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Sacola furada – o estudo da braskem, basf, eco e akatu

Estudo encomendado por empresa química ignora tempo de decomposição do plástico e supõe que o destino das sacolas descartáveis seja apenas o aterro sanitário ou a reciclagem

É difícil falar sobre sacolas plásticas sem esbarrar em interesses, seja das indústrias petroquímicas ligadas à fabricação da matéria-prima, seja de quem as condenam. No meio desse debate ficam os consumidores, que precisam decidir se colocam as compras na sacolinha descartável – que depois pode acomodar o lixo – ou se levam a sacolona de pano ou plástico mais durável, que podem ser reutilizadas centenas de vezes, minimizando a produção de lixo no planeta.

Para abordar o assunto, o Instituto Akatu lançou o estudo Ecoeficiência das sacolas de supermercado, encomendado pela Braskem – produtora de resina termoplástica, matéria prima para as sacolas – e desenvolvido pela Fundação Espaço Eco que, por sua vez, é uma entidade vinculada à empresa química Basf.

No estudo, que analisou oito tipos de sacola, concluiu-se que as de plástico são mais “ecoeficientes” que as demais alternativas em diversas situações.

Nas palavras da diretora-presidente da Fundação Espaço ECO, Sonia Chapman: “Por um lado, sacolas descartáveis de plástico apresentaram melhor ecoeficiência nas situações que os consumidores têm maior volume de compras, maior frequência de ida ao supermercado e uma frequência de descarte de lixo maior, que garanta o reuso das sacolas plásticas para o descarte desse lixo. Por outro lado, sacolas retornáveis de tecido ou de plástico apresentaram melhor ecoeficiência nas situações em que os consumidores têm menor volume de compras, menor frequência de ida ao supermercado e uma frequência de descarte de lixo menor, com baixa compra de sacos para condicionar o lixo”.

Sacolas retornáveis foram, são e sempre serão a melhor opção para acondicionamento das compras, não acredite nas besteiras que este estudo está tentando enfiar goela abaixo do consumidor.

Lacunas

Esse panorama, no entanto, merece ressalvas. O estudo não incluiu entre os fatores de impacto ambiental o tempo de decomposição de cada um dos materiais, principal preocupação daqueles que se opõem às sacolas plásticas. Os pesquisadores levaram em conta o que acontece com os produtos – da produção ao descarte – apenas no período de um ano.

“Não consideramos todo o ciclo porque ninguém sabe exatamente quanto tempo a sacola de plástico demora pra se decompor. E só trabalhamos com dados oficiais”, diz Emiliano Graziano, gerente de ecoeficiência da Fundação Espaço Eco.

Esta foi boa. Sacolas plásticas de uso único quando fabricadas com plástico convencional demoram ao menos 500 anos para sumir da face da terra. Sim, um segundo para serem produzidas, trinta minutos de uso e cinco séculos poluindo o planeta e matando aves, peixes e animais.

Embora o tempo de decomposição do plástico seja objeto de controvérsia, não existe nenhuma estimativa que não se componha em séculos.

O estudo também considera que o destino das sacolas plásticas, após o descarte, é o aterro sanitário ou a reciclagem. A realidade do país, no entanto, mostra que apenas 32% dos municípios têm aterros sanitários para enviar o lixo de forma segura ao meio ambiente e à saúde pública. Pelo menos 30% do que é descartado pelas cidades vai parar em lixões a céu aberto e sem tratamento, segundo dados do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE).

Somente 14% dos municípios tem aterro sanitário – o 64% tem lixão e o resto das cidades conta com aterro controlado -, apenas 6% das cidades tem reciclagem organizada pela prefeitura, menos de 1% do lixo do país vai para a reciclagem – 0,8% – e poderíamos continuar com os dados por muito tempo, mas já deu para você ter uma idéia de que sacolas jamais são recicladas, até porque é necessário coletar 800 delas para poder vender por uns poucos centavos. É óbvio que o catador de recicláveis NÃO vai coletar algo que dê mais trabalho e renda menos dinheiro. Lógica pura. 

Analisados só os processos produtivos, as sacolas de pano e ráfia (um tipo de plástico mais resistente) causariam mais impactos ao meio ambiente, porque consomem mais recursos naturais, energia para produção e água. Uma sacola de tecido, por exemplo, passa pelo cultivo do algodão, uso de agrotóxicos, colheita, transporte, fabricação de fibra até virar pano. Segundo Ana Domingues, da FUNVERDE, uma ONG que milita contra o uso de sacolas descartáveis, o ciclo do plástico é de fato mais curto e com menos emissões do que o do algodão. “Se consideramos apenas a primeira parte do ciclo de vida de uma sacola de pano, ela tem maior impacto ambiental, mas como dura de cinco a dez anos, esse impacto é minimizado e vale a pena produzi-la”, diz.

Quanto à reciclagem, ainda segundo Graziano, o estudo se baseou em dados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), que afirmam ser de 10% o índice de reciclagem de sacolas plásticas no País. Para a FUNVERDE, no entanto, essa marca não chega a 1%. Por serem muito leves, não compensa recolher sacos para reciclá-los. Para obter um quilo, é preciso juntar 800 unidades. A produção do plástico virgem é de baixo custo, o que desestimula o processo industrial para reciclar.

Agora o graziano abusou da nossa inteligência, ao querer nos convencer de que 10% das sacolas são recicladas. É um absurdo, será que ele não fica vermelho ao contar esta lorota? 

Para que o caminho da sacola retornável tenha valido a pena para a natureza, o estudo da Akatu afirma que é preciso que ela seja reutilizada diversas vezes. A de ráfia, por exemplo, é feita de um plástico durável, mas deve ser levada ao supermercado pelo menos 60 vezes. Ana Domingues afirma que, ao eliminarmos o consumo e o descarte de sacolas descartáveis, diminuímos 10% do lixo do planeta. “Para jogar o lixo doméstico fora, temos alternativas como usar os saquinhos que transportam frutas e legumes ou usar caixas de papelão. E a sacola retornável é uma alternativa boa em qualquer circunstância”, diz.

Questionado se, por ter sido encomendado por uma empresa ligada ao setor, a credibilidade do estudo não estaria em risco, Emiliano diz que o maior objetivo da pesquisa é educar. “Trabalhamos com a Braskem baseados em critérios de seriedade e por ela ser uma empresa idônea. Não sei o que eles vão fazer com os resultados, mas o estudo serve para promover a reflexão dos impactos que todos os tipos de sacolas têm”, afirma.

Nos recusamos a comentar o último parágrafo. Pense no que o graziano disse e tente não rir.

Fonte – Revista Página 22 de 10 de agosto de 2011

Imagem – milliped

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