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Sucesso na proteção da Amazônia encobre destruição silenciosa do Cerrado

Desmatamento do Cerrado no estado do Tocantins aumentou 6,6 vezes em menos de uma década Foto: Ramon Felipe Bicudo da Silva, Michigan State University

Cientistas alertam que enquanto o desmatamento cai na floresta tropical, ele avança na savana brasileira

Nos últimos anos, programas de conservação conseguiram reduzir de forma significativa a destruição da Floresta Amazônica. O avanço da fronteira agrícola foi contido, levando a uma redução de 80% no desmatamento entre o início do ano 2000 e 2015. Contudo, a proteção da Amazônia está levando destruição para um bioma vizinho e menos renomado: o Cerrado.

Em artigo publicado na revista “Journal of Geographic Sciences“, pesquisadores da Universidade Estadual do Michigan alertam que no mesmo período em que a floresta tropical da Amazônia brasileira registrou redução no desmatamento, o avanço da agricultura e da pecuária provocou 6,6 vezes mais destruição de paisagens naturais no Tocantins, sem receber a devida atenção.

— Nós não estamos dizendo que a redução da destruição na Amazônia não mereça atenção — disse Yue Dou, coautor do levantamento. — Mas a atenção é devida para a grande destruição de outra área, que também tem biodiversidade significativa.

Conhecido como a savana brasileira, o Cerrado é caracterizado pelos campos cobertos por gramíneas e árvores de pequeno porte espaçadas. Cenário bem diferente das antigas e frondosas florestas amazônicas, que fascinam o mundo e são objeto grandes programas de conservação. Acordos da cadeia produtiva baniram a compra de soja plantada em terras amazônicas após 2006 e de gado criado em áreas devastadas na região após 2009.

Essas e outras medidas reduziram o desmatamento na região de 58.964 quilômetros quadrados para 28.524 quilômetros quadrados, afirmam os pesquisadores. Já no Cerrado, o avanço de fazendas de soja e de gado bovino, apenas no estado do Tocantins, elevou o desmatamento de 1.204 quilômetros quadrados para 7.943 quilômetros quadrados, entre 2007 e 2015.

Os cientistas destacam que as razões por trás desse fenômeno são complexas, o que torna difícil a compreensão de que o sucesso de programas de conservação numa região esteja contribuindo para a devastação de outra. A colonização, a construção de estradas e a falta de vigilância estão entre os motivos que abrem caminho para a destruição de matas nativas.

— O progresso da sustentabilidade deve ser genuíno e não podemos nos deixar cegar pelo sucesso em um único lugar, à custa de impactos invisíveis em outros — comentou Jianguo Liu, coautor do estudo.

Fonte – O Globo de 05 de outubro de 2018

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