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Quando o mar se afoga em um mar de plástico

How We Can Keep Plastics Out of Our Ocean | National Geographic

“Só no Mediterrâneo, cerca de um milhão de pássaros marinhos morrem a cada ano por consequências devidas à ingestão de plástico. O lixo marinho, e especialmente os resíduos de plástico, portanto, representam uma séria ameaça para o ecossistema marinho.”

A opinião é do biólogo marinho italiano Silvio Greco, professor da Universidade de Ciências Gastronômicas de Pollenzo, membro conselho diretivo da Sociedade Italiana de Biologia Marinha, delegado italiano da Comissão Internacional para o Estudo do Mediterrâneo e membro da Comissão Oceanográfica Internacional.

A cada ano, no mundo, são produzidas cerca de 300 milhões de toneladas de plástico. Destes, ao menos 8 milhões acabam no mar e recebem o nome de marine litter, literalmente lixo marinho.

A Universidade de Siena calculou que, nos mares italianos, há 250 mil fragmentos de microplásticos (partículas de dimensão inferior a 5 mm) por quilômetro quadrado e, por ironia do destino, por causa das correntes marinhas, a área mais comprometida é o Santuário dos Cetáceos, a área marinha protegida internacionalmente localizada entre a Ligúria, a Toscana e a França.

Esses resíduos de plástico alcançaram os ecossistemas marinhos, em 90% como resíduos flutuantes provenientes da terra, o resto como resíduos da mitilicultura e do tráfego marítimo, derramando-se, por fim, não só nas zonas costeiras, mas também cobrindo o fundo do mar e dispersando-se ao longo de toda a coluna de água sob a forma de minúsculos detritos de plástico.

Estima-se que 5,25 bilhões de partículas de plástico, de um peso total aproximado de cerca de 269 mil toneladas, estão localizadas na superfície de mares e oceanos. Para nos entendermos: atualmente, no mar, encontramos uma tonelada de plástico e três toneladas de peixes.

Essas partículas derivam de peletes industriais primários e abrasivos que são o resultado de processos da degradação de fragmentos maiores – graças à ação de agentes físicos, químicos e biológicos – e representam um risco emergente para os ecossistemas marinhos e para as relativas cadeias tróficas, incluindo o ser humano.

Muitas espécies marinhas, como, por exemplo, cetáceos, pássaros, tartarugas, peixes e invertebrados, podem facilmente ingerir os microplásticos que estão misturados ao zooplâncton durante a atividade predatória, ou deliberadamente, se o material for confundido com as presas naturais (por exemplo, a tartaruga que confunde um saco plástico com uma água-viva).

Só no Mediterrâneo, cerca de um milhão de pássaros marinhos morrem a cada ano por consequências devidas à ingestão de plástico. O lixo marinho, e especialmente os resíduos de plástico, portanto, representam uma séria ameaça para o ecossistema marinho, como recentemente salientado também pelo G7.

No Mediterrâneo, a presença e os efeitos do lixo marinho sobre os organismos marinhos e as suas consequências sobre a saúde humana foram pouco investigados até agora em comparação com outros ecossistemas marinhos (por exemplo, o Oceano Pacífico), embora os dados recentes demonstrem que o Mediterrâneo é um dos mares mais expostos do mundo a esse risco emergente.

Em particular, a pesquisa investiga os potenciais efeitos toxicológicos sobre espécies que vivem em diferentes compartimentos ecológicos e que ocupam diferentes níveis da cadeia trófica e, por fim, as consequências sobre o ser humano ligadas à ingestão de organismos marinhos tanto filtradores (por exemplo, mexilhões) quanto peixes e ainda em fase embrionária.

Para poder implementar as intervenções necessárias para reduzir os níveis de lixo marinho no Mediterrâneo e os consequentes efeitos sobre os organismos marinhos e as cadeias tróficas, é necessário, antes, compreender quais são os detritos de plástico que podem causar, além do aprisionamento mecânico, um relativo impacto agudo devido à sua ingestão; é preciso identificar as substâncias químicas provenientes dos plásticos (especialmente microplásticos) que mais se acumulam ao longo da cadeia alimentar e os relativos efeitos de tipo crônico sobre organismos.

Essas indicações são fundamentais para desenvolver uma política eficaz de mitigação e redução do problema dos detritos de plástico e microplástico na bacia mediterrânea.

Por isso, são necessárias investigações específicas para tentar esclarecer uma temática ainda em aberto em nível internacional: as consequências do lixo marinho e, especialmente, dos resíduos plásticos sobre a nossa dieta. O lixo marinho é também um dos descritores (Descritor 10) indicados na Estratégia Europeia para o Ambiente Marinho (Marine Strategy Framework Directive, MSFD), que visa a atingir e a manter um bom estado ambiental (Good Environmental Status, GES) dos mares europeus até 2020.

Fontes – jornal L’Unità / tradução de Moisés Sbardelotto, IHU de 24 de setembro de 2016

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