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Não jogue no lixo a história do lixo

Você já deve ter ouvido falar “somente se conhecermos nossa história, poderemos construir nosso futuro”. Esta é uma verdade incontestável.

Resíduo hoje é um tema importantíssimo seja para saúde pública, seja para o meio ambiente, seja para a economia. Mas como saber se as decisões que tomamos hoje são as melhores? Somente conhecendo o passado saberemos se estamos avançando ou retrocedendo.

No Brasil, a Política Nacional de Resíduos prevê que a cada quadriênio, os planos de gestão pública de resíduos devem ser atualizados. O plano é condição para que o poder público municipal possa receber verbas federais para o saneamento.

Nestes planos se discutem tecnologias, formas de tratamento e destinação de resíduos, formas de coleta, se pública ou privada, se através de caminhões ou sistemas de canalização a vácuo, coleta seletiva, obrigações para grandes e pequenos geradores, formas de separação de resíduos, formas de cobrança pelo serviço entre tantas outras questões.

Mas como saber se o poder público está apresentando a melhor solução? Somente conhecendo a história das experiências realizadas com o lixo para saber o que é melhor para sua comunidade. Muitos dos erros de hoje são frutos do desconhecimento do passado. Muito discurso de hoje, dito moderno é um arremedo do que já falhou no passado… mas se você não conhece a história, pode ser enganado. Se você não conhece o que está acontecendo pelo mundo, também pode ser uma presa fácil para discursos vazios… estamos em plena quarta revolução industrial e falamos em economia circular, mas, você sabe disto?

Você, por exemplo, pode fazer parte do grupo de pessoas que acreditam que a ideia de separar o lixo é uma coisa moderna… mas se eu te contar que em Paris do sec. XVIII, precisamente em 1767, antes da revolução francesa, esta ideia já foi implementada, você se assustaria?

E aí, ela deu certo? Deu errado? Onde falhou? Porque somente quase 100 anos depois foi feito o mesmo experimento em Nova York de 1869?

Este é um exemplo, mas podemos falar sobre diversos outros.

Talvez você faça parte do grupo que nem desconfia que a moderna tecnologia do aterro foi usada, com a exceção da geomembrana, em Israel antes do nascimento de Cristo! Ah e não custa lembrar, Israel não usou geomembrana porque o plástico totalmente sintético e comercialmente viável foi criado em 1907 pelo químico belga, naturalizado americano, Leo Baekeland…

Voltando ao nosso aterro, o seu uso em forma de taludes, com cotas e estratificações, se deu primeiro em Israel… O último aterro israelense foi descoberto em 2013 no vale de Nahal Kidron, próximo a Jerusalém com uma cota de 70 metros de altura e se estima que teve uma vida útil de 70 anos, que remonta ao sec. I a.C.!

Hoje é do senso comum que o lixo é uma questão de saúde pública… Mas será que sempre foi assim?

Para ser franco, a primeira vez que o problema de doenças foi oficialmente vinculado com o lixo foi em 1842, quando o advogado inglês Edwin Chadwick fez um relatório demonstrando a relação direta entre as doenças sofridas pelos trabalhadores da Grã-Bretanha e a sujeira… Ele apontou expressamente a insalubridade das habitações, as imundícies do meio ambiente, a falta de coleta de lixo, a falta de esgotamento sanitário e de água potável… Naquela época um trabalhador em Manchester tinha uma expectativa de vida de 25 anos…

Antes de Chadwick não se identificava o lixo como vetor de doenças, somente o odor que exalava era visto como problema… Era a tal teoria do miasma…

Saber a história dos resíduos e conhecer o atual estágio do tema vai te habilitar a discutir com profundidade esta questão e deixar de ser levado por conversas vazias. Assim, não jogue a história no lixo antes estude a história do lixo!

Rogel Martins Barbosa é advogado, escritor, professor do curso História dos Resíduos.

Fonte – GMC Online de 04 de setembro de 2018

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