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Fritjof Capra – Energia e transgênicos como questões na humanização do desenvolvimento 3/6

Fritjof Capra (Viena, Áustria, 1 de fevereiro de 1939) é um físico teórico e escritor que desenvolve trabalho na promoção da educação ecológica. Foto e informações da Wikipedia

O conceito de desenvolvimento como é aplicado hoje tem dois significados. Para os biólogos desenvolvimento é uma característica fundamental para toda a vida. Sistemas vivos, os organismos, ecossistemas ou sistemas sociais se desenvolvem.

Crescem, amadurecem e criam novas formas e novos padrões de comportamento. As ciências da vida também nos ensinam que o desenvolvimento de um sistema vivo, tipicamente inclui um período de rápido crescimento físico.

Este é um período pertinente a um organismo jovem. Nos ecossistemas esta é a fase inicial que é caracterizada pela expansão rápida e pela colonização do território.

Este rápido crescimento é sempre seguido por um crescimento mais lento, pela maturação, e finalmente pelo declínio e decadência ou, nos ecossistemas, chamado de sucessão.

Quando nós estudamos a natureza podemos ver muito claramente que crescimento indefinido e irrestrito é insustentável. Por exemplo, há rápido crescimento com células cancerosas, mas não se sustenta porque as células morrem quando o organismo hospedeiro morre.

Vemos que, embora crescimento seja uma característica fundamental da vida, crescimento indefinido não é sustentável. Mas é importante notar que mesmo sem expansão física, pode haver desenvolvimento porque pode haver aprendizado e maturação ocorrendo sem crescimento físico.

O segundo significado do desenvolvimento é aquele usado por economistas e políticos, sendo muito diferente. A primeira coisa que percebemos é o diferente uso gramatical do verbo “desenvolver”.

Nas ciências da vida é usado como um verbo intransitivo todos os sistemas vivos desenvolvem-se; organismos vivos desenvolvem-se; pessoas desenvolvem-se. Há um senso de desdobramento, de percepção do nosso potencial.

Economistas usam o verbo “desenvolver” como verbo transitivo, “pessoas desenvolvem as coisas”. Há uma categoria completa de pessoas de negócios que se proclamam desenvolvimentistas e saem por aí desenvolvendo coisas. Desenvolvem propriedades, como sítios, terras, edifícios e outros.

O outro fenômeno extraordinário é a categorização do mundo inteiro numa única dimensão. Países e pessoas são “desenvolvidos” ou eles estão “se desenvolvendo” ou eles são “subdesenvolvidos”.

É exatamente como a tabela de um campeonato de futebol, com os países ricos figurando em primeiro e antes de todos os Estados Unidos e os países pobres no final.

Não é de espantar que 25% das crianças americanas agora vivem abaixo da linha de pobreza; que os EUA gastam mais em prisão do que em educação superior, e que é o único país industrial que tem a pena de morte.

A gigantesca diversidade da existência humana agora está concentrada numa simples dimensão chamada “desenvolvimento” a qual é freqüentemente medida simplesmente em receita “per capita”.

É um conceito absolutamente assustador que pessoas inteligentes vivendo neste mundo espantosamente diverso, tenham permitido que tal construto intelectual se tornasse tão poderoso.

Quando nós olhamos detalhadamente para o conceito de desenvolvimento econômico podemos observar três características básicas:

1. Desenvolvimento é um conceito do hemisfério norte. A tabela de classificação entre “desenvolvido/em desenvolvimento/subdesenvolvido”, está arquitetada conforme um critério do hemisfério norte. Os países que são desenvolvidos são aqueles que adotaram o estilo de vida industrial do hemisfério norte. Assim, desenvolvimento é um conceito profundamente monocultural. Ser um país em desenvolvimento significa obter sucesso nas suas aspirações de se tornar como os do hemisfério norte.

2. Desenvolvimento significa desenvolvimento econômico. Não há outras aspirações sociais ou valores culturais permitidos a entrar no caminho deste desenvolvimento. Se puderem co-existir com o desenvolvimento melhor, se não puderem serão exterminados.

3. O desenvolvimento econômico é um processo de cima para baixo, descendente. Decisão e controle encontram-se firmemente na mão de especialistas, administradores do capital internacional, burocratas de governos, do banco mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI), e outros.

Em resumo existem três características do desenvolvimento na forma como é correntemente representada no palco mundial, é nortista, puramente econômico e descendente.

Fonte – Roberto Naime, Fritjof Capra e os transgênicos, EcoDebate de 19 de maio de 2016

 

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