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Peixes estão comendo plástico porque ele tem um cheiro delicioso

Cardume de anchovas do norte (Matthew Savoca)

Todo ano nossa civilização despeja cerca de oito milhões de toneladas de plástico no oceano, e parte disso acaba no estômago de peixes e, consequentemente, em nossos jantares. Uma nova pesquisa sugere que pelo menos uma espécie de peixe não está interessada nestes resíduos por acaso – o cheiro do plástico os atrai.

A anchova do norte (Engraulis mordax) um cardume comum encontrado na costa oeste do norte dos Estados Unidos e parte crucial da cadeia alimentar oceânica – consome plástico porque ele tem o mesmo cheiro que suas presas, de acordo com uma nova pesquisa publicada ontem na Proceedings of the Royal Society B. Dada a importância ecológica destes animais marinhos, essa descoberta carrega grandes implicações para o bem estar da cadeia alimentar aquática e, possivelmente, da saúde humana.

O olfato é importante aos peixes. Alguns tubarões podem cheirar pequenas quantidades de químicos associados a suas presas, e salmões usam da mesma habilidade para subir rios até o local de desova. Outros peixes usam o cheiro para caçar, acasalar, migrar e colher. Infelizmente, como explica Matthew Savoca, pós-doutorando da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), em seu novo estudo, o senso de cheiro pode ser um problema para as anchovas, que consideram o cheiro de plástico irresistível.

Com seus colegas, Savoca pretendia determinar se plástico tinha o mesmo cheiro que comida para estas espécies. Pesquisas anteriores completadas por cientistas japoneses mostram que anchovas consomem micro fragmentos de plástico e missangas, mas Savoca queria saber se estes peixes inadvertidamente ou deliberadamente consumiam estes pequenos pedaços de plástico (um importante adendo: em 2016 um estudo mostrou que larvas de peixes ficavam presas em micro fragmentos de plástico, mas a pesquisa foi desconsiderada pela Science depois de revelado que ela era falsa).

Para o experimento, os pesquisadores da NOAA precisaram de água fria de rápido fluxo e cardumes de pelo menos 100 anchovas. Com essa configuração, os peixes nadaram devagar no sentido do fluxo, mas ao sentir a presença de comida, o comportamento dos espécimes mudava significantemente. O time de Savoca trabalhou em conjunto com o Aquário da Baía de São Francisco para replicar tais condições.

Para testar a hipótese, os pesquisadores mergulharam por algumas horas em água salgada krill (crustáceos parecidos com minúsculos camarões que anchovas gostam de comer) e resíduos de plástico, para que a água de cada amostra ficasse com o cheiro do alimento e do plástico. Armados com uma GoPro, os pesquisadores observaram mudanças no comportamento tanto quando as anchovas eram expostas a água salgada com cheiro de krill ou a água salgada com cheiro de plástico ou a água salgada sem cheiro (para controle). Usando uma combinação automatizada para análise e observação, o time avaliou quão juntos os cardumes ficavam, e como mudava o corpo de cada peixe antes e depois da adição da água salgada com cheiro.

Esquerda: anchovas nadando em água do mar sem cheiro. Direita: Anchovas exibindo comportamento alimentar depois de serem expostas ao odor de resíduos plásticos. (Imagem: Matthew Savoca)

“Quando injetamos água salgada com cheiro de krill no tanque, a resposta das anchovas foi a de procurar por comida – que no caso não estava lá”, nota Savoca no The Conversation. “E quando apresentamos a água salgada com cheiro de plástico, os cardumes responderam quase que da mesma maneira, se aglomerando e se movendo aleatoriamente como se estivessem procurando por comida. Essa reação providenciou a primeira evidência comportamental que vertebrados marinhos podem ser enganados para consumir plástico dependendo do cheiro dele”.

As observações mostram duas coisas – que anchovas do norte usam seu senso de cheiro para encontrar comida (o que, surpreendentemente não tinha sido provado antes) e que resíduos plásticos estão confundindo anchovas, que os interpretam como comida devido ao cheiro.

Para o futuro, cientistas precisam determinar se outros peixes são atraídos por estes plásticos – comportamentos alimentares e se a contaminação destes plásticos está sendo transferidas para os peixes e se, por consequência, para humanos que comem peixes. Enquanto isso, deveríamos todos parar de usar itens de plástico e reciclá-los em vez de jogá-los no lixo.

Fontes – George Dvorsky, Proceedings of the Royal Society B / Gizmodo de 16 de agosto de 2017

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