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O rótulo alterado

Mais uma vez, a liberdade de escolha é afrontada pela Câmara dos Deputados, que acaba de aprovar a resolução da retirada dos rótulos do “T” que alertava para produtos transgênicos. O projeto de autoria do deputado gaúcho Luis Carlos Heinze (PP-RS) é uma síntese da inexistência de liberais de fato neste país: liberais que defendam o princípio básico de liberdade de escolha. Isso significa que eu, você ou a mãezinha que escolhe a papinha do seu filho não poderemos saber que tipo de produto vamos consumir. Segundo o deputado, não há necessidade de informar o público, já que, na visão dele, os transgênicos são absolutamente seguros. Será?

Qual a razão econômica do nobre deputado se empenhar tanto na alteração de um simples rótulo que dava o direito de escolha às pessoas? Por que tanto empenho do deputado em garantir o lucro do agronegócio em detrimento do direito do cidadão de escolher o que ele deseja consumir? Ok, se o sujeito acredita que transgênicos não são problema e os consome; mas onde fica o meu direito de não acreditar que eles são produtos benéficos para a minha saúde? Enquanto isso, na Europa até mesmo a ração animal é identificada quando usa produtos geneticamente modificados. E o consumidor europeu cada vez mais exige a identificação de todo e qualquer rótulo, e cada vez consome menos esse tipo de alimento. Mas por aqui os “interéeeeesssessss” do lobby mais rastaquera continuam dando as cartas. São eles que elegem esses senhores com seus discursos moralistas, anticorrupção e mil blá-blá-blás, mas que no fundo só representam interesses econômicos muito bem conhecidos.

Enfim, termino rezando para que nasça algum liberal neste país que defenda o princípio da liberdade de escolha. Ou, quem sabe, apelamos para a velha esquerda defender um princípio liberal, garantindo o nosso direito. Esse Congresso atual é para envergonhar qualquer cidadão minimamente informado. E, mais uma vez: não sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra. O Brasil está na contramão da legislação dos países mais desenvolvidos, que têm, sim, a identificação dos produtos como transgênicos ou não. O nobre deputado Heinze, que já ofendeu índios, negros e homossexuais como “tudo aquilo que não presta”, diz bem a que veio.

Fonte – Adriana Franciosi, jornalista e fotógrafa, Jornal Zero Hora / IHU de 05 de maio de 2015

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