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Desmatamento da Caatinga isola macaco exclusivo do bioma e pode acelerar rota para extinção
Por João Bertuzzo* – G1 – 4 de outubro de 2024 – Guigó-da-caatinga tem sua ocorrência limitada ao interior da Bahia.
Um levantamento feito por pesquisadores do MapBiomas revela que o guigó-da-caatinga (Callicebus barbarabrownae) já perdeu mais da metade do seu habitat original.
O futuro do primata exclusivo da Caatinga está em risco, sendo ele hoje um dos macacos mais ameaçados do mundo.
“A ameaça principal é o bioma que está sendo perturbado, degradado, e a área de distribuição dele que já não é muito grande. Não se conhecem populações saudáveis da espécie”, explica Fabiano Melo, primatólogo e professor da Universidade Federal de Viçosa.
Limitado a pequenos fragmentos florestais no interior da Bahia, o macaco enfrenta a diminuição de seu habitat e a fragmentação das áreas remanescentes, o que compromete e limita sua capacidade de sobrevivência e reprodução.
O avanço dos pastos entre os fragmentos florestais pode levar a um isolamento genético, agravando ainda mais a situação da espécie, que é categorizada atualmente como Criticamente Ameaçado (CR) pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN.
O macaquinho hoje é uma das seis espécies alvo do Plano de Ação Nacional dos Primatas do Nordeste, que tem como objetivo geral manter e promover a viabilidade de populações das espécies alvo em 5 anos, juntamente com o guigó, guariba, macaco-prego-do-peito-amarelo, guariba-de-mãos-ruivas e o macaco-prego-galego.
Casal de guigós-da-caatinga vocalizando em conjunto — Foto: Cristine Prates
A continuidade das atuais ameaças, como a expansão agropecuária e as mudanças climáticas, podem acelerar drasticamente o declínio populacional destas espécies.
“Toda espécie ameaçada, quando ela é declarada, significa que ela está a caminho da extinção na natureza. Porém, a área onde ela vive é muito grande, e muito provavelmente a gente vai ter muitas populações ainda remanescentes, protegidas. Não tem como prever isso em tempo”, diz Fabiano.
Segundo o primatólogo, uma das formas de proteger a espécie é criando novas unidades de conservação.
O Parque Nacional da Chapada Diamantina abriga hoje a única unidade de conservação de proteção integral que abriga populações do guigó-da-Caatinga.
A espécie
Segundo Fabiano, todas as espécies do gênero Callicebus se alimentam de frutas e folhas, mas algumas costumam comer alguns tipos de insetos, larvas e eventualmente flores e casca de árvore.
Uma curiosidade interessante sobre o primata é que ele possui uma vocalização muito característica.
Além disso, a espécie é monogâmica. Um mesmo casal passa toda a vida juntos.
O guigó-da-caatinga tem sua ocorrência limitada ao interior da Bahia — Foto: Gerson Buss
Outra característica curiosa sobre os guigós-da-caatinga é que os filhotes também vocalizam. Quando isso acontece, os pais cantam em dueto e, eventualmente, os filhos também ajudam e acabam vocalizando junto.
O habitat, Caatinga
De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, menos de 10% de toda a Caatinga é protegida por alguma unidade de conservação, o que deixa a maior parte desse bioma sob o risco do avanço da agricultura, pecuária e extração de madeira.
O bioma é o único dos seis do território brasileiro que é 100% nacional, mas, apesar disso, recebe pouca atenção de políticas públicas de preservação.
“Boa parte da Caatinga hoje, ainda que a gente tenha a questão da aridez, da dificuldade de se fazer produção agrícola, a gente tem os projetos de irrigação e uma série de outras alternativas de engenharia humana que tem destruído muito o bioma”, reforça o primatólogo, Fabiano Melo.
Bioma da Caatinga ocupa mais da metade do território nordestino — Foto: Reprodução/TV Globo
Já foram perdidos 34 milhões dos 82,6 milhões de hectares da Caatinga, equivalente a 40% de seu território.
O alerta foi dado pelo presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, em um seminário técnico-científico sobre o bioma, realizado em abril deste ano.
“A Caatinga tem 60% de área de vegetação nativa ocupada, das quais uma boa parte já passou por processo de antropização seguidos, como corte raso, queimas reiteradas, extração seletiva de vegetação e animais, introdução de espécies exóticas”, afirma o presidente do IBAMA.
Vale lembrar que a Caatinga é um dos biomas mais vulneráveis às mudanças climáticas devido às suas características naturais de semi-aridez e à dependência de um regime de chuvas já irregular e limitado.
“Se você imaginar que o Brasil, pela primeira vez, confirmou a ocorrência do clima árido na região da Caatinga, inclusive, nesses tempos modernos, pelo menos nos últimos seis mil anos, imagina o que está por vir. Depende muito das mudanças climáticas, como elas vão alterar os hábitats”, finaliza o especialista.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins
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