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Glifosato. Cientistas argentinos descobrem danos ao crescimento ovariano de crustáceos

Cientistas argentinos descobriram que tanto o glifosato como os herbicidas a base de glifosato afetam o crescimento ovariano dos crustáceos, durante novos estudos revisados por pares in vivo e in vitro sobre a espécie modelo: o caranguejo de estuário Neohelice granulata.

A reprodução de crustáceos é um processo complexo, que implica o crescimento ovariano em fêmeas adultas, durante o período crítico anterior à desova (denominado como período pré-reprodutivo). Durante este período, os ovócitos imaturos (pré-vitelogênicos) se desenvolvem em oócitos maduros (vitelogênicos), que acumulam uma grande quantidade de gema (por exemplo, lipoproteínas constitutivas do vitelo), que em parte se sintetiza pelos mesmos ovócitos. Além disso, este processo é regulado por vários hormônios, alguns secretados pelo sistema nervoso (por exemplo, neuro-hormônios) e outras por células endócrinas específicas, localizadas em vários tecidos, incluído o ovário.

O glifosato é atualmente um dos herbicidas mais utilizados em todo o mundo, especialmente nos países onde a agricultura representa um elemento importante na produção nacional de produtos básicos, como no caso da Argentina. Recentemente, os pesquisadores deste país caracterizaram vários efeitos do glifosato, puros e formulados, sobre o crescimento ovariano do caranguejo de estuário Neohelice granulata. Esta espécie de crustáceo foi amplamente estudada durante os últimos 30 anos, em relação a quase todos os seus aspectos biológicos. De fato, N. granulata foi considerada uma espécie modelo, representativa de uma grande quantidade de grupos de crustáceos.

Um dos ensaios realizados sobre o caranguejo N. granulata foi a exposição das fêmeas durante o inverno, ou seja, nos três meses do período pré-reprodutivo que o ovário necessita para amadurecer, antes da desova durante a primavera. Ao final do período de exposição, observou-se uma incidência significativa da reabsorção de ovócitos no ovário dessas fêmeas expostas à formulação de glifosato Roundup Ultramax, que tem uma concentração de glifosato (como o ingrediente ativo) de 0,2 mg/L, uma concentração que pode ser encontrada no meio ambiente.

Além disso, o conteúdo diminuído de vitelogenina por grama de ovário também foi encontrado nas mesmas fêmeas. Este último efeito também foi verificado in vitro, após incubar peças isoladas do ovário com a mesma formulação comercial e a mesma concentração utilizada in vivo. Por outra parte, por meio da avaliação da incorporação de um aminoácido radiomarcado às proteínas de ovário, é possível estabelecer, em comparação com um grupo de controle, que uma inibição parcial da síntese de proteínas foi a responsável pela diminuição do conteúdo de vitelogenina observado tanto in vivo como in vitro.

O glifosato, como ingrediente ativo das formulações comerciais, é responsável pelos efeitos nocivos?

Em ensaios adicionais, os pesquisadores buscaram elucidar a contribuição real do glifosato, em si mesmo, aos efeitos nocivos sobre o ovário dos caranguejos, causados pela formulação comercial ensaiada. A isto, um novo ensaio in vivo foi realizado durante todo o período pré-reprodutivo. Assim como se notou com a formulação comercial, observou-se uma incidência significativa de reabsorção de oócitos, mas com uma concentração mais alta (1 mg/l). Tomados em conjunto, os resultados obtidos tanto com o glifosato puro como com o formulado sugerem a existência de alguns efeitos sinérgicos entre o glifosato puro e os coadjuvantes apresentados na formulação comercial ensaiada.

O glifosato puro não reduziu o conteúdo de vitelogenina por grama de ovário, mas um novo efeito do herbicida aparentemente mascarado na formulação comercial, devido aos efeitos inibidores que esta formulação causou na síntese de vitelogenina, foi o aumento do tamanho dos pré-vitelogênicos imaturos, ovócitos, ao final do ensaio in vivo. Os dois efeitos causados pelo glifosato puro (reabsorção de oócitos e aumento do tamanho de ovócitos pré-vitelogênicos) também corroboraram, mediante ensaios in vitro, expondo pedaços de ovário isolados a uma concentração de glifosato de 0,2 mg/l. O aumento anormal no tamanho dos ovócitos imaturos foi consistente com um possível efeito disruptor endócrino causado pelo glifosato puro, provavelmente alterando a secreção e/ou o mecanismo de transdução de um ou mais hormônios que controlam o crescimento ovariano nos crustáceos. Esta hipótese está atualmente sob verificação.

Este estudo foi apoiado por subsídios do CONICET (PIP2015) e da Universidade de Buenos Aires (programa científico UBACYT 2016).

Os autores do trabalho são os pesquisadores Luciana Avigliano, Ivana S. Canosa, Daniel A. Medesani e Enrique M. Rodríguez, pertencem ao Departamento de Biodiversidade e Biologia Experimental, FCEN, Universidade de Buenos Aires. Instituto de Biodiversidade, Biologia Experimental e Aplicada(IBBEA), CONICET-UBA. Cidade Universitária de Buenos Aires, Argentina.

Fontes – Graciela Vizcay Gomez, America Latina en Movimiento (ALAI) / tradução Cepat / IHU de 11 Fevereiro 2018

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