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Adeus, princesa

por benchilada 

O golfinho branco do rio Yang-Tsé, oeste da China, é chamado Baiji.

Esta semana, ele foi declarado oficialmente extinto.

A poluição, a pesca predatória e as usinas hidrelétricas selaram a tragédia que se abateu sobre esta maravilhosa espécie de mamífero, que se foi para sempre, diante de nossos olhos.

Há milhares de anos, Baiji era uma linda princesa que se recusou casar com seu pretendente. Diante de tal desonra, seu próprio pai a afogou nas águas do rio mais longo da China. Desde então, piedosamente transformada pelos deuses, a princesa ondula sob as águas, livre e graciosa, como caminhasse entre as nuvens do céu.

Esta é a verdade.

Entretanto, a Ciência insiste dizer que o Lipotes vexillifer habita o Yang-Tsé desde há 25 mil anos. Tímido e quase cego, mas com poderoso senso de direção, através de seus radares biológicos, nos últimos anos transformou-se em um verdadeiro fóssil vivo. Menos de 400 deles habitavam o rio, em 1980. Dezessete anos mais tarde, apenas 13 sobreviviam. Em 2004, um pescador disse ter avistado um exemplar. Nos anos seguintes, nenhum deles jamais foi visto.

Assim foi a agonia de seus últimos instantes geológicos.

Como diz, sobre o boto, o poeta Humberto de Campos:

Eis uma alma penada: é a triste embiara*

de um pajé poderoso e vingativo,

que a um mísero cabloco condenara

a morar dentro d´água enquanto vivo.

Extinto, o Baiji não cabe mais neste poema. Nem mais entre nós.

Em verdade, ele agora caminha mesmo lá no céu. Cá na terra, arrasta-se o homem, algoz triunfante, distraído e egoísta, embalado em sonhos de progresso.

Até quando? Nem ele mesmo o sabe.

Adeus, princesa!

Adeus, para sempre!

* embiara: presa.

Luiz Eduardo Cheida

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