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Antes do dilúvio

Leonardo DiCaprio. Before the Flood (Legendado em português), National Geography, 31 de out de 2016

O lançamento do novo filme de Leonardo DiCaprio “Before the Flood“, no final de outubro, pouco antes da entrada em vigor do Acordo de Paris e próximo ao final da eleição presidencial dos Estados Unidos, deve ser celebrado. O filme foi disponibilizado gratuitamente online e nos primeiros 2 dias de seu lançamento foi visto mais de 3,5 milhões de vezes. A versão com legenda em português pode ser acessada no link disponível no final deste artigo.

É claro que o filme tem limitações e muitos críticos vão dizer que é mais um brinquedo de uma rica celebridade de Hollywood que mantém um padrão de consumo que é incompatível com a sustentabilidade ambiental.

Mas é amplamente reconhecido que Leonardo DiCaprio tem um longo envolvimento com a luta contra o aquecimento global e que fez um filme moderado, mas correto, com o objetivo de convencer o maior número de pessoas do mundo sobre a gravidade dos problemas ambientais do século XXI.

Não dá para ninguém ficar indiferente quando as imagens aéreas mostram a extração das areias betuminosas de Alberta, no Canadá, ou o desmatamento provocado pelas plantações de Palma, na Indonésia, para a produção do óleo de palma, ou ainda o desabamento dos lençóis de gelo da Groelândia. DiCaprio diz: “Tudo o que eu vi na minha viagem me aterrorizou absolutamente”.

É revelador saber que cenas de “The Revenant” (O Regresso, em português) – filme que deu o Oscar de melhor ator a Leonardo DiCaprio – tiveram que ser filmadas a 9 mil milhas ao sul, na Argentina, porque não havia neve na região do Canadá onde o filme estava sendo rodado.

O filme “Before the Flood” traz imagens e entrevistas com pessoas do quilate e importância de Barack Obama e do Papa Francisco – personagens que tiveram importância capital na arquitetura do Acordo de Paris.

Mas traz entrevistas também fundamentais, entre as quais, com Sunita Narain, do Centro de Ciência e Meio Ambiente de Nova Delhi, que critica o padrão insustentável de consumo dos Estados Unidos e concorda que mesmo a Índia, com baixa Pegada Ecológica, também deve fazer esforço para cortar suas emissões de gases de efeito estufa; e com Johan Rockstrom, do Centro de Resiliência de Estocolmo, estudioso das Fronteiras Planetárias e que tem publicado artigos científicos mostrando que a Mudança climática e a Integridade da biosfera, são dois limites fundamentais, que tem o potencial para conduzir o Sistema Terra a um novo estado crítico ou até mesmo ao colapso civilizacional.

O filme “Before the Flood” sugere que as mudanças climáticas podem ser resolvidas pela política e pela tecnologia. Como embaixador da ONU, DiCaprio faz um elogio aos acordos internacionais, aos novos regimes fiscais, à energia renovável, à dieta vegetariana, etc. A entrevista com Elon Musk, da Tesla e da SolarCity, passa a ideia de que a tecnologia pode resolver tudo, embora haja tantas dúvidas sobre a capacidade de o desenvolvimento científico e tecnológico resolver problemas.

Mas fica cada dia mais evidente de que será difícil limitar o aquecimento global, a acidificação dos oceanos, o degelo e a subida do nível dos mares. O efeito estufa provocado pelas atividades antrópicas é o maior desafio para a vida na Terra e a continuidade da civilização. Todas as praias do mundo estão ameaçadas de desaparecer e o afundamento das áreas costeiras deve provocar grandes prejuízos nas cidades e nas plantações nos deltas dos grandes rios. O dilúvio provocado pelo degelo pode ser mortal.

Em termos educativos o filme “Before the Flood” é um poderoso instrumento de conscientização dos problemas climáticos e da grave crise ambiental por que passa a humanidade. Embora a mensagem não seja radical suficiente para dar conta da situação real do mundo, o filme, sem dúvida, demonstra que Antropoceno (Era da dominação humana sobre o Planeta) é um perigo para as demais espécies da Terra e para o próprio ser humano.

A mensagem que eu tiraria do filme é a mesma que venho afirmando em inúmeros artigos e que as pessoas resistem em compreender: o ecocídio é também um suicídio.

José Eustáquio Diniz Alves é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE.

Fonte – EcoDebate de 09 de novembro de 2016

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