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Petroleiro cruza o Ártico sem quebra-gelo pela primeira vez

O petroleiro Christophe de Margerie encara gelos de até 2,1 metros de espessura. Foto Socovcomflot, empresa russa de transporte marítimo

Navio da empresa Sovcomflot atravessou o gelo marinho em rota do mar do norte transportando combustível da Noruega para a Coréia do Sul em tempo recorde

Um petroleiro russo navegou pelo norte do Ártico, sem escolta de quebra-gelo, pela primeira vez. A embarcação, que trazia gás liquefeito, poderá cruzar os mares polares ao longo do ano, aproveitando o encolhimento do gelo do mar do Ártico.

Em sua viagem inaugural, Christophe de Margerie, como é chamado o petroleiro, completou a Rota Marítima do Norte (também conhecida como Passagem Nordeste) em tempo recorde: seis dias e meio, carregando uma carga de gás natural liquefeito (GNL) da Noruega para a Coreia do Sul em 19 dias, cerca de 30% mais rápido do que uma passagem típica pelo canal de Suez. “Foi um feito inédito e bem importante “, disse o porta-voz da Sovcomflot, Bill Spears, ao Climate Home.

O tráfego marítimo ao longo da costa norte da Rússia, facilitado pelo aquecimento global, tem desenvolvido a indústria da região. A empresa estatal russa Rosatomflot relatou que dobrou a procura de suas escoltas de quebra-gelo nuclear entre 2015 e 2016. “Sempre houve uma janela no período de verão onde conseguimos passar por uma escolta de quebra-gelo. Agora, essa janela está ficando um pouco mais ampla. Isso, obviamente, mostra que as condições climáticas estão diferentes”, disse Spears.

Projetado para atravessar uma espessura de até 2,1 metros de gelo marinho, Christophe de Margerie, que leva o nome do ex-executivo de uma companhia petrolífera francesa, morto em um acidente de avião em um aeroporto de Moscou em 2014, leva a bandeira da ilha de Chipre e pode operar além dos meses de verão, o que representa uma vantagem sobre seus concorrentes.

A expansão e encolhimento do gelo do mar no Ártico é natural ao longo das estações, no entanto, há uma tendência clara de diminuição progressiva, uma vez que  a região onde está o polo Norte esquentou duas vezes mais do que a média global. Em março deste ano, a extensão máxima anual do gelo do mar do Ártico atingiu uma baixa recorde pelo terceiro ano consecutivo, de acordo com o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos EUA.

O fato de a Sovcomflot ter investido em uma operadora de GNL com capacidade de atravessar superfícies de gelo revela que o mercado vislumbrava a tendência de redução do gelo, disse Andrew Holland, do American Security Project. “Era muito imprevisível e as pessoas diziam: talvez possamos ter um Ártico aberto por muito mais tempo a partir de agora”, disse ao Climate Home.

Para que as empresas decidam investir em embarcações como esta, é preciso que observem a redução do gelo como tendência. “Desde que o gelo do Ártico foi reduzido drasticamente em 2007, notamos que se tratava de algo de longo prazo. Não há como negar. Este é um efeito muito claro e previsível das mudanças climáticas.”

Truls Gulowsen, do Greenpeace da Noruega, criticou o que definiu como “empresas gananciosas” por explorarem a fragilidade do Ártico como oportunidade de negócio. Ele afirmou que as empresas deveriam refletir sobre o Meio Ambiente e atentar para “a mensagem da Terra, de que precisamos tirar os combustíveis fósseis de circulação o mais rápido possível”.

A abertura do ártico na Rússia cria rotas comerciais para mercados crescentes de petróleo e gás, como Japão, China e Coreia do Sul. Também expande as opções navais do presidente Vladimir Putin. Quando a Rússia entrou em guerra com o Japão de 1904 a 1905, seu porto leste de Vladvostock ficou congelado durante metade do ano. Os reforços da frota tiveram que viajar milhares de quilômetros em torno da África para alcançar a arena da batalha. Ao chegarem, com os recursos esgotados, a frota russa sofreu grandes derrotas.

Embora não haja indícios para afirmar que a Rússia caminha em direção a um novo conflito, Holland afirma que a dinâmica do poderio militar pode se alterar radicalmente com as transformações de rota devido geradas pelo derretimento do gelo do mar: “Coisas como essa têm consequências imprevisíveis”.

Outros países também estão observando oportunidades na região polar descongelada. O Xuelong, também conhecido como dragão de neve, o quebra-gelo polar do Instituto de Pesquisas da China, já tenta a primeira circunnavegação da China ao Ártico, informou a agência oficial do governo chinês. Uma equipe integrada de 96 pessoas está realizando pesquisas de fronteira e coletando informações que vão da geologia à acidificação dos oceanos, disse o cientista-chefe chinês Xu Ren.

Fontes – Megan Darby,  Climate Home / Observatório do Clima de 28 de agosto de 2017

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