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Contaminação por fracking faz produtores da Argentina perderem mercado

Ação de marketing promovendo maçãs chilenas livres de Fracking (Apple Fracking Free) na região de Rio Negro e Neuquén é um golpe fatal para os fruticultores.

Produtores argentinos realizaram há poucos dias um ‘frutaço’ na Plaza de Mayo, em Buenos Aires, distribuindo maçãs para a população em protesto contra a entrada no mercado interno das maçãs produzidas no Chile. Numa estratégia de marketing para diferenciar a qualidade das frutas, produtores chilenos passaram a indicar a origem ‘Apple Fracking Free’ e inundar o mercado interno provocando grande prejuízo a fruticultores da região.

A rejeição se deve ao fato de que os campos produtores estão próximos aos poços que usam o fraturamento hidráulico, ou FRACKING, método não convencional para extração do petróleo e gás de xisto. O medo da contaminação pelos fluidos tóxicos usados no processo minerário, muitos deles cancerígenos e radioativos, impede a comercialização e traz graves problemas para a economia da região, que já foi próspera e o seu produto um símbolo daquele país.

Atualmente, a Argentina produz cerca de 900 mil toneladas de maçã, contra 1,3 milhões de toneladas de Chile. Segundo informações do jornal Clarin, as maçãs chilenas estão ganhando cada vez mais espaço no mercado doméstico enquanto o produto argentino, famoso por sua qualidade, está sendo rejeitado na Europa e no Oriente, levando à ruína centenas de pequenos agricultores.

“Em todo o mundo é o que acontece com a produção agrícola nos locais onde há Fracking. Para proteger da contaminação a produção, as reservas de água e a saúde das pessoas, muitos países estão banindo essa técnica, que traz devastação e prejuízo”, afirma Juliano Bueno de Araujo, Coordenador de Campanhas Climáticas da 350.org e fundador da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida.

Produtores argentinos estão desamparados

Recentemente, o governo do Estado de Victoria, na Austrália anunciou a proibição de fracking exatamente para proteger os agricultores da contaminação e a sua agricultura. Em vez disso, o governo argentino oferece duas saídas aos agricultores que distribuíram frutas na Plaza de Mayo: Por um lado, o impacto das medidas implementadas pela política econômica neoliberal; e por outro permitir no vale superior do Rio Negro a exploração de hidrocarbonetos não convencionais através da técnica de fracking, que é profundamente poluente, a tal ponto que a própria Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) determinou a associação entre fracking e contaminação das águas subterrâneas.

Diante dessa situação, os produtores argentinos precisam de apoio urgente do Estado, porque a liberalização indiscriminada das importações, o atraso na taxa de câmbio, o aumento dos combustíveis e taxas de utilidade caminhadas são medidas econômicas que afetam a produtividade. Mas, fundamentalmente, eles exigem a proibição de fracking, uma vez que provoca danos comprovados ao meio ambiente, água e saúde humana.

Para Juan Pablo Olsson, integrante do Projecto Sur, entidade parceira da COESUS e 350.org Brasil e América Latina no combate ao Fracking, “deve ser muito claro que existe uma incompatibilidade absoluta da matriz de produção de frutas e vegetais com exploração de hidrocarbonetos não convencionais. Portanto, é essencial para fazer avançar o movimento contra Fracking na Argentina, no Brasil e todos os países da região”.

Contaminação da produção brasileira

Juliano Bueno Araujo alerta que se for adotada essa tecnologia altamente poluente e consumidora de água no Brasil, como quer a Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP), muitas áreas produtivas serão severamente impactadas. “Desde 2013 desenvolvemos a campanha Não Fracking Brasil para levar informação sobre os riscos e perigos do método não convencional para extração de gás de xisto e mobilizar a população e gestores públicos para impedir que isso aconteça aqui”, diz.

Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a safra 2016 de cereais, leguminosas e oleaginosas, os indicadores apontam que a produção este ano deverá ser de 211,3 milhões de toneladas. De acordo com a estimativa, Mato Grosso lidera como maior produtor nacional de grãos, com uma participação de 24,1%, seguido pelo Paraná (18,2%) e Rio Grande do Sul (14,6%), que, somados, representaram 56,9% do total previsto.

“Se não impedirmos, estes três Estados serão duramente impactados pelo Fracking, pois já tiveram o subsolo vendido pela ANP sem qualquer consulta à população, prefeitos e movimentos sociais”, assegura o fundador da COESUS. Para proteger a população e a produção agrícola e pecuária, cidades como Umuarama e Toledo no Paraná já aprovaram leis que proíbem operações de Fracking. Outras dezenas de cidades também já baniram a tecnologia e muitas estão debatendo projeto de Lei nesse sentido.

Na 12ª Rodada de Licitações, a ANP vendeu blocos para a indústria do Fracking em 15 estados, muitos deles localizados sob grandes áreas de floresta, os principais aquíferos e regiões de produção agrícola e de pecuária. Proporcionalmente, o Paraná é o estado mais impactado, como 122 cidades sob a ameaça do Fracking. “Para este ano, temos uma expectativa de produção de 35,6 milhões de toneladas de grãos. Com Fracking, nada disso poderá ser comercializado, nem consumido”, garante Juliano.

Na Argentina, produção de maças e peras da região de Neuquén está cercada de poços de Fracking. Foto: COESUS/350Brasil

Missão contra o Fracking na Argentina

Vale lembrar que essa situação vivida pelos agricultores argentinos não é nova. Em novembro do ano passado, a convite da COESUS e 350.org Brasil e América Latina, uma comitiva de parlamentares brasileiros visitou a região de Rio Negro e Neuquén para conhecer de perto os impactos ambientais, econômicos e sociais do Fracking. 

A diretora da 350.org Brasil e América Latina, coordenadora nacional da COESUS, Nicole Figueiredo de Oliveira, que organizou a missão na Argentina, enfatiza que os impactos do Fracking vão além das questões ambientais e econômicas.

Assista o Programa Cidade e Soluções, da GloboNews, que acompanhou a comitiva e retratou a preocupação dos fruticultores.

“A indústria dos fósseis atinge principalmente as populações mais vulneráveis, especialmente os mais pobres, os povos indígenas, comunidades tradicionais e outras minorias. Na Argentina, o povo originário Mapuche foi expulso de suas terras, tem a água contaminada pelos químicos e está morrendo, sem que nada seja feito para impedir um verdadeiro genocídio”, denuncia.

Para Nicole, a única forma de impedir que a realidade do Fracking aconteça no Brasil, e que avance em outros países da América Latina, é pressionar os governantes para que invistam em energias renováveis, 100% limpas e seguras. “O Fracking é uma ilusão que não traz vantagens para ninguém e deve ser banido para deixarmos os combustíveis fósseis no solo e garantir um futuro sustentável para a humanidade”, completa.

Fonte – Silvia Calciolari. Não Fracking Brasil de 07 de setembro de 2016

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