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Projeções do futuro da polinização na agricultura brasileira

Imagem: Pixabay

Municípios nas regiões central e sul do Brasil podem ver a população de animais ligados à polinização de cultivos agrícolas diminuir por causa do aquecimento global, sugere pesquisa realizada por um time de pesquisadores brasileiros e estrangeiros. A polinização realizada por diversas espécies animais – como insetos e pássaros – é fundamental para a produção de frutos ou sementes de várias culturas. Entender a resposta dessas espécies ao aquecimento global é importante para a avaliação dos impactos sobre a produção de alimentos.

De acordo com o estudo, publicado no jornal científico PLOS One, projeta-se para 2030 uma redução de 14% na produção per capita de cereais, em especial nos trópicos. As previsões para a agricultura brasileira sugerem perdas entre US$2 a US$5 bilhões até 2070. As áreas propícias para o cultivo do café, por exemplo, podem ser reduzidas em 30% no sudeste. Além dos impactos diretos ligados às alterações na temperatura e no regime de chuvas, indiretamente a agricultura sofrerá os efeitos sobre as espécies polinizadoras.

Dados mostram que 85% dos cultivos agrícolas mundiais apresenta algum nível de dependência da polinização de animais, sendo que no Brasil eles somam aproximadamente 60% do total. A área ocupada por cultivos dependentes de polinização aumentou nas últimas décadas. Mas as espécies de animais polinizadores podem apresentar alguma vulnerabilidade às mudanças climáticas, como sugerem pesquisas sobre o declínio da população de abelhas. Tanto a distribuição geográfica de uma determinada espécie pode ser afetada, quanto a interação entre grupos distintos de espécies.

Para avaliar os impactos no Brasil, os pesquisadores identificaram para 13 tipos de cultivo – entre eles o algodão, o café, a goiaba, o girassol e o tomate – as espécies responsáveis pela polinização, chegando ao um total de 95 animais. Em um modelo computacional de distribuição de espécies, estabeleceram a área geográfica dos animais, levando em consideração as condições ambientais observadas no presente. Então projetaram a distribuição futura, introduzindo as alterações climáticas previstas para 2050 em um cenário de altas emissões.

Os resultados mostraram que as mudanças climáticas projetadas devem interferir nas populações das espécies de animais polinizadores. A interferência, contudo, variará de acordo com a localização (ver mapa abaixo). A maior parte do território brasileiro apresentou uma pequena probabilidade de diminuição das populações de polinizadores, com os maiores declínios concentrados na região centro e sul do país. A exceção foram alguns pontos da região norte, com pequena probabilidade de aumento.

Polinizadores.PNGProbabilidade média de mudança na ocorrência de polinizadores. Áreas verdes indicam aumento entre 0-10%. As demais cores indicam níveis diversos de declínio.

Também foi observada grande variação conforme cada tipo de cultivo. O declínio observado em populações de animais ligadas à polinização do caqui foi de apenas 2%, e 25% daquelas ligadas ao feijão. Além desta, outras culturas em que se verificou um grande declínio foram goiaba, café e tangerina. A produção de tomate e goaiaba é altamente dependente da polinização. Café e tangerina, por sua vez, são menos dependentes, mas sua produção está concentrada no centro-sudeste do país, área que teve diminuição mais acentuada na probabilidade de ocorrência de polinizadores.

Em alguns dos municípios que se destacam pela produção agrícola desses cultivos, registrou-se uma importante redução na probabilidade de ocorrência de animais polinizadores. O aumento da probabilidade registrado para o norte do Brasil foi devido à preservação dos ambientes naturais e às práticas agrícolas, muitas delas ainda extrativistas ou realizadas em pequenas fazendas. Os pesquisadores ressaltam que a perda de ecossistemas naturais pode trazer maiores impactos futuros às populações de polinizadores.

Mais informações: Projected climate change threatens pollinators and crop production in Brazil

Fonte – Ciência e Clima de 16 de agosto de 2017

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