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Com calor? Você não está só!

O meme é de 2015, mas ainda se aplica ao Rio de Janeiro no verão insuportável de 2019

Capitais do Centro-Sul registraram em janeiro temperaturas até 9ºC mais altas que a média histórica para o mês; Florianópolis bateu recorde absoluto, segundo Inmet, e Rio teve seu pior janeiro

O engenheiro agrônomo Felipe Dias não sai mais de dentro do ar-condicionado. A arquiteta Elisa Maria Soares mudou sua rotina e passou a acordar mais cedo para não precisar ir para a rua depois das 8h30 da manhã. Os dois moram em Campo Grande, capital que teve temperaturas até 7,2oC maiores que a média histórica para o mês no infernal janeiro de 2019.

“Vou para a rua às vezes com sono para fazer tudo cedo. À tarde quero estar abrigada e no ar-condicionado”, diz Soares. “A gente acorda sem perceber que houve um período sem sol para dissipar o calor”, afirma Dias. Os termômetros chegaram a bater 37,9oC na cidade – em pleno mês de chuvas. A máxima média registrada no mês foi 1,6oC maior do que ao esperado para janeiro.

Os curitibanos, acostumados com o frio, viram o termômetro atingir um pico 8,1oC mais alto que a média das temperaturas máximas esperadas para o mês. Ao longo de janeiro, a capital paranaense esteve 3,4oC mais quente que a média histórica de janeiro.

Por todo o Centro-Sul do país, o primeiro mês do ano teve temperaturas extremas e pouca chuva. Um levantamento feito pelo meteorologista Francisco de Assis Diniz, diretor do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), mostra que os termômetros em 12 capitais tiveram altas significativas em relação às máximas históricas para o mês.

A medição compara três parâmetros: a máxima média mensal (ou seja, a média de todas as temperaturas medidas no momento mais quente do dia todos os dias daquele mês), o valor máximo mensal (o dia mais quente do mês) e a máxima média climatológica, ou seja, a média de todas as temperaturas máximas do mês na série que vai de 1981 a 2010.

Florianópolis teve a maior temperatura máxima já medida, 40oC, no dia 3. O recorde anterior, 38,2oC, havia sido batido em 1997. Porto Alegre chegou a 38,5oC no dia 2.

Brasília, que encara seu terceiro janeiro mais seco de todos os tempos (atrás de 1972 e 1999), teve máximas médias de 28,6oC, que superam em 2,1oC a média histórica. A capital registrou um pico de 31,4oC num mês normalmente fresco, 4,9oC acima do esperado para janeiro. São Paulo, que teve máximas médias de 31,8oC, viu seu segundo janeiro mais quente em 76 anos – perdendo do recordista 2014 por um décimo de grau. O dia mais quente do mês na capital paulista registrou 35,1oC, mais de 6oC acima da máxima esperada para janeiro.

Os cariocas, acostumados com escaldantes, tiveram seu janeiro mais quente desde o início das medições, com 37,4oC de máxima média mensal (5,9oC acima do esperado para o mês) e pico de 40,4oC, o mais alto dentre as capitais analisadas. Foi uma quentura quase 9oC maior que a média histórica já acachapante do mês de janeiro (mas ainda longe dos alucinantes 43,1ºC medidos em 14 de janeiro de 1984 em Bangu). Como não resta nada senão dar risada a memesfera vem chamando a cidade de “Hell de Janeiro”.

O verão de 2019 está sendo muito mais quente que o de 2014, marcado pela crise hídrica, e quase tão seco quanto. Segundo Marcelo Seluchi, climatologista do Cemaden (Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), a causa do calor e da falta de chuvas é um sistema de alta pressão sobre o centro-leste do Brasil. Ele deixa o ar mais seco, denso e estável, impedindo a formação de chuvas.

É o que os climatologistas chamam de “bloqueio atmosférico”, uma condição que normalmente dura cerca de dez ou 12 dias, mas que em 2014 alongou-se por um mês e meio. O El Niño deste ano é considerado fraco e, segundo José Marengo, também do Cemaden, provavelmente tem pouca influência sobre as temperaturas do Sudeste.

Há três grandes bloqueios desse tipo operando atualmente no hemisfério Sul, e um deles tem feito as temperaturas na Austrália beirarem os 50oC – para os cariocas pararem de reclamar. Suas origens podem estar relacionadas a variações na cobertura de gelo marinho na Antártida ou a mudanças de circulação no oeste do Pacífico Tropical. Embora seja difícil atribuir fenômenos isolados ao aquecimento global, os climatólogos são unânimes em apontar que, à medida que a Terra esquenta, os extremos sazonais nos dois hemisférios também aumentam – e quem duvida pode olhar para o Meio-Oeste dos Estados Unidos, castigado por uma onda de frio recorde.

Elisa Soares, a arquiteta sul-matogrossense, sente isso na pele: ela afirma que o calor está mais quente, por assim dizer, mas que o frio em Campo Grande também está mais frio. “O aquecimento global é um fato e já foi estudado. Aqui em Campo Grande isso é muito perceptível.”

Fonte – Observatório do Clima de 01 de fevereiro de 2019

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