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A Ilha de Plástico do Pacífico pode ser a maior, mas também há plásticos no Atlântico

Um novo sistema vai, daqui a menos de um mês, tentar capturar o lixo da Ilha de Lixo do Pacífico. Quer funcione, quer não, o problema dos plásticos existe em todos os oceanos e até em Portugal há evidências de que os peixes os consomem

Todos os oceanos têm lixo – maioritariamente, plástico. Segundo previsões do Fórum Económico Mundial, se não repensarmos o uso e a produção de plástico, é possível que, até 2050, haja mais plástico do que peixes no mar. É no oceano Pacífico Norte que este problema assume contornos mais preocupantes: lá existe a maior ilha de lixo flutuante, conhecida como a Grande Mancha de Lixo do Pacífico. Os cientistas estimam que tenha cerca de 1,6 milhões de quilómetros quadrados: no seu interior, caberiam mais de 17 conjuntos de Portugal continental e ilhas. Mais curioso ainda é que, recentemente, em março deste ano, um grupo de cientistas chegou à conclusão de que a ilha está a acumular lixo de forma muito rápida, expandindo-se cada vez mais. Num artigo publicado na revista científica Scientific Reports, os investigadores concluem que a ilha tem, hoje, cerca de 80 mil toneladas de resíduos.Mais do que prejudicar o ambiente e poluir as águas, os plásticos são ingeridos pelas espécies marinhas que, por sua vez, são expostas à sua toxicidade e acabam por nos chegar ao prato. Preocupado com a gravidade da situação, o holandês Boyan Slat, de 24 anos, decidiu aplicar os seus conhecimentos e fortuna para encontrar uma solução para um problema que, de forma mais ou menos direta, nos afeta a todos. Por isso, criou em 2013 a fundação The Ocean Cleanup e inventou um sistema que pretende extrair os plásticos dos oceanos. E, apesar das vozes críticas de muitos especialistas, que acreditam que a suposta solução irá criar outros problemas, Slat não recuou e a data e o local para iniciar o sistema já estão marcados: será a 8 de setembro, precisamente na ilha do Pacífico.

Mas quais são as bases deste sistema? A ideia de Boyan Slat passa por ‘encurralar’ o plástico, utilizando barreiras flutuantes de 600 metros de comprimento e telas em nylon com três metros de profundidade presas às barreiras para impedir que os plásticos mais pequenos, e que não estão à superfície, escapem à armadilha – todos, menos os micro plásticos, que não é possível capturar. Depois, os ventos, as ondas e as correntes, que transportam o lixo, encaminham-no naturalmente para a barreira. Consegue-se, assim, concentrar o lixo no interior da barreira – cujas telas são mais compridas no centro do que nas extremidades, obrigando a barreira a adotar uma forma em “u”, capturando o lixo –, para depois ser retirado por barcos e trazido para terra para reciclar. O sistema, assegura o criador, não vai prejudicar os peixes, que conseguirão em segurança passar por baixo das telas em nylon.

Se funcionará ou não, só o tempo o dirá, mas as previsões de Boyan Slat e da sua equipa são ambiciosas e animadoras:  estimam que o sistema consiga vir a limpar 50% da Grande Mancha de Lixo do Pacífico a cada cinco anos.

O plástico no Atlântico

O Pacífico pode ser longe, mas o flagelo do plástico também se vive no oceano que banha a costa portuguesa. Nuno Mota faz pesca submarina há 25 anos e, há cerca de um mês, teve uma surpresa.

“Pesquei um robalo com 2,6 quilos na zona da Consolação/Peniche e, ao arranjar o peixe, encontrei dois pedaços de plástico”, contou ao i. “O alarmante deste caso é ser um peixe capturado aqui à nossa ‘porta’ e tratar-se de uma espécie com um enorme valor comercial”, defende Nuno Mota, associado da Oceanos Sem Plásticos – associação que expôs o caso nas redes sociais.

Em Portugal, a academia já estuda o problema dos plásticos na costa portuguesa, mas ainda há muito para investigar. Quem o diz é Paula Sobral, investigadora do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente e professora da Universidade Nova de Lisboa, que tem vindo a participar em vários estudos que analisam a presença de micro plásticos nos peixes da costa portuguesa. “Os micro plásticos são partículas inferiores a cinco milímetros e existem numa quantidade muito grande porque resultam da fragmentação de objetos maiores. O problema que se coloca é que muitos animais marinhos confundem essas partículas com alimento. E não são só os peixes, mas também outras espécies, como tartarugas, bivalves ou até plâncton”, explica a investigadora. “Capturámos peixes na nossa costa e, quando fomos analisá-los, verificámos que de facto estão a consumir micro plásticos e fibras”, recorda.

Segundo Paula Sobral, “em todos os oceanos existe uma zona central em que as correntes acumulam no seu interior – os chamados giros oceânicos – o plástico flutuante”. E por que é que a maior ilha de lixo se localiza no Pacífico? “Deve-se ao facto de a costa asiática praticamente não ter gestão de resíduos”, acredita a investigadora. Por outro lado, “os países localizados no Atlântico Norte têm uma gestão de resíduos mais ou menos eficiente e o lixo que entra no mar é muito menor”. Ainda assim, Paula Sobral deixa o aviso: “Os oceanos não têm fronteiras, não quer dizer que o lixo que existe no Pacífico não possa vir para o Atlântico eventualmente”.

Fonte – Beatriz Dias coelho, Jornal i de 12 de agosto de 2018

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