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O que fazer com as sacolas?

 

Revista do varejo de janeiro de 2008

por Andréa da Luz

Como reduzir o impacto ambiental das embalagens de plástico no comércio? Entre testes de novos materiais e a volta do hábito de reutilizar sacolas, confira algumas das soluções encontradas pelos varejistas

O descarte inadequado, o baixo índice de reciclagem, o entupimento de redes pluviais e o longo tempo para decomposição das sacolas plásticas (cerca de 100 anos) estão forçando o consumidor a repensar costumes e o comércio a estudar alternativas de embalagens menos agressivas ao ambiente. A preocupação ambiental traz de volta o velho hábito de fazer compras levando uma sacola própria, ao mesmo tempo em que se pesquisam novos materiais como o tecido não-tecido (TNT), o bioplástico e o plástico oxibiodegradável, em designs inteligentes e em bolsas reutilizáveis.

Entre as diversas alternativas encontradas pelo varejo, a panificadora e confeitaria paulistana Pão do Parque lançou uma campanha pelo uso das sacolas reutilizáveis de TNT no começo de 2007. A sacola custa R$ 2 e a renda é repassada a uma ONG que cuida da preservação de mamíferos aquáticos ameaçados de extinção. *Explicamos que queríamos resgatar o antigo costume de usar essas sacolas para sensibilizar as pessoas a cuidarem do ambiente*, diz a sócia-gerente Fabiana Casselhas. Ela lembra que, no começo, as pessoas compravam as sacolas mas esqueciam de trazer quando voltavam à padaria. *Muitos achavam que queríamos economizar na compra de sacolas plásticas*, conta Fabiana. O treinamento dos atendentes ajudou a multiplicar a idéia e esclarecer o objetivo da ação. Mais de mil unidades foram vendidas e, em breve, haverá mais um modelo à disposição. *Assim atingimos dois tipos de clientes: os que querem abraçar a causa e os que querem fazer isso sem perder o estilo*, afirma.

Outra solução simples e eficiente é a Bag Market, sacola organizadora reutilizável e reciclável que se encaixa dentro dos carrinhos de supermercados. O produto é uma criação da empresa paulista Gatto de Rua, que antes de entrar nesse mercado atuava no ramo de confecções de moda. A idéia partiu da sócia e diretora comercial da empresa, Elaine Guapo. Irritada com a falta de uma bolsa prática e eficiente para fazer compras, ela reuniu a equipe de criação para fazer o design das peças.

Foram quatro anos de trabalho para desenvolver e aperfeiçoar um protótipo. Depois, mais dois meses de pesquisas para achar o material adequado: a fibra de polipropileno retornável de 80g, um TNT lavável, originado do plástico, leve e de uso sustentável. A intenção não é acabar com a sacola plástica, mas oferecer às pessoas uma oportunidade de ajudar na preservação ambiental. *O grande apelo ecológico de nosso produto é que, após o tempo médio de uso de cinco anos, pode-se descartá-lo na coleta reciclável de lixo*, explica o sócio-diretor Mário Gaspar.

Lançada em março de 2007 em São Paulo durante a feira da Associação Paulista de Supermercados (Apas), a bolsa fez tanto sucesso que se transformou no carro-chefe da empresa. A produção atual é de 12 mil peças mensais, mas a meta é ampliar para 18 mil a 20 mil sacolas em 2008 e atingir a capacidade total de 48 mil unidades/mês em cinco anos. Os sócios negociam com um grande canal de varejo a distribuição para todo o País, divulgam o artigo em feiras do setor e desenvolvem outras peças para carrinhos e cestas de farmácias, empórios e lojas. *Não vimos ainda no mercado um produto tão completo e que satisfaça tanto o cliente quanto a Bag Market*, afirma Gaspar.

Disponível em dois tamanhos, com capacidade para 130 litros e 210 litros, possui três divisórias permitindo a separação entre perecíveis e não-perecíveis, e ainda pode se transformar em três bolsas separadas. O preço é de R$ 60 e R$ 80, respectivamente, para as sacolas média e grande. Consumidores também podem adquiri-las arcando com o custo do envio por Sedex. Em novembro, 350 unidades foram vendidas em uma campanha promocional da Coppertone na loja Brooklin do Carrefour, em São Paulo.

Reduzir, reutilizar e reciclar

O foco da rede francesa de supermercados, no entanto, é nos três Rs: reduzir, reutilizar, reciclar. O Carrefour quer chamar a atenção do consumidor para o uso racional ensinando a reutilizar e descartar de maneira correta para reciclagem. A empresa realiza um projeto piloto na loja de Pamplona, em São Paulo, com sacolas de polipropileno que custam entre R$ 2 e R$ 3. Com capacidade para 35 quilos, 5 mil unidades foram importadas da França. De acordo com a gerente de Sustentabilidade da empresa, Karina Chaves, o primeiro momento é de conscientização. *Apenas repassamos ao consumidor o custo das embalagens, pois queremos estimular o novo hábito*, diz. E, para entender melhor o comportamento dos clientes e seus hábitos de compra, a empresa realiza uma pesquisa naquela unidade. *O estudo acontece junto com o projeto das sacolas e visa avaliar se e onde existe a demanda por embalagens diferenciadas*, explica Karina.

Simultaneamente, a rede já oferece caixas de papelão para acondicionar compras maiores, que não cabem nas bolsas de polipropileno. A empresa também estimula os fornecedores a estudarem alternativas à utilização do plástico. Outra opção é utilizar menos sacolas no supermercado. Uma unidade agüenta até seis quilos de produtos, então não é preciso usar duas para carregar um pacote de arroz.

Sucesso de público

Em Florianópolis, o Hippo Supermercados lançou o projeto piloto da sacola reutilizável 100% algodão em julho passado, com divulgação em banners e panfletos e treinamento na frente de caixa. A primeira remessa, de 300 unidades, se esgotou em uma semana. *Encomendamos mais 300 e a procura também foi maior do que a oferta, o que nos deixou felizes porque o principal objetivo é estimular a reutilização, mesmo que as sacolas não sejam da nossa empresa*, diz a assessora de marketing Márcia Regina Bonett. A bolsa é vendida por R$ 9 e quem a adquire ganha um quilo de adubo orgânico. Cerca de 2 mil unidades já foram comercializadas. *Isso é só o começo, pois acreditamos que a empresa que não estiver protegendo o ambiente não terá como existir no futuro*, avalia Márcia.

Segundo ela, o objetivo é ampliar a participação do consumidor nas ações ambientais da empresa. Com um público focado principalmente nas classes A e B, o supermercado tem a vantagem de contar com a fácil adesão da clientela ao conceito de proteção ambiental. *Já tínhamos uma cliente que vinha ao supermercado com as próprias sacolas e não pegava novas no caixa. Outros traziam sacolas reutilizáveis de viagens feitas a países da Europa*, conta a assessora. A idéia do projeto, portanto, é reduzir a quantidade de lixo que se leva para casa. A empresa utiliza ainda modelos oxibiodegradáveis certificados (um aditivo é acrescentado ao plástico convencional permitindo a desintegração das sacolas em contato com o oxigênio, luz e calor) que levam de um ano e meio a dois anos para serem decompostos em partículas menores, invisíveis a olho nu, na natureza.

Essa alternativa também foi adotada em julho pela rede Sesi Farmácias em Santa Catarina, com 83 lojas no Estado. A empresa está substituindo as sacolas pequenas, de maior uso, pelo novo plástico mesmo com a polêmica criada em torno do material. Isso porque vários segmentos discutem a contaminação do ambiente pelas partículas que se originam dos oxibiodegradáveis, o que não está provado cientificamente. Segundo o superintendente Sérgio Gargioni, caso os danos sejam confirmados, a continuidade do uso poderá ser reavaliada. A rede incentiva também o uso de sacolas de tecido 100% algodão que podem ser compradas por R$ 5 ou trocadas por pontos acumulados no Cartão Fidelidade.

Discussões à vista

A questão das embalagens no comércio vai além da mera eliminação das sacolas comuns. É preciso levar em conta a infra-estrutura, os hábitos comportamentais brasileiros e as conseqüências do uso das alternativas disponíveis. Por isso, ainda deve haver muita controvérsia sobre o assunto. De acordo com a pesquisadora do Departamento de Tecnologia de Polímeros da Unicamp, Lúcia Mei, que conduz estudos sobre o material no Brasil, pesquisas feitas na Itália, Inglaterra e EUA mostraram que microorganismos atacam os plásticos oxibiodegradáveis, o que seria um indício de que eles são biodegradáveis após sofrerem a desintegração por exposição ao tempo.

De acordo com a pesquisadora, é preciso fazer mais ensaios científicos para comprovar que isso de fato ocorre. *Prefiro coletar mais dados antes de dizer que é seguro usar esse tipo de embalagem. Em viagem recente à China e Japão, no entanto, percebi que os oxibiodegradáveis estão sendo muito utilizados*, afirma. As sacolas comuns podem ser recicladas várias vezes, quando corretamente descartadas e não contaminadas com o lixo. Quando isso acontece, o custo da limpeza antes da reciclagem inviabiliza o processo e elas vão para os aterros. *As oxibiodegradáveis podem ser recicladas ou compostadas. Na Europa, por exemplo, onde há falta de espaço para aterros, é feita a compostagem, enquanto no Brasil a possibilidade ainda está sendo estudada para os plásticos em geral*, diz Mei.

O governador do Estado de São Paulo, José Serra, é contra o uso do material e vetou recentemente um projeto de lei que obriga a troca do plástico-filme pelo oxibiodegradável no comércio. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente realizou em dezembro, na capital e no interior do estado, um mutirão de conscientização sobre o problema causado pelo uso de sacolas plásticas e estimulou o uso de sacolas de pano.

Já a ONG FUNVERDE defende a embalagem oxibiodegradável. *Com a opção aditivada, o produto ficará no máximo 18 meses no ambiente, causando menor dano do que as sacolas tradicionais. Por isso, a população deve cobrar dos comerciantes o uso de sacolas com ciclo de vida curta, evitando aumentar o rastro de poluição que deixaremos para as gerações futuras*, diz o presidente Cláudio José Jorge. Para a organização, o custo das embalagens (independente do tipo) sempre é repassado ao consumidor; então o mais importante é levar em conta o custo dos danos ambientais causado pelo descarte incorreto das sacolas plásticas convencionais, somado ao uso de dinheiro público para limpeza de áreas poluídas com esses objetos, como rios e ruas. *Este custo é enorme e afeta todos e o planeta*, diz.

O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumo Honda, afirma que os supermercados estão procurando soluções para cooperar com a não-agressão ao ambiente. Segundo ele, Condor e Muffato, do Paraná, e Modelo, de Mato Grosso, já aderiram às sacolas com plástico oxibio. Outros adotam as reutilizáveis ou trabalham com a conscientização dos clientes. Mas o presidente admite que é preciso saber mais sobre a ação dos oxibiodegradáveis. Por isso, o setor começa a discutir e a trabalhar em conjunto com o governo e a sociedade organizada, em busca de soluções mais efetivas para o problema.

Taxa polêmica

Em alguns países europeus, a solução afeta diretamente o bolso do consumidor, que paga para usar as sacolas de plástico-filme dos supermercados. Mas o modelo de taxação tem pouca chance de dar certo no Brasil. De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), Rogério Mani, é preciso analisar a situação socioeconômica e a infra-estrutura de cada país. *Se houver no Brasil uma taxa para sacolas plásticas, quem vai sofrer é o consumidor, pois a maioria da população faz compras a pé ou usando algum meio de transporte que não o automóvel*, aponta.

*Não podemos dizer que vamos eliminar totalmente o uso do plástico. Precisamos estimular seu uso racional e o descarte correto*, defende a gerente de Sustentabilidade do Carrefour, Karina Chaves. O presidente da Abief partilha da mesma opinião. *Não podemos considerar as sacolas plásticas como vilãs, pois o problema é o descarte incorreto. O caminho mais curto e eficiente para resolver essa situação é a reciclagem energética*, afirma Rogério Mani, ressaltando o fato de se tratar de “um dos produtos mais versáteis do mundo” e uma das poucas embalagens que suportam cerca de mil vezes seu próprio peso. *Há ainda o aspecto econômico do País, que faz com que a maior parte se transforme em sacos para acondicionamento de lixo.*

Justamente por essa condição é que o executivo não acredita na massificação das sacolas reutilizáveis. Para ele, a maior oferta continuará sendo de sacolas tradicionais, porém com melhor qualidade. Mani cita como exemplo o Programa da Qualidade de Sacolas Plásticas, que envolve 15 fabricantes e visa reduzir em até 30% o consumo de sacolas no varejo. “Com sacolas melhores, serão necessárias menos unidades para acomodar as compras”, afirma. O novo modelo mais reforçado foi lançado em dezembro pela Plastivida e pelo Instituto Nacional do Plástico (INP).

O que diz a indústria

Para Luciana Pellegrino, diretora executiva da Associação Brasileira de Embalagem (Abre), a discussão sobre as sacolas no comércio tem que ser mais profunda e cautelosa. *Conforme o desfecho do debate, a indústria atenderá a nova demanda, mas não dá para definir uma única solução e obrigar o mercado a atendê-la através de legislação*, opina. Ela alerta para a necessidade de fomentar o mercado de material reciclado para fortalecer a demanda – o que incentivará a indústria de reciclagem a reprocessar esse material – e incentivar o desenvolvimento de tecnologias que permitam o uso de materiais já reciclados na fabricação de embalagens.

Para dar suporte à indústria, entidades como o Centro de Tecnologia de Embalagem (Cetea) e a Plastivida estudam os efeitos da degradação das oxibiodegradáveis em solos e rios. Mas na opinião da diretora da Abre, a segurança das embalagens reutilizáveis também deve ser discutida. *Como transportam produtos químicos e de limpeza e depois alimentos (como verduras) sem proteção, pode haver contaminação. Que órgão vai se responsabilizar por isso?*, questiona.

A fabricante Nobelpack, que fornece sacolas de papel 100% reciclado pós-consumo ao varejo, já trilha o caminho das embalagens ecologicamente corretas. O produto é feito a partir da celulose resultante da reciclagem de embalagens longa-vida e de jornais e revistas. Com uma tonelada de papel reciclado, se produz em média 20 mil sacolas. Em 2007, 85% da matéria-prima utilizada veio de embalagens longa-vida recicladas, cujo reaproveitamento rendeu uma economia de 31,1 milhões de litros de água (equivalente ao consumo médio mensal de 5.200 pessoas), 343.900 kW de energia (consumo médio de cerca de 1.960 famílias/mês) e a preservação de 16.660 árvores reflorestadas.

De acordo com a gerente de marketing Cleonice Rodrigues Takeda, os varejistas buscam alternativas com apelo ambiental e benefícios sociais. Por isso, a empresa oferece várias opções como o plástico oxibiodegradável, o plástico reciclado pós-consumo, o papel 100% reciclado pós-consumo, além de desenvolver sacolas retornáveis em TNT e em ráfia. *A tendência é que todas as alternativas caminhem juntas e que o varejo teste várias em conjunto para ver o que será mais apropriado*, diz. *Os supermercados estão sendo considerados os grandes vilões por causa das sacolas plásticas, mas a troca envolve custos e mudança de cultura, o que leva tempo*, avalia Cleonice. Na opinião dela, o caminho é a conscientização, em especial do consumidor, de quem deve partir a exigência da troca das embalagens.

O plástico em números

  • Cerca de 66 milhões de sacolas plásticas são consumidas por mês no Estado de São Paulo e menos de um terço é reciclada. Calcula-se que das 12 mil toneladas de lixo doméstico produzidas por mês na cidade, 8,6% (ou mil toneladas) sejam de material plástico. (Fonte: O Estado de São Paulo, dados de setembro/2007)
  • 465,1 bilhões de unidades de sacos plásticos foram consumidas no mundo em 2007. (Fonte: RES Brasil, associada à Abief)
  • 20% do total de plástico é reciclado em média no Brasil, o equivalente a 200 mil toneladas por ano. Não há dados específicos sobre o plástico-filme. Sabe-se apenas que o material representa 29% do total de plásticos separados pelas cidades que fazem coleta seletiva.
  • 50% de energia pode ser economizada com o uso de plástico reciclado.
  • 3,2% das sacolas e sacos plásticos são reciclados nos EUA (28,8 mil toneladas por ano) e 2% das embalagens de produtos (30 mil toneladas). O plástico é altamente combustível, mas a reciclagem energética ainda não é praticada no Brasil.

Fonte: Cempre

This Post Has One Comment

  1. Boa Tarde !

    Estou precisando saber quanto tempo demora para decompor a sacola ambiental, no caso de tnt.

    Aguardos respostas…
    Grata pela atenção

    Hellen

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