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Derretimento de geleiras na Nova Zelândia acende alerta

Por Laura Paddisonda – CNN – 08 de abril de 2023 – Rápido degelo representa enorme risco: não apenas aumenta a possibilidade de inundações, como está levando ao aumento do nível do mar – Aferição da linha de neve no final do verão, na geleira de CarringtonNIWA / Rebekah Parsons-KingTodos os anos, cientistas na Nova Zelândia sobrevoam algumas das geleiras mais icônicas do país – antigos “rios” de gelo que descem dos Alpes do Sul, uma cadeia de montanhas que se estende ao longo da Ilha Sul.

E, praticamente todos os anos, elas diminuem, e dessa vez não foi diferente.

No final de março, a equipe de cientistas passou oito horas sobrevoando os picos, tirando milhares de fotografias de geleiras para o levantamento anual da linha de neve.

Andrew Mackintosh, professor da Monash University, na Austrália, que estava no voo, disse em comunicado que ficou “chocado” com o que viram.

Algumas das geleiras menores, desapareceram, disse ele, enquanto as famosas geleiras Franz Josef e Fox mostraram sinais de diminuição.

“As observações deste ano reforçam a visão de que continuamos a ver a perda de gelo nos Alpes do Sul”, explicou à CNN Andrew Lorrey, cientista principal do Instituto Nacional de Pesquisas Hídricas e Atmosféricas (NIWA) e coordenador da pesquisa.

As geleiras são enormes massas de gelo que se acumulam dentro e ao redor das montanhas.

Elas crescem em invernos frios e com neve e recuam quando as temperaturas esquentam.

Elas são fontes de água doce para quase 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, mas seu rápido degelo representa enorme risco: não apenas aumenta a possibilidade de inundações repentinas mortais, como está levando ao aumento do nível do mar.

Dois anos de calor recorde afetaram as geleiras – 2022 foi o ano mais quente da Nova Zelândia, batendo um recorde estabelecido apenas um ano antes.

Mas a tendência de declínio do gelo é de longo prazo.

Lorrey, que está nesses levantamentos aéreos desde 2009, relatou que é difícil testemunhar o fenômeno.

“Estou vendo esta bela parte de nosso ambiente natural escorregando por entre nossos dedos. E se você viu uma geleira pessoalmente, elas são absolutamente de tirar o fôlego, alucinantes e transformadoras”, destacou.

A pesquisa da linha de neve, organizada pela NIWA, acontece quase todos os anos há quase cinco décadas e visa capturar o cenário de mais de 50 geleiras – variando em tamanho e elevação – o mais próximo possível do fim da temporada de derretimento da neve e do gelo.

Levantamento da linha de neve no final do verão, geleira de Tasman, Nova Zelândia / NIWA / Rebekah Parsons-King
Os cientistas olham especificamente para a neve que as cobre.
Ao entender onde está a linha de neve, “você coleta algo sobre a saúde de nossas geleiras”, explicou Lorrey.

A neve, que fornece uma camada nutritiva e protetora para as geleiras, começa no outono e continua até a primavera.

Lorrey tem uma analogia financeira para o processo: a neve é como um depósito de poupança para a geleira, uma proteção contra o período mais quente que se aproxima.

Quando a estação de derretimento começa na primavera, ela precisa passar por essa “conta poupança” de neve nova antes de atingir o corpo da geleira.

Nos anos em que a linha de neve é mais baixa na montanha, a geleira pode aumentar de volume e é capaz de avançar ainda mais pela encosta – ela tem um equilíbrio saudável.

Mas quando a linha de neve está mais alta, mais da geleira fica exposta ao derretimento e encolhendo.

“No momento, vemos mudanças rápidas acontecendo nas montanhas, com indicações de que o aumento da linha de neve está acelerando junto com a perda de gelo”, ponderou Lorrey.

Os resultados do voo deste ano serão inseridos em um relatório sobre a variabilidade de longo prazo nas geleiras, que será divulgado no final do ano.

Levantamento da linha de neve no final do verão: cientista Andrew Lorrey tirando fotos durante o voo / NIWA / Rebekah Parsons-King

Impacto da crise climática

A crise climática está tendo um impacto enorme.

“São principalmente as mudanças de temperatura que determinam o que acontece com as geleiras da Nova Zelândia”, afirmou Lauren Vargo, glaciologista da Universidade Victoria de Wellington, que fez parte da pesquisa, à CNN.

O derretimento extremo em 2018, um dos piores anos já registrados para as geleiras do país, foi 10 vezes mais provável devido às mudanças climáticas, de acordo com um estudo de 2020 de coautoria de Vargo e Lorrey.

Como cientista, a princípio, a mudança dramática nas geleiras “foi empolgante” em alguns aspectos, pontuou Vargo, que as estuda desde 2016. Mas a continuidade dessa tendência é difícil. “Também parece triste e assustador quando você pensa sobre o que está motivando isso”, ressaltou.

“À medida que a atual tendência de aquecimento continuar, continuaremos perdendo mais geleiras”, disse Lorrey. E esta é uma tendência mundial.

Até metade das geleiras do mundo podem desaparecer até o final do século, mesmo se metas climáticas ambiciosas forem cumpridas, de acordo com pesquisa publicada em janeiro.

Projeto de longa data captura um retrato aéreo de mais de 50 geleiras dos Alpes do Sul da Nova Zelândia em uma época semelhante a cada ano para rastrear como elas mudam / NIWA

Além dos impactos das mudanças climáticas, as variações naturais do clima também desempenharam um papel importante.

Os anos excepcionalmente longos de La Niña, que acabaram de terminar, trouxeram temperaturas do mar e do ar mais quentes do que a média, ajudando a impulsionar o derretimento das geleiras.

Sua contraparte, o El Niño, que muitas vezes traz condições mais frias para esta parte da Nova Zelândia, está prevista para o final do ano e pode fornecer um alívio temporário.

“Eu sempre espero um El Niño e ver uma linha de neve onde normalmente deveria estar”, destacou Lorrey. Mas ela alertou que esses anos com El Niño “ocorrem muito pouco e distantes entre si para neutralizar a tendência de aquecimento contínuo que estamos experimentando”.

Alteração no meio ambiente

A perda de gelo é sentida profundamente, observa Vargo.

“As pessoas na Nova Zelândia têm essa conexão com as geleiras”, adiciona.

Onde antes era possível parar o carro no estacionamento de um parque nacional e caminhar uma curta distância para tocar uma geleira, agora isso é muito menos comum – as pessoas muitas vezes precisam ir mais longe na montanha, até mesmo voar até lá em pequenos aviões.

“É uma experiência que estará fora do alcance de muitos. A perda de nossas geleiras terá um impacto significativo em nosso relacionamento e experiências com o meio ambiente”, adverte Lorrey.

Essas “torres de água”, como Lorrey as chama, também desempenham um papel importante no abastecimento dos altos riachos alpinos, especialmente durante os anos de seca.

As mudanças que estão acontecendo são um lembrete de que nossas montanhas – e outros lugares ao redor do mundo – estão alterando rapidamente, ponderou.

As geleiras são “um elemento altamente visual da mudança ambiental, que nos diz que há outras coisas que não estamos vendo”.

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