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Problema do plástico é reconhecido mas nem todos mudam de comportamento

Há portugueses que não conhecem as alternativas ecológicas como os sacos de pano, escovas em bambu ou garrafas reutilizáveis

Uma baleia morreu depois de ter engolido mais de 80 sacos de plástico no sul da Tailândia. O caso remonta a junho e foi noticiado um pouco por todo o mundo. Os portugueses mostraram-se sensibilizados, mas nem todos estão disponíveis para mudarem os seus comportamentos. E isso é visível pelo estudo levado a cabo pela Quercus, que revela que os portugueses inquiridos numa campanha de sensibilização conhecem o problema ambiental causado pelos descartáveis de plástico, mas apenas metade mudou o seu comportamento.

As conclusões do inquérito a uma amostra de 300 pessoas “permitiram demonstrar que, apesar de 95,9% dos participantes conhecerem o problema ambiental do uso de descartáveis e dos microplásticos, apenas 49,6% mudaram o comportamento adotando melhores práticas no seu dia-a-dia”, refere a associação de defesa do ambiente Quercus.
Naquele grupo de inquiridos, 22,6% não conhecem as alternativas ecológicas aos descartáveis, como os sacos de pano, escovas em bambu, garrafas reutilizáveis ou palhinhas em inox, a maioria tem dúvidas na identificação dos produtos que contêm microplásticos e 65% não sabem identificar os plásticos recicláveis.

E os números não ficam por aqui. Só no ano passado, cada português produziu 1,32 quilos de resíduos por dia. Os dados são do relatório do estado do ambiente divulgado pela agência Lusa. Foram praticamente cinco milhões de toneladas de lixo, mais 2,3% do que em 2016. Do total de resíduos urbanos recolhidos, 83,5% tiveram origem na recolha indiferenciada.

Limpeza Outra preocupação diz respeito às praias. Os plásticos dominam os resíduos encontrados no Mediterrâneo, a maior parte com origem na Turquia e Espanha, e afetam Portugal, alertou a organização ambientalista internacional WWF. Em Portugal, “os microplásticos predominam nas areias das praias, representando 72% do lixo encontrado em zonas industriais e de estuários”, salientou.

Segundo trabalhos científicos referidos pela WWF, Portugal apresenta “dados preocupantes ao longo da cadeia alimentar marinha, nomeadamente em espécies que servem de alimento a peixes e mamíferos”.

Os artigos, refere a organização, destacam as zonas de Lisboa e Costa Vicentina pela proximidade aos estuários do Tejo e Sado, apresentando elevadas densidades de microplásticos. E acrescenta ainda que “20% dos peixes de consumo quotidiano têm microplásticos nos seus estômagos e 80% das tartarugas-marinhas-comuns (Caretta caretta), cujos juvenis têm zonas de alimentação nos Açores, comem lixo, na sua maioria plástico”.

A pensar nisso foi lançada uma campanha de reciclagem de plástico que percorre 14 praias portuguesas com o objetivo de levar os utentes a recolher o plástico das praias, para ser depois transformado em aparelhos de atividade física. Os aparelhos de atividade física conseguidos através do projeto “TransforMAR” serão devolvidos às praias onde decorreu a recolha do plástico reciclado.

A par disso vão surgindo também movimentos organizados pela população com o mesmo objetivo: limpeza do areal. Foi o que aconteceu recentemente na praia de Carcavelos, em Cascais. Mas a esta iniciativa juntam-se muitas outras.

Tolerância zero

O certo é que, face a estes números, Bruxelas quer declarar guerra aos desperdícios de plástico e pretende acabar com o plástico descartável até 2030. O objetivo é que, até essa data, todo o tipo de embalagens e empacotamento sejam feitos com recurso a materiais reutilizáveis ou recicláveis. No entanto, a estratégia europeia para os plásticos tem em conta “uma razão económica de peso” para seguir esse caminho e que a Europa deve estar na vanguarda da reciclagem e reutilização de materiais, criando “novas oportunidades de investimento e novos postos de trabalho” numa indústria que emprega 1,5 milhões de pessoas e move 340 mil milhões de euros.

A Comissão Europeia quer tornar a reciclagem mais rentável para as empresas e defende que a União Europeia deve fazer novas normas para embalagens, tornando o plástico utilizado mais reciclável e aumentando e melhorando a recolha para poupar “cerca de cem euros por cada tonelada de resíduos recolhida”.

A criação de 200 mil empregos no setor de triagem e reciclagem é outra das metas que devem ser alcançadas até 2030. Ao mesmo tempo, estão previstos 100 milhões de euros adicionais para financiar “a criação de materiais plásticos mais inteligentes e mais recicláveis, o aumento da eficiência do processo de reciclagem e o rastreio e eliminação de substâncias perigosas e contaminantes de plásticos reciclados”.

“Se não mudarmos a forma como produzimos e utilizamos os objetos de plástico, em 2050 haverá mais plástico do que peixes nos nossos oceanos”, já argumentou o responsável pelo desenvolvimento sustentável e vice-presidente da comissão, Frans Timmermans.

Fonte – Sônia Peres Pinto, Jornal i de 12 de agosto de 2018

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