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Rio São Francisco enfrenta a mais grave crise hídrica

No Sobradinho, que registra a menor vazão desde 1970, há sinais evidentes da escassez - Foto: Xando Pereira | Ag. A TARDENo Sobradinho, que registra a menor vazão desde 1970, há sinais evidentes da escassez

Com 516 anos de exploração por parte das civilizações que ocuparam o Brasil há mais de cinco séculos, o rio São Francisco está passando pela mais severa crise hídrica contemporânea. Hoje, o Velho Chico chegou aos menores níveis de reserva, o que afeta diretamente milhões de pessoas que dependem das suas águas.

No dia do santo padroeiro do rio, celebrado hoje, a situação é crítica para as pessoas que dependem das suas águas para viver. Este é o caso do técnico em agropecuária José Cerqueira. Morador da margem de Sobradinho em Sento Sé, ele vê com tristeza a situação do rio, que já foi o grande provedor de uma imensa região. “Não conseguimos mais produzir nosso alimento e muitas famílias passam fome”, disse, acrescentando que já chorou várias vezes, vendo a água diminuir a cada dia.

A escassez hídrica do rio será tema do IV Encontro dos Comitês Afluentes do Velho Chico, no Hotel Catussaba, em Salvador, amanhã e sexta-feira.

Salvação

Contudo, para o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, ainda existe salvação, “desde que o programa de revitalização seja efetivamente tirado do papel e que todos, incluindo os órgãos públicos, os empreendedores da iniciativa privada e os usuários, se empenhem em cumprir o Plano de Recursos Hídricos da Bacia”.

“Todos devem rever seus conceitos sobre produção e consumo”. Anivaldo Miranda, presidente do CBHSF

Capitaneado pelo CBHSF, esse plano foi concluído em 2016 e prevê ações até o ano de 2025, com valores estimados em R$ 35 bilhões. “A maior parte deste total é de recursos orçamentários, já previstos pela União e os estados”, afirmou, destacando que, para evitar o colapso, devem ser canalizados para a bacia do São Francisco.

Outro ponto importante é a necessidade de aprovação da emenda constitucional classificando o cerrado e a caatinga como patrimônio nacional, como foi feito com a mata atlântica e a Amazônia. O fortalecimento dos comitês das bacias estaduais, a criação de sistemas de outorga confiáveis, a classificação dos rios e o estabelecimento da cobrança pelo uso das águas superficiais e as subterrâneas são, segundo ele, fundamentais.

Com recursos obtidos a partir da cobrança pelo uso da água na calha principal do rio, o CBHSF implementa projetos hidroambientais, sendo que 43 já foram concluídos e 14 estão em andamento. “Devemos estar preparados para extremos climáticos”, concluiu.

Sobradinho 

Como reflexo da estiagem que se agrava desde 2012 na Bahia e em diversos outros estados da região Nordeste, a vazão defluente da barragem de Sobradinho vem sendo reduzida nos últimos anos aos níveis mais críticos da sua história.

A crise hídrica deixou o lago de Sobradinho com 4,87% das águas do volume útil nos primeiros dias de outubro. Em 29 de setembro esse número era de 5,23%, com redução registrada dia a dia. Desde a semana passada, a sua vazão defluente passou para 580 m³/s, enquanto que a vazão de entrada no reservatório era de 290 m³/s.

“8,69% do volume útil total foi o percentual a que chegou a reserva equivalente do Velho Chico este mês. Em 2016, o armazenamento era de 15,24% do volume útil no mesmo período”

A redução da vazão para 550 m³/s estava autorizada pela Agência Nacional de Águas (ANA) desde o mês de julho. O Ibama, por sua vez, tinha consentido este patamar desde o mês de agosto. Essa é a menor vazão defluente desde a construção do reservatório de Sobradinho na década de 1970, planejado para gerar energia e regular a vazão das águas.

Nesse período, a Chesf fez testes de adaptação ao longo dos trechos abaixo das barragens, reduzindo a vazão de forma gradativa para que os locais de captação fossem se adequando a menor volume de água no leito do rio.

A meta desejada com a redução da vazão defluente é preservar a pouca reserva existente, de modo que até a chegada das chuvas na região as barragens tenham água suficiente para abastecer a população ribeirinha e das cidades que dependem do Velho Chico.

Sem água no rio, procissão será feita em terra

A festa que a diocese e a paróquia de Barra, a 673 km de Salvador, realizam hoje para comemorar o dia do padroeiro São Francisco não terá a tradicional procissão fluvial por causa da estiagem, que rebaixou o nível das águas, comprometendo a navegação em toda a extensão do Velho Chico.

Ao invés da procissão pelas águas, pela manhã o andor com São Francisco será levado pelos devotos até o cais da cidade, onde fica a foz do rio Grande, para iniciar a programação. No retorno para a catedral, acontece a primeira missa do dia.

Às 16h, tem início a segunda procissão, desta vez pelas ruas centenárias, com encerramento na catedral, seguida da missa campal, presidida pelo bispo dom Luiz Flávio Cappio, que hoje comemora também seu aniversário.

Dom Luiz é um dos principais defensores do rio São Francisco e seus afluentes. Ele ficou mundialmente conhecido quando realizou dois grandes jejuns, em 2005 e 2007, chamando a atenção dos brasileiros sobre a necessidade de aumentar as ações de preservação e recuperação da bacia hidrográfica, para manter a vida dos rios e da população que deles depende para viver.

Este ano a paróquia de São Francisco das Chagas comemora 310 anos de implantação em Barra. Os festejos tiveram início com quermesse no final de agosto e início de setembro. Um show com a banda Anjos de Resgate, em novembro, encerra a festa paroquial. Para marcar a data, a previsão é que pelo menos 50 andores acompanhem a procissão hoje pelas ruas da cidade, com participação das imagens dos padroeiros de todas as paróquias da diocese de Barra.

Fonte – Miriam Hermes, Jornal A Tarde de 04 de outubro de 2017

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