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A idade da solidão

Que o homem é a mais nobre das criaturas pode ser inferido do fato de que nenhuma outra jamais contestou essa pretensão, dizia, cinicamente, o filósofo e escritor alemão G.C. Lichtenberg.

Sozinho, no pódio do gênero humano, desde que os Neandertais se extingüiram há 35 mil anos, o Homo sapiens é a única espécie sobrevivente.

Os milênios que nos antecederam testemunharam a evolução da Vida sobre a Terra: há 700 milhões de anos, os primeiros animais; há 500 milhões de anos, os primeiros vertebrados; há 400, os anfíbios e insetos; há 250, os répteis; há 200, os mamíferos; há 150, os pássaros; há 35, os macacos; e há somente 4, os macacos que caminhavam em pé.

Nestes últimos 3 bilhões de anos, o planeta explodiu em diversidade de vida.

Talvez sejamos hoje cerca de 10 milhões de espécies vivas.


Contudo, muitas das que já respiraram este mesmo ar, não está mais entre nós. Extintas, só nos contam de sua existência quando dialogamos através de seus restos fósseis.

Mas, em 90 anos, o aquecimento global sumirá com 20% das espécies conhecidas. Nesta contabilidade macabra, não se somam espécies que desaparecerão em virtude do avanço humano sobre seus habitats, a crescente desertificação, a derrubada das matas, a redução dos mangues e corais. Tampouco considera-se que as espécies conhecidas não são todas as espécies que o mundo tem: um percentual não sabido está à margem dos 10 milhões de espécies, simplesmente por não ser sequer conhecido.

Estima-se que metade das espécies não verá as luzes do século vindouro. Uma verdadeira extinção em massa.

Desta feita, uma extinção deliberada. E provocada por aquela que se considera a mais nobre das criaturas.

Os séculos que antecederam a Idade dos Mamíferos (Era Cenozóica), aconteceram sob o signo do desabrochar de incontáveis espécies. O próximo século poderá ser o do empobrecimento biológico. Progressivamente só, a humanidade poderá viver a Idade da Solidão

A mais nobre das criaturas poderá estar sozinha, dentro de um mundo vazio.

Em um mundo pobre em vida, a vida humana (que já se apropria de 40% do que é vivo sobre a Terra) não sobrevive.

O homem preocupa-se demais consigo mesmo, mas a natureza não tem preocupação nenhuma com o homem.

Apesar de nós, quando tivermos passado, ela continuará acontecendo.

Para quem sabe disso, os sábios versos de Fernando Pessoa:

É preciso não saber o que são flores e pedras e rios
Para falar dos sentimentos deles.
Falar da alma das pedras, das flores, dos rios,
É falar de si próprio e dos seus falsos pensamentos.
Graças a Deus que as pedras são só pedras,
E que os rios não são senão rios,
E que as flores são apenas flores.

Há um outro caminho: parar de considerar-se a espécie eleita, passando a viver em paz profunda com quem habita o planeta conosco.

É a única chance.

Só temos uma bala na agulha. Com ela, extingüamos nosso orgulho idiota. (Recado do Cheida)

 

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