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Fundo de US$ 35,9 mi é aplicado no Brasil para eliminar gases estufa

Spray (Foto: Wikimedia Commons)

Provenientes de agências da ONU e da Alemanha, os recursos são usados para ajudar a indústria brasileira a substituir os HCFCs, estipulando metas de erradicação até 2040

Desde o início das discussões sobre o impacto do homem no clima do planeta, o Protocolo de Montreal, assinado em 1987 no Canadá, é o que tem apresentado um dos melhores resultados práticos. Além de ter sido ratificado por 197 países, esse consenso impulsionou ações de eliminação dos mais danosos gases contra a camada de ozônio, os CFCs (clorofluorcarbonos), que eram usados não apenas na indústria de refrigeração, mas até em desodorantes.

Uma vez na superfície, o cloro integrante desses gases reage com o ozônio (O3) abrindo buracos na atmosfera, liberando a entrada de raios ultravioleta do tipo B (UV-B). Sem essa proteção, esses raios podem provocar câncer de pele e reduzir a produção de fitoplâncton, afetando a alimentação de animais aquáticos.

Mas, ao eliminar o CFC, a indústria buscou como alternativa os hidroclorofluorcarbonos (HCFCs) na década de 1990, cujo impacto na camada de ozônio é menor, mas ainda sim são capazes de acelerar o aquecimento global. Para incentivar a eliminação dos HCFCs, o Protocolo de Montreal criou um fundo multilateral para investir em unidades fabris de países emergentes. Em 2015, o Brasil cumpriu a primeira etapa, com redução do uso desses gases pela indústria nacional, recebendo um aporte de US$ 19,5 milhões. A meta era de 16,6%, mas o país conseguiu uma queda de 36,9%.

Em 2016, outros US$ 35,9 milhões foram investidos no país pelo fundo multilateral, a fundo perdido, para reduzir o uso do HCFCs em 51,6% até 2023. Desse valor, US$ 9,9 milhões já estão em execução de projetos. A expectativa é que em 2040 a indústria tenha substituído completamente esse gás de seu processo produtivo.

“Quando os HCFCs começaram a ser usados, sabia-se que deveriam ser eliminados em algum momento. E estamos nesse momento”, explica Gabriela Lira, analista ambiental do Ministério do Meio Ambiente e integrante da equipe da Coordenação Geral de Proteção da Camada de Ozônio e na equipe de implementação de projetos do Protocolo de Montreal no Brasil.

Aplicação

O trabalho é realizado em parceria com o Ibama e organizações governamentais mundiais e estrangeiras. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) atua em parceria com o governo brasileiro para erradicar o HCFC do setor industrial de espumas. Esse material é usado no estado líquido, inflado para formar espumas industriais ou utilizadas em produtos. Dos recursos totais da segunda etapa, 42% são provenientes dessa agência.

Em substituição ao HCFC, estão sendo utilizados metilal, formiato de metila, hidrocarbonetos como pentano e o dióxido de carbono. “Existem muitas substâncias, considerando que não vão causar outros problemas ambientais ou provocar efeito estufa”, diz Lira.

A Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido, na sigla em inglês) está investindo 31,2% do total do fundo multilateral dedicado ao Brasil para implementar no país a mudança do HCFC na indústria de refrigeração e ar-condicionado.

Equipamentos de ar-condicionado (Foto: Pixabay)

Equipamentos de ar-condicionado (Foto: Pixabay)

A empresa Eletrofrio, de Curitiba, que fabrica grandes balcões refrigerados nos quais produtos de supermercados são acondicionados, foi a primeira empresa beneficiada. A companhia recebeu US$ 400 mil para desenvolver uma nova tecnologia de refrigeração, que será colocada em funcionamento para o público, pela primeira vez, no dia 15 de dezembro, em uma loja da Rede Condor na capital paranaense.

A Plotter Racks, outra companhia do mesmo setor em Curitiba, vai receber o mesmo investimento nos próximos meses. As empresas e os supermercados são escolhidos pelo Ministério do Meio Ambiente. Por receber os recursos, essas empresas são obrigadas a tornar a tecnologia pública e acessível não apenas aos concorrentes nacionais, mas para toda a comunidade internacional. “Há 42 empresas listadas com potencial para serem beneficiadas pelo programa. Começamos pela refrigeração e, no próximo ano, terá início o setor de ar-condicionado”, explica Sérgia Oliveira, gerente de projetos da Unido no Brasil.

Rogério Marson, gerente de engenharia da Eletrofrio, explica que o material escolhido para substituir o HCFC foi o propano, elemento químico que já era utilizado nos primórdios da refrigeração no século 19. Mas, pelo fato de ser altamente inflamável, foi substituído pelos CFCs na década de 1940. Por isso, há um extremo cuidado para desenvolver uma tecnologia que evite o vazamento do produto não apenas na linha de montagem, mas quando o balcão refrigerado estiver ativo no supermercado.

“O produto que estamos produzindo tem que ser tão bem pensado e mais elaborado que a nossa linha de envase”, diz Marson, explicando que há sistema de detecção automática de vazamentos na máquina. “Segurança é o tópico número um de qualquer projeto que se trabalha com produto inflamável.”

E, para garantir a segurança da manutenção desses equipamentos quando estiverem em atividade em supermercados e lojas, o Ministério do Meio Ambiente tem parceria com a agência de cooperação alemã Giz, responsável pelo aporte de 21% dos recursos totais da parte do fundo multilateral aplicado ao Brasil nesta segunda fase. Em parceria com o Senai, essa agência e o governo brasileiro buscam capacitar os técnicos para ficarem alertas com os riscos de se utilizar o propano em sistemas de refrigeração e ar-condicionado. “É um setor muito informal, muita gente trabalha sem ter conhecimento das práticas corretas”, diz Lira.

Oliveira, da Unido, avalia que o Brasil está colaborando nesse processo, que é muito ativo na Europa. Ela cita, por exemplo, o caso da Fricon, indústria de refrigeração para médias e pequenas empresas. A empresa, com sede em Pernambuco, fez a sua conversão em 2012, muito antes do início dos incentivos da entidade da ONU. “As empresas precisam se preparar porque, mais cedo ou mais tarde, serão obrigadas a fazê-lo.”

*A cobertura especial de GALILEU no relatório do clima conta com o apoio institucional de ClimaInfo.

Fonte – Roger Marzochi, Galileu de 06 de outubro de 2018

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