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Este ‘superverme’ comedor de isopor pode ajudar a resolver a crise do lixo

Por  – The Washington Post – 17 de junho de 2022 – Cientistas de todo o mundo estão tentando encontrar bactérias e insetos que consomem lixo. Um verme que consome plástico é o mais recente.

Veja aqui elas se alimentando

Pesquisadores australianos relataram em 9 de junho que as larvas do besouro escuro podem sobreviver apenas com isopor, um desenvolvimento promissor para o futuro gerenciamento de resíduos. (Vídeo: Reuters)

Uma larva gorda do comprimento de um clipe de papel pode sobreviver no material que faz o isopor.

O organismo, comumente chamado de “superverme”, pode transformar a maneira como os gerentes de resíduos descartam um dos componentes mais comuns em aterros sanitários, disseram os pesquisadores, potencialmente retardando uma crescente crise de lixo que está agravando as mudanças climáticas.

No artigo divulgado na semana passada na revista Microbial Genomics, cientistas da Universidade de Queensland em Brisbane, Austrália, mostraram que as larvas de um besouro escuro, chamado zophobas morio, podem sobreviver apenas com poliestireno, comumente chamado de isopor.

As descobertas ocorrem em meio a uma muitas pesquisas sobre como as bactérias e outros organismos vivos podem consumir materiais plásticos, como isopor e a garrafas Pet.

Agora, os pesquisadores estudarão as enzimas que permitem que o superverme faça a digestão do isopor, enquanto procuram encontrar uma maneira de transformar a descoberta em um produto comercial.

A adoção industrial oferece um cenário tentador para os administradores de aterros sanitários: uma maneira natural de descartar e reciclar o lixo de isopor que representa até 30% do espaço de aterros sanitários em todo o mundo.

Você não pode mais escapar do plástico – o lixo plástico está em toda parte”, disse Christian Rinke, coautor do estudo.

“Esta é definitivamente uma maneira nova, sem dúvida, melhor e ecologicamente correta de decompô-la.

Um “superverme”, conhecido como zophobas morio, come poliestireno, comumente referido como isopor. (Hung Vu/Universidade de Queensland)

O mundo está enfrentando uma crise do plástico.

A cada ano, metade de todo o plástico projetado para uso único – coisas como garrafas, copos de isopor e sacolas de compras – vira lixo, entupindo aterros sanitários e se decompondo lentamente ao liberar gases nocivos do efeito estufa, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Mais de 14 milhões de toneladas acabam na água todos os anos, apontam os dados, matando animais e degradando habitats subaquáticos.

Entre os plásticos, o isopor é particularmente problemático.

O material é denso e ocupa muito espaço, tornando caro o armazenamento em instalações sanitárias (aterros), disseram especialistas do setor.

Os copos, pratos e outros materiais feitos a partir dele também são frequentemente contaminados com alimentos e bebidas, dificultando a reciclagem.

O poliestireno enche aterros sanitários, onde pode levar até 500 anos para se decomporem, conforme os pesquisadores.

À medida que a crise do lixo aumenta, cientistas de todo o mundo estão tentando encontrar bactérias e outros organismos vivos que eliminam naturalmente os resíduos plásticos.

Em 2015, pesquisadores da Universidade de Stanford revelaram que larvas de farinha também podem sobreviver em isopor.

No ano seguinte, cientistas japoneses descobriram bactérias que podiam comer garrafas plásticas.

Em abril, pesquisadores da Universidade do Texas encontraram uma enzima capaz de digerir o tereftalato de polietileno, uma resina plástica encontrada em roupas, líquidos e recipientes de alimentos.

Wei-min Wu, pesquisador sênior da Universidade de Stanford que liderou seu estudo sobre o bicho-da-farinha, disse que há um número crescente de pesquisadores em busca de soluções naturais para reciclar plástico por causa dos riscos ambientais.

Ele disse que muitos pesquisadores neste campo, incluindo os da Austrália, enfrentarão vários desafios nos próximos anos.

Levará tempo para estudar as enzimas intestinais de coisas como larvas de farinha e super-vermes e, quando o fizerem, não é garantido que possam digerir plásticos em grandes escala a uma taxa rápida e eficiente.

Rinke disse que estava entusiasmado com os resultados de sua pesquisa, mas observou que levará tempo para se desenvolver uma solução industrial, estimando algo entre cinco a 10 anos.

Para conduzir o estudo, sua equipe de pesquisa na Austrália alimentou os supervermes com três dietas separadas.

Um grupo recebeu uma solução “saudável” de farelo.

O segundo recebeu poliestireno.

O terceiro foi colocado em uma dieta de fome.

Noventa por cento das larvas que comeram farelo se tornaram besouros, em comparação com cerca de 66 por cento do grupo que recebeu poliestireno e 10 por cento daqueles forçados a morrer de fome.

Isso indicou aos pesquisadores que os supervermes têm enzimas em seu intestino que podem efetivamente digerir o isopor.

Em seguida, os cientistas estudarão essas enzimas para ver quão bem elas podem digerir o poliestireno em larga escala – modificando-as, se necessário, para se tornarem mais eficazes.

“Não queremos ter fazendas gigantes de supervermes”, disse ele.

“Em vez disso, queremos nos concentrar na enzima.”

Os cientistas descobriram que o “superverme” comum zophobas morio pode comer poliestireno, graças a uma enzima bacteriana em seu intestino. (Universidade de Queensland/AFP/Getty Images)

Se a pesquisa for bem-sucedida, Rinke disse que os os administradores de aterros sanitários podem coletar e triturar materiais de isopor e colocá-los em uma solução líquida feita com a enzima do superverme.

A solução ideal seria descartar o isopor ou digeri-lo de uma maneira que permitisse a criação de novos produtos plásticos, reduzindo assim a necessidade de novos materiais plásticos retirados da natureza, disse Rinke.

“Se você puder ir até o fim”, disse ele, “a ideia é usar o sistema e encontrar uma solução biológica para reciclar o plástico”.

Apesar das descobertas de Rinke e outros, não ha nenhuma razão pelas quais não obtivemos sucesso em aplicações comerciais esta última década, disseram os pesquisadores.

Andrew Ellington, professor de biociência molecular da Universidade do Texas em Austin, disse que tem encontrado dificuldades encontrar um organismo ou enzima que digere plástico que possa operar em condições industriais, normalmente muito quente ou através do uso de solventes orgânicos.

“Quando você encontra algo na praia ou no intestino de um verme, isso é ótimo, mas todas as enzimas dessa coisa funcionam praticamente nas condições em que você a encontrou”, disse ele. “E essas podem não ser condições industriais.”

Ele acrescentou que, mesmo que os pesquisadores decidissem não extrair enzimas e simplesmente inundar aterros sanitários com vermes comedores de isopor, problemas ocorreriam.

Os aterros sanitários misturam todos os tipos de plásticos, e separar o somente o isopor dos demais lixos plásticos para permitir que as minhocas comam seria muito complicado e caro.

Ele sugeriu uma solução alternativa.

“Acredito que seremos capazes de oferecer, em um futuro não tão distante, kits de compostagem baseados em minhocas para que as pessoas possam fazer isso sozinhos em casa”, disse ele.

Jeremy O’Brien, diretor de pesquisa aplicada da Solid Waste Association of North America, disse que há outros desafios na área de negócios para colocar esse tipo de solução em prática.

Conforme previsto, a solução exigiria que os gerentes de resíduos coletassem isopor separadamente de outros lixos, disse ele, o que torna o custo proibitivo.

O’Brien também disse que ainda não está claro que tipo de resíduo orgânico o processo enzimático geraria, e ele teme que isso possa prejudicar os microorganismos que os aterros sanitários já usam para processar o lixo e reduzir odores.

Ele acrescentou que uma solução mais interessante e econômica seria levar o isopor para aterros sanitários e compacta-los o suficiente para que possam ser transformados em novos plásticos.

“Essa é a solução mais simples ainda”, disse ele.

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