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Transgênicos, uma coexistência impossível

Campanha por um Brasil livre de transgênicos de 30 de junho de 2007 

Pesquisa inglesa demonstra que a contaminação de culturas naturais pelo pólen de transgênicos pode ocorrer a taxas e distâncias muito maiores do que se pensava. É inevitável.

Porto Alegre, RS – Novas pesquisas desenvolvidas pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, demonstram que os campos experimentais conduzidos para determinar as distâncias mínimas que devem separar lavouras transgênicas de não transgênicas a fim de evitar a contaminação genética têm levado a resultados subestimados.

O estudo foi financiado pelo Conselho de Pesquisa em Ambiente Natural (NERC, em inglês) e publicado na revista Ecological Applications (1).

Os pesquisadores usaram dados sobre a velocidade e a direção dos ventos obtidos em estações climáticas em diferentes pontos da Europa para prever o movimento do pólen no ar. A análise dos dados monstrou que o pólen poderia contaminar campos vizinhos em taxas duas a três vezes maiores do que se pensava originalmente.

Os estudos mostraram que a polinização pelo vento em milho, canola, beterraba açucareira e arroz varia enormemente de acordo com a orientação relativa entre as lavouras transgênicas e não transgênicas, ou seja, em função de a lavoura transgênica estar localizada “vento acima” ou “vento abaixo” da lavoura não transgênica, considerando a direção predominante do vento no período de florescimento da cultura.

Além disso, para os mesmos locais e orientação relativa, as taxas de polinização cruzada podem variar significativamente de um ano para o outro.

Consequentemente, mesmo campos experimentais replicados podem estimar níveis de polinização de forma imprecisa e assim distorcer a percepção sobre as distâncias de separação necessárias para alcançar um determinado limite de contaminação por transgênicos.

O pólen vai muito longe

O estudo ainda revela pesquisas que já demonstraram que o pólen transgênico pode fertilizar lavouras convencionais num raio de mais de 16 km. O governo inglês atualmente planeja determinar a distância mínima de 110 metros para separar milho transgênico de não transgênico.

Mas as pesquisas demonstram que esta distância deveria ser sete ou oito vezes maior para manter a contaminação no limite de 0,9% (contaminação máxima permitida na Europa para produtos não transgênicos).

Segundo Martin Hoyle, pesquisador chefe do estudo, “uma vez que existam lavouras transgênicas crescendo, a contaminação de outras lavouras ocorrerá inevitavelmente”.

Contaminação no transporte e armazenamento

É preciso ainda dizer que a dispersão do pólen pelo vento é apenas um dos fatores que provocam a contaminação genética. Agricultores convencionais e orgânicos em vários países estão sofrendo os efeitos da contaminação que acontece no transporte e no armazenamento da produção, além da própria contaminação das sementes.

Outra fonte recorrente de contaminação são as plantas transgênicas que persistem e crescem em campos não transgênicos onde, em ciclos anteriores, existiram lavouras transgênicas.

Ou seja, a cada dia aparecem novas evidências mostrando que a questão da contaminação genética é muito mais complexa do que qualquer norma de coexistência existente no mundo pôde até hoje prever.

Podemos também citar inúmeros relatos de agricultores brasileiros que estão tendo suas produções de soja não transgênica certificada ou orgânica inviabilizadas devido à contaminação. É evidente que no caso do milho, que ao contrário da soja, é uma planta de polinização predominantemente aberta e feita pelo vento, o problema será muito maior, incontrolável.

CTNBio ignora evidências

Infelizmente, todas estas evidências científicas e empíricas têm sido solenemente desconsideradas pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), que acaba de autorizar o plantio comercial de uma variedade de milho transgênico e já planeja autorizar uma lista de várias outras.

Estas autorizações estão sendo feitas dispensando-se a realização de estudos para a avaliação de riscos à saúde e ao meio ambiente e sem dar a mínima importância para o problema da contaminação.

No caso da liberação do milho da Bayer, órgãos como Ibama e Anvisa podem contestar a liberação e apresentar recursos ao CNBS – Conselho Nacional de Biossegurança, que reúne 11 ministros e é presidido pela Casa Civil.

Outra opção é que este conselho chame para si a decisão final. Não está garantido que isso acontecerá. Mais do que nunca, a pressão da sociedade civil sobre os ministros é fundamental, exigindo uma postura responsável para com a sociedade e o meio ambiente no Brasil.

(1) Ecological Applications – Volume 17, Issue 4 (June 2007)
Article: pp. 1234-1243

The Effect of Wind Direction on Cross-Pollination in Wind-Pollinated GM Crops
Martin Hoyle and James E. Cresswell
School of Biosciences, University of Exeter, Exeter EX4, 4PS UK

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