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Pesquisas recentes comprovam o poder das PANC na prevenção de doenças

No início de 2016 publiquei aqui um post sobre as PANC, Plantas Alimentícias Não-Convencionais. Para se ter uma ideia, aqui no Brasil existem cerca de 10 mil espécies de plantas alimentícias e só utilizamos cerca de 300. Isso diminui a regionalidade alimentar e é mais uma prova do aumento da globalização dos nossos hábitos alimentares. As PANC normalmente são vistas como mato, ervas daninhas ou  invasoras das plantações, isso porque elas nascem e crescem sozinhas, sem precisar de nenhum tipo de manejo. O que a maioria das pessoas não sabe é que elas possuem mais nutrientes, fibras, proteínas e compostos bioativos do que as convencionais, principalmente as que são cultivadas em larga escala, com agrotóxicos e solo pobre. Na culinária, as PANC são saborosas e versáteis. E o aumento do seu consumo pode ajudar a combater a fome, a melhorar a renda de pequenos agricultores locais e a preservar o meio ambiente, pois não o agride na sua produção.

De acordo com a nutricionista Valéria Paschoal, autora do livro, Nutrição Funcional & Sustentabilidade, “Para asseguramos que as gerações futuras tenham acesso ao alimento íntegro tanto em quantidade como em qualidade, os profissionais que trabalham com a prescrição e orientação nutricional têm que ter a noção de que a compra que eu faço hoje, no supermercado, de produtos alimentícios, terá um impacto futuro na saúde do meio ambiente e na qualidade dos alimentos produzidos. Temos que trabalhar com alimentos que sejam da nossa biodiversidade, produzidos no Brasil, um país continental, que tem em abundância frutas, verduras e alimentos que não são classicamente consumidos, como as PANC.”. Vou citar aqui os benefícios e as características de algumas delas.

Camu-camu

Foto: Pura Vida

Encontrada nas regiões Norte e Nordeste, essa PANC é rica em potássio, sódio, cálcio, zinco, magnésio, cobre, flavonóides e antocianinas, que ajudam a reduzir possíveis inflamações. Pesquisas comprovam que o seu consumo frequente aumenta a nossa capacidade antioxidante, protegendo as nossas células. Um estudo realizado com fumantes concluiu que o consumo diário do suco de camu camu ajuda a reduzir o estresse oxidativo aumentado pelas toxinas do cigarro. Este potencial antioxidante também foi testado em ratos e foi comprovado o seu poder de aumentar os espermatozóides nos animais, o que pode colaborar com a fertilidade. Ela também tem um papel importante na redução do triglicérides e do colesterol total e ainda colabora com a saúde do nosso fígado. Se não bastasse, possui altas doses de vitamina C, que fortalece o nosso sistema imunológico. Pode ser consumida na sua forma original ou em sucos, compotas ou geleias.

Beldroega

LuisLiberal

Encontrada na região Sudeste, essa hortaliça folhosa tem ramos longos que vão de 20 a 40 cm. De acordo com pesquisas recentes, suas folhas têm uma qualidade nutricional melhor do que a de outros vegetais cultivados. Possui também maior teor de betacaroteno, vitamina C e ácido alfa-linoleico. É muito rica em ômega 3 e em ômega 6, que são antioxidantes, que colaboram com a saúde do fígado e com a eliminação de toxinas. Tem ainda bastante magnésio, que pode prevenir a formação de cálculos renais. Na medicina chinesa a beldroega é usada em forma de chá para combater febres, vermes ou atuar como antisséptico.

Ora-pro-nobis

Em Minas Gerais a planta é consumida normalmente, mas em outros estados do Sudeste, é considerada como não-convencional. Estudos científicos comprovaram o seu poder no aumento na imunidade e na prevenção de alguns tipos de câncer, por conta do alto teor de vitamina A. Ela ainda colabora com o controle da pressão arterial e tem um teor proteico pelo menos duas vezes maior do que o do feijão. É composta também de zinco, que atua como antioxidante, de cálcio e magnésio, que melhoram a saúde óssea e de ácido fólico, que contribui com a diminuição do risco de doenças cardiovasculares.

Taioba

Muito consumida no Rio de Janeiro, mas desconhecida em outros estados do País, esta PANC é rica em fibras, cálcio, magnésio e boro, fundamentais para a saúde óssea, o boro ajuda a reter o cálcio dentro dos ossos e a prevenir a formação de cálculos renais. Tem também cobre e manganês, que ativam nosso sistema imunológico e melhoram a pigmentação do cabelo, por exemplo, evitando o aparecimento de cabelos brancos, causados pelo estresse oxidativo. Ainda é composta por ferro e vitamina C, que devem ser consumidos juntos por quem tem acesso ao ferro por fontes vegetais, que precisa da vitamina C para ser absorvido. Estudos comprovam que a taioba aumenta o bolo fecal, que ajuda a reduzir a gordura do fígado e colabora muito com o funcionamento do intestino, ajudando a prevenir o câncer de colo retal.

Moringa

bermudezkhodzoc

Presente na região Sul essa PANC pode ser consumida em várias partes, sua flor, seu fruto jovem, sua folha e sua raíz, que parece a raíz forte utilizada na culinária japonesa. Foram feitas pesquisas recentes que comprovaram a sua eficácia na eliminação de metais tóxicos, como alumínio, chumbo e flúor, e como consequência, na prevenção do câncer. A planta também é rica em vitamina A, ferro, proteína, vitamina E  e fitoquímicos, que ajudam a reduzir a gordura no fígado.

Caruru ou Bredo

Esta PANC pode ser encontrada em todas as regiões do Brasil, mas é mais popular na Bahia. Nasce no meio das plantações de verduras e tem um papel importante no controle da pressão arterial. Também é rica em zinco, cálcio, magnésio, fibras, compostos fenoicos, que são antiinflamatórios, antioxidantes e podem ajudar na prevenção de casos de Alzhemeir e de Parkinson.

Os especialistas recomendam que as PANC não devem ser consumidas cruas por conta de seus fatores antinutricionais, substâncias que atrapalham a absorção de vitaminas e minerais pelo organismo. Também precisam ser bem higienizadas. Outra dica é optar por aquelas vindas de solos sadios, ou seja, que fiquem distantes de fontes de poluição.

O principal desafio agora é disseminar estas informações para que as pessoas possam identificar as PANC mais próximas e acessíveis e para que saibam diferenciá-las das plantas não comestíveis. “Nosso desejo é que em breve as PANC, não sejam mais alimentos não convencionais, porque a partir do momento que eu passe a consumi-las elas passam a fazer parte do nosso cotidiano alimentar. Chega de consumirmos apenas alimentos convencionais como cenoura, alface, tomate. As PANC são amigas do meio ambiente, são selvagens, resistentes e não precisam de muita água”, complementa Valéria Paschoal. A nutricionista sugere que as PANC sejam utilizadas para compor as hortas das escolas, pois durante as férias a maioria das plantações morre e precisam ser refeitas a cada início de ano letivo, mas as não-convencionais não precisam de muitos cuidados e estarão sempre à disposição dos alunos, assim que as aulas retornarem. Também é uma forma de apresentá-las à população por meio dos estudantes.

Fonte – Juliana Carreiro, O Estado de S. Paulo de 04 de dezembro de 2017

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