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Desmatamento revela avanço à última fronteira agropecuária da Amazônia

Por Carlos Madeiro – Colaboração para o UOL, em Maceió – UOL

Apontado como última grande fronteira agropecuária da Amazônia e com grande parte de sua floresta intacta, Roraima foi o estado que mais sofreu com a alta do desmatamento neste ano.

Os responsáveis são a soja, a criação de gado e a exploração de madeira. Entra ainda nessa conta tanto a produção legal como a grilagem e a destruição da floresta por madeireiros.

Com isso, o estado registrou alta de 279% no desmatamento entre agosto de 2018 e julho de 2019, segundo dados do sistema Prodes, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Roraima é a unidade federativa menos populosa do Brasil, com 605 mil habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mas tem uma série de problemas sociais, como explosão da violência e migração em massa de venezuelanos. A fragilidade do estado se reflete agora na destruição da floresta.

Cerca de 65% de seu território é protegido por ser terra indígena (TI) ou unidades de conservação (UC). “Nos outros 35% se encontram os projetos de assentamento ao longo das principais rodovias do estado [BRs 174 e 210], com blocos de florestas encravados entre essas áreas protegidas. Essas terras, que estão sujeitas ao desmatamento, são áreas da União”, afirma Paulo Barni, professor e ex-coordenador do curso de engenharia florestal da UERR (Universidade Estadual de Roraima), em Rorainópolis.

Os dados do Inpe apontam que a concentração do desmatamento ocorre em cinco municípios: Caracaraí, Cantá, Rorainópolis, Mucajaí e Iracema.

Para Barni, o estado ainda tem um número baixo de desmatamento acumulado quando comparado a outros estados amazônicos. Entretanto, ele ressalta que isso também esconde um dado preocupante. “A população do estado é pequena. Mas, se você pegar o desmatamento e dividir por esse total, dá um número per capita alto. Além disso, aproximadamente 67% da população está concentrada na capital, Boa Vista”, diz.

O professor cita que o número pequeno de habitantes acaba dando a impressão de que o estado é pouco desmatado. “Isso também favorece que haja desmatamento. Outro ponto é a frouxidão na fiscalização ambiental, que gera uma sensação de impunidade aos desmatadores, principalmente com o governo Bolsonaro e seu discurso pró-desmatamento”, afirma.

Paulo Barni afirma que em Rorainópolis, segunda maior cidade de Roraima e localizada no sul, por exemplo, há uma grande chegada de migrantes brasileiros nos últimos anos. “Tivemos nos últimos anos uma chegada de empresários, principalmente de Rondônia, que compraram lotes. Eles vendem um lote de terras em Rondônia de 100 hectares, por exemplo, e compram três ou quatro nessa área com o mesmo valor.”

Fraude de R$ 80 milhões em madeira ilegal

Roraima tem muitos locais invadidos, onde desmatadores tomam posse de áreas por meio de grilagem, causando disputas entre a população local e criminosos ambientais.

Em julho deste ano, uma grande ação comandada pela PF (Polícia Federal) desarticulou um esquema de exploração ilegal de madeira que envolveu 22 empresas —a maioria no sul de Roraima.

Ao todo, seis inquéritos identificaram mais de 91 mil m² de madeira serrada que seria regularizada por meio de fraude.

“Convertido em toras de madeira, este quantitativo se aproxima de 260 mil metros cúbicos, ou 120 mil toras, o suficiente para carregar aproximadamente 8.000 caminhões”, informou a PF à época, citando que a fraude poderia render quase R$ 80 milhões.

Grilagens e disputas por territórios

Para Vanessa Xavier, liderança da CPT (Comissão Pastoral da Terra) no estado, o aumento do desmatamento em Roraima causa tensão a povos indígenas, ribeirinhos e pequenos assentamentos de agricultores familiares.

“Essas áreas onde o Inpe mostrou que houve crescimento do desmatamento são justamente as que possuem grande número de assentamentos de pequenas famílias de agricultores. É uma área onde também predomina a floresta amazônica”, diz.

“Se há um avanço do desmatamento, a problemática disputa por territórios começa a avançar porque os grandes empresários —os madeireiros principalmente— vão querer a madeira dessa floresta para fins de comércio, de exportação”, completa.

Xavier lembra que muitos dos processos de disputa por área estão judicializados. “Eles ameaçam expulsar famílias e atacam o meio ambiente. Então eles entram em conflito com a comunidade e disputam a posse na Justiça com comunidades que há anos preservam a área em que vivem. É um impacto enorme”, assegura.

Mesmo diante do cenário desfavorável, ela conta que os povos tradicionais estão lutando pela floresta. “Temos um processo de resistência das comunidades tradicionais, das comunidades indígenas a essa ameaça de expulsão dos territórios para exploração madeireira. Mas a gente consegue perceber um grande aumento no número de conflitos por terra.”

 

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