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A partir de 1º de agosto a Humanidade entra em déficit ambiental com o planeta

Reservatório do Boqueirão, em Campina Grande, secou no início do ano passado – Ueslei Marcelino / Agência O Globo

Dia de Sobrecarga da Terra chega mais cedo que em anos anteriores

No próximo dia 1º, a Humanidade entrará em déficit com o planeta, alerta a ONG Global Footprint Network. Cinco meses antes de o ano terminar, teremos consumido todo o orçamento anual de recursos naturais. A data, batizada como Dia de Sobrecarga da Terra, marca o momento em que o consumo de recursos — alimentos, água, fibras, madeira, terra e emissões de carbono — supera o volume que o planeta é capaz de renovar. Neste ano, a data chegou mais cedo que em qualquer outro desde que o planeta entrou em sobrecarga, na década de 1970.

— Nós estamos usando recursos futuros da Terra para operar no presente e cavando cada vez mais fundo o déficit ecológico — afirmou Mathis Wackernagel, diretor executivo da Global Footprint Network. — É hora de acabar com esse esquema e alavancar nossa inventividade para criar um futuro próspero, livre dos combustíveis fósseis e da destruição planetária.

Hoje precisaríamos de ‘1,7 Terra’

O cálculo considera a chamada “pegada ecológica”, que mede a quantidade em área de terra e água necessária para sustentar uma população humana — em termos de recursos renováveis consumidos e absorção dos rejeitos — em relação à capacidade da biosfera de se regenerar. E essa conta não fecha. Para a manutenção da população global, com os níveis atuais de consumo, seria necessário o equivalente a 1,7 Terra.

A emissão de carbono é o principal problema. De acordo com os cálculos, ela responde por cerca de 60% da pegada ecológica global. As mudanças climáticas, antes vistas como um fenômeno futuro, já estão em marcha, apesar de as pessoas, no dia a dia, sentirem pouco além do calor excessivo no verão. Este ano está sendo marcado por ondas de calor atípicas em todo o Hemisfério Norte, do Japão aos EUA, causando mortes e fenômenos impensáveis anos atrás.

O Japão registrou nesta segunda-feira temperatura recorde de 41,1 graus Celsius, a maior desde o início dos registros, em 1896. Segundo dados oficiais, 12 pessoas já morreram desde o dia 15 de julho por causa das altas temperaturas, mas a imprensa calcula que o número de mortos já passou dos 30. Na gelada Suécia, temperaturas acima dos 30 graus Celsius, junto com um período prolongado de seca, estão provocando dezenas de incêndios florestais dentro do Círculo Polar Ártico. Nos EUA, o mês de maio foi o mais quente de todos os tempos, superando o mítico ano de 1934.

Incêndios florestais avançam na Suécia, dentro do Círculo Polar Ártico – MATS ANDERSSON / AFP

— Mesmo com o Dia de Sobrecarga da Terra, hoje pode parecer sem diferenças em relação a ontem. Ainda temos a mesma comida na geladeira — comentou Wackernagel. — Mas incêndios estão acontecendo na Costa Oeste dos EUA. Do outro lado do mundo, moradores de Cidade do Cabo tiveram que cortar pela metade o consumo de água. Essas são consequências do estouro do orçamento do nosso unitário e único planeta.

Reduzir carbono, reduzir desperdício

Contudo, há esperanças, ressalta a ONG. Na China, a adoção acelerada de fontes de energia limpas reduziu a pegada ecológica per capita em 1,2% entre 2013 e 2014. Nos países ricos, em média, a redução foi de 12,9% desde 2000, com Cingapura liderando as mudanças com 31,1%. Pelo Acordo de Paris, assinado em 2015, mais de 190 países se comprometeram a agir para manter o aquecimento do planeta abaixo de 2 graus Celsius até o fim do século, em relação aos níveis pré-industriais. E isso exige a redução das emissões ou o sequestro de gases do efeito estufa.

— Mas o Dia de Sobrecarga da Terra continua chegando cada vez mais cedo — notou Emanuel Alencar, editor de conteúdo do Museu do Amanhã. — A verdade é que o acordo ainda está sendo ineficaz para que a data fosse jogada mais para frente. Os efeitos práticos ainda estão aquém do desejado.

A Global Footprint Network identificou algumas soluções que podem adiar o Dia de Sobrecarga da Terra. Nas cidades, se os motoristas cortassem a quilometragem percorrida pela metade e substituíssem por transporte público, caminhadas ou bicicleta, a data seria atrasada em 12 dias. Reduzir o componente do carbono na pegada ecológica em 50% moveria a data em três meses. Na alimentação, se o mundo cortasse o desperdício pela metade, a data seria atrasada em 38 dias.

— É possível mudar — pontuou Alencar. — Para marcar a data, nós vamos exibir um documentário que mostra o impacto ambiental da criação de gado. Não é propaganda vegetarianista, mas um debate sobre o que está por trás da carne que a gente compra no mercado. Se cada pessoa reduzisse em um dia o consumo semanal de carne, poderíamos adiar o Dia de Sobrecarga da Terra.

Fonte – Sérgio Matsuura, O Globo de 24 de julho de 2018

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