Piatto, explica que as grandes redes de lanches ainda não demonstraram controle da origem da soja que vem do Cerrado. Existe um acordo para a preservação da Floresta na Amazônia, porém, na região do Cerrado ainda nenhum foi firmado. “O Burger King não assinou nenhum compromisso até hoje de compra de matéria-prima livre de desmatamento”, diz Marina. A rede de fast-food é a segunda maior rede de hambúrgueres do mundo. Serve mais de 11 milhões de consumidores por dia e está presente em mais de 100 países ao redor do mundo. “Cada mordida que a gente dá em um hambúrguer é um pedacinho de recurso natural que a gente está comendo”, afirma Marina.

As ONGs afirmam que essas empresas não são as únicas responsáveis por impactar negativamente o meio ambiente. Mas que foram escolhidas como objeto de estudo devido a seu tamanho e relações com grandes empresas alimentícias.

Procurada por ÉPOCA, a Bunge apresentou seu posicionamento oficial. Em nota, a empresa afirma que o relatório “faz uma correlação enganosa entre a presença da Bunge no Cerrado brasileiro e os números totais de desmatamento na região”.  Segundo a Bunge, dois fatos importantes merecem destaque. “Primeiro, a maioria das mudanças de uso da terra não está diretamente relacionada às safras adquiridas pela Bunge. Em segundo lugar, nossa participação de mercado nos municípios da região onde operamos silos é de apenas 20%.”

“O relatório está certo em um ponto: uma empresa sozinha não pode resolver esse problema”, afirma ainda a nota da Bunge. “Um passo positivo seria que mais empresas adotassem compromissos de desmatamento zero, aplicassem controles para bloquear que safras cultivadas em áreas desmatadas ilegalmente possam entrar em suas cadeias de fornecimento, informassem publicamente seu progresso e investissem alguns milhões de dólares para apoiar os esforços de planejamento sustentável do uso da terra. Tudo isso a Bunge tem feito. Em última análise, o desmatamento é um problema complexo relacionado à demanda do mercado global, ao desenvolvimento econômico, aos direitos de propriedade e à falta de suficiente compensação para os proprietários de terra – provenientes do mercado ou dos governos – que proporcionariam incentivos para conservar o meio ambiente. Para controlar isso, seria necessário que governo, indústria, agricultores, comunidades locais e sociedade civil desenvolvessem novos sistemas. Enquanto isso, a Bunge continuará a participar ativamente desses esforços.” Aham, blablablá…

Em nota, a Cargill diz que “está inabalável quanto ao seu compromisso de acabar com o desmatamento”. A empresa afirma que está tomando medidas para alinhar as operações, “comprometidos em reduzir pela metade o desmatamento até 2020 e eliminá-lo até 2030”. Afirma ainda que sempre que descobre um problema, vai corrigi-lo. “Reconhecemos que esta é uma jornada longa e complexa. Este não é um desafio fácil de resolvermos e requer tempo e trabalho duro em campo, fazenda por fazenda e hectare por hectare, para termos um impacto duradouro e garantirmos a inclusão social das comunidades nas quais atuamos. Devemos ser, ao mesmo tempo, ambiciosos e pragmáticos, pois essa é realmente a melhor maneira de nutrir o mundo de forma eficaz e proteger o planeta”. Aham, aham, blablablá…

ÉPOCA também procurou as rede de fast-food Burger King. Até o momento da publicação desta reportagem a empresa não tinha se pronunciado. Tá certo, pelo menos não mentiram, desconversaram ou enrolaram, como as outras duas.

Fonte – Daniela Simões, Edição Alexandre Mansur, Blog do Planeta de 02 de março de 2017

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