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Controle populacional de animais é desafio para gestores

Ativistas da causa animal lotaram o Auditório José AlencarAtivistas da causa animal lotaram o Auditório José Alencar – Foto: Guilherme Dardanhan

Dados do IBGE apresentados em debate apontam para necessidade de sensibilizar poder público e sociedade sobre a questão.

No Brasil, 44,3% dos domicílios das áreas urbanas e 65% das áreas rurais contam com pelo menos um cão, em contraste com o número de crianças, que, nas cidades, não passa de 38,1%. Ou seja, de modo geral, há mais cães de estimação do que crianças nos lares brasileiros.

Os dados são resultado de pesquisa realizada pelo IBGE em 2015, apresentados nesta segunda-feira (27/11/17) durante o Debate Público Descontrole Populacional Animal e Proliferação de Zoonoses, promovido pela Comissão Extraordinária de Proteção dos Animais da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

A médica veterinária e diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Vânia Plaza Nunes, destacou que os brasileiros convivem, hoje, com 52 milhões de cães e 22 milhões de gatos, “animais com alto potencial biológico e reprodutivo”.

Mas o número de animais no País pode ser muito maior, porque a pesquisa do IBGE não contempla os animais abandonados, conforme advertiu a médica veterinária especialista em Controle Populacional e Medicina do Coletivo, Flávia Quadros.

Os convidados do debate também denunciaram os maus-tratos aos animais e condenaram a matança como prática de controle, defendendo a necessidade de redução da população de cães e gatos por meio de práticas humanitárias e mais econômicas.

O evento destacou a necessidade de sensibilização do poder público e de conscientização da sociedade civil sobre a importância da construção de políticas públicas eficazes de respeito ao animal e para o controle populacional.

Risco de zoonoses e doenças profissionais

De acordo com Vânia Nunes, a falta de políticas públicas eficazes afeta não só os animais, mas também os humanos, comprometendo a vida em sociedade. Entre outros males, ela citou os acidentes de trânsito, a reprodução descontrolada, o abandono de animais mortos em locais públicos, além do risco de zoonoses (doenças comuns entre pessoas e animais), problemas com lixo e sofrimento animal e humano.

Outra consequência, abordada por sua colega Flávia Quadros, diz respeito diretamente aos profissionais que lidam com animais. Segundo ela, muitos trabalhadores que exercem funções envolvendo matança de animais adoecem com problemas psicológicos e com frequência recorrem ao abuso de álcool e drogas.

Flávia Quadros denunciou também que 60% dos animais mortos são jogados ou enterrados em terrenos baldios e 7% são colocados em sacos de lixo ou caçambas, contribuindo para a formação do necrochorume, um grave problema de saúde pública e ambiental.

Soluções – As palestrantes indicaram algumas soluções que consideram importantes no controle populacional de animais e na prevenção de zoonoses, em substituição à matança adotada pela maioria dos municípios brasileiros. Entre as soluções, Vânia Nunes citou a esterilização cirúrgica e a alta cobertura vacinal.

Flávia Quadros, por sua vez, observou que, ao contrário do que temem muitos gestores, a matança não é a forma mais econômica porque não contabiliza gastos com captura, transporte, manutenção, sacrifício, acidentes, zoonoses e problemas com a saúde do trabalhador.

Leishmaniose e esporotricose preocupam

O professor de Imunologia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, André Luís Soares da Fonseca, explicou que a quantidade de casos de leishmaniose aumentou muito pela falta dos predadores naturais do mosquito transmissor da doença, como lagartixas e sapos.

O médico veterinário contou também que o Brasil é responsável por 1% dos casos de leishmaniose visceral do mundo. Ele condenou, ainda, a prática de eutanásia dos cães contaminados enquanto os governos nada fazem contra os mosquitos.

“Essa orientação do Ministério da Saúde é errada porque o problema é o mosquito, não o cachorro”, afirmou. Ele disse ainda que, como a leishmaniose é uma doença sexualmente transmissível, a castração de animais é fundamental.

A responsável pelo projeto Quem Ama Castra, em Conselheiro Lafaiete (Região Central do Estado), Carla Sássi, falou sobre a esporotricose, uma dermatite causada por fungo, encontrada especialmente em gatos, que pode ser transmitida para os humanos. “O problema não são os gatos, mas sim a falta de higiene, que propicia que o fungo cresça”, ponderou.

Ela explicou que a doença é grave e demanda um tratamento demorado, mas que as pessoas jamais devem abandonar seus gatos. “O animal deve ser tratado, ficar sem acesso à rua, e mesmo se morrer, o cadáver precisa ser cuidado de maneira específica. O mais recomendado é um mapeamento dos casos no município e a castração em massa de felinos nos bairros acometidos”, completou.

MP cobra cumprimento de lei

A promotora Luciana Imaculada de Paula, coordenadora do Grupo Especial de Defesa da Fauna do Ministério Público (MP), enfatizou a importância da Lei 21.970, de 2016, que estabelece instrumentos para o controle populacional de cães e gatos. Nesse sentido, disse, o MP tem cobrado das prefeituras o cumprimento da lei.

A promotora entregou ao presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Julvan Rezende Araújo Lacerda, documento contendo diretrizes para que as prefeituras adotem as orientações do MP.

Julvan Lacerda justificou que muitas vezes os municípios adotam práticas inadequadas em decorrência da falta de recursos e disse que os programas propostos pelo governo federal carecem de uma análise particular de cada município. Ele disse ainda que a AMM pode abraçar a causa e divulgar a proposta do MP entre os prefeitos e destacou a importância da educação nesse processo.

Conscientização

O presidente da comissão, deputado Noraldino Júnior (PSC), autor do requerimento para a realização do evento, ressaltou que essa é a primeira vez que a Assembleia se reúne em debate público para discutir o tema e agradeceu o apoio do MP.

A deputada Ione Pinheiro (DEM) destacou o trabalho das organizações de defesa da causa animal, criticou o que chamou de “omissão do governo” e defendeu “um trabalho de conscientização de cada cidadão mineiro”.

O deputado Fred Costa (PEN) também destacou a importância da Lei 21.970, afirmando que “o debate é oportuno e necessário” e que, na atual legislatura, a ALMG aprovou seis leis relacionadas ao tema.

 Fonte – ALMG de 27 de novembro de 2017

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