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Plástico oceânico, muita pesquisa mas ainda pouca solução

Por Tania RabesandratanaSCIENCE – 10 de junho de 2021 – O plástico está cada vez mais onipresente, mesmo em águas oceânicas remotas. Essas peças microscópicas foram encontradas no Oceano Ártico. Arte Elisa Marti e Andres Côzar – Universidade de Cádiz

Plástico oceânico tem muita pesquisa mas ainda pouca solução.

É o que mostra o último relatório da ONU que a UNESCO publica a cada 5 anos.

Além disso, o relatório mostra um grande crescimento de pesquisas voltadas ao assunto, pois de apenas 46 artigos em 2011 passou para 853 em 2019.

Ademais este assunto superou outros 55 tópicos relacionados ao desenvolvimento, ultrapassando temas como culturas preparadas para o clima, captação da água, hidrogênio como energia, captura de carbono, entre outros.

Interesse e visibilidade do plástico

Portando, segundo pesquisadores isso se justifica pela visibilidade e interesse que o plástico gera, tanto no público como nos formuladores de políticas.

O plástico acaba por toda parte, do topo do Monte Everest até cantos remotos da Antártida.

Todos os anos, milhões de toneladas de plástico descartado também se lavam no oceano.

Alguns deles flutuam em remendos de lixo gigantes, enquanto outros pedaços caem no fundo do mar, até mesmo aparecendo nos traseiros dos crustáceos em profundas trincheiras oceânicas.

 “Ele realmente disparou nos últimos anos”, diz Erik Van Sebille, oceanógrafo e cientista climático da Universidade de Utrecht na Holanda, que usa partículas plásticas como rastreadores para estudar a dinâmica do oceano.

 “O plástico é mais visível do que contaminantes, como metais ou compostos orgânicos, e chama mais atenção do público e dos formuladores de políticas.” afirma  Carmen Morales, ecotoxicologista do Laboratório de Lixo Marinho da Universidade de Cádiz, Espanha.

Pesquisas sobre plásticos evoluem lentamente

Mas as lacunas permanecem na pesquisa.

Além disso, acabam tratando sempre dos mesmos tópicos, ou seja, sobre a presença dos plásticos nos diferentes compartimentos ambientais e em especial nos oceanos, sem no entanto progredir no estudo das fontes e das soluções para o problema.

Plástico oceânico, muita pesquisa mas ainda pouca solução, este é o resultado que acaba aparecendo no relatório.

Os periódicos “ainda recebem muitos artigos que lidam exatamente com os mesmos tópicos: a presença de plástico nas praias, no fundo do mar ou em animais, mas não [muitos] sobre fontes ou soluções”, diz Ángel Borja, ecologista marinho do centro de pesquisa AZTI em Pasaia, Espanha.

Morales identificou as fontes combinando dados de estudos dispersos em um inventário de 12 milhões de itens de lixo com mais de 2 centímetros. 

Sua equipe descobriu que as embalagens de comida e bebida para viagem eram as mais difundidas.

Assim, sacolas plásticas, garrafas, recipientes e embalagens descartáveis eram responsáveis por 44% de todos os resíduos em todos os ambientes.

 

 

Efeitos ecológicos da poluição plásticaPesquisadores também estão tentando entender os efeitos ecológicos da poluição plástica.

O plástico em si é inerte, mas muitas vezes contém aditivos tóxicos, como retardantes de chama, pigmentos ou produtos químicos para tornar o plástico mais flexível e durável.

“Esses aditivos são o que nos preocupa”, diz Morales. Outras substâncias nocivas, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, podem entrar nos ecossistemas aderindo ao plástico à deriva.

Partículas microplásticas erodidas de objetos maiores podem acabar do mesmo tamanho que plâncton, então animais marinhos as comem sem derivar qualquer nutrição.

Partículas menores e nanoplásticas podem ser as mais prejudiciais: podem ser minúsculas o suficiente para penetrar tecidos, onde sua forma pode fazer a diferença.

No entanto, os efeitos  ecotoxicológicos globais do plástico são mal compreendidos.

Além disso, uma das dificuldades para os laboratórios é reproduzir o coquetel de partículas a que os organismos estão expostos no ambiente.

Ações de contenção do problema

Para conter o acúmulo de detritos, muitos países mudaram para eliminar gradualmente os plásticos de uso único. Assim, em 2018, 127 haviam aprovado legislação para regulamentar sacos plásticos, diz a UNESCO.

Mas dadas as baixas taxas de reciclagem, diz o relatório, as proibições não serão suficientes: alternativas biodegradáveis serão necessárias.

Pesquisas sobre tais materiais, derivados de hidrocarbonetos à base de plantas, também estão crescendo rapidamente, mas em menor velocidade do que estudos que descrevem o problema.

As publicações sobre alternativas ecológicas a plásticos quase triplicaram de 404 em 2011 para 1111 em 2019, segundo o relatório da ONU.

“Estou feliz [em ver os números] porque significa que tomei a decisão certa de mudar meu foco de pesquisa”, diz Carla La Fuente, engenheira química pós-doutora da Universidade de São Paulo, Piracicaba, que está desenvolvendo métodos verdes para fazer plástico biodegradável a partir do amido de mandioca.

A oceanógrafa Tiffany Straza, editora-adjunta do relatório na UNESCO, vê paralelos entre a poluição plástica e o problema dos resíduos nucleares.

“Havia essa ideia de que nosso conhecimento científico e soluções para o descarte de resíduos evoluiriam juntos, enquanto perseguimos essa tecnologia avançada”, diz ela. No entanto, as práticas de eliminação de resíduos nucleares atrasaram enquanto a energia nuclear cresceu. “Não estou convencida de que aprendemos essa lição”, diz ela. “Vamos fazer o mesmo com plásticos?”

 

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