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Abelhas sem ferrão, mel, geleia real, própolis: afinal, o que é tudo isso?

Colmeia de abelha nativa, também chamada de mansa e sem ferrão: as mais de 300 variedades produzem meles magníficos

Abelhas são um dos animais mais importantes do planeta – e não por que produzem mel. Por mais prazeroso que seja o viscoso e doce líquido, ele não é a razão pela qual precisamos cuidar muito, muito bem das abelhas. A principal razão é: nossa comida depende da existência delas.

Cerca de 80% da polinização de todas as plantas do planeta é feita pelas abelhas. Enquanto grãos são primordialmente polinizados pelo vento, frutas, nozes e vegetais são polinizados por elas. De quinze anos para cá, porém, a população de abelhas vem diminuindo drasticamente em todos os pontos do globo – as principais razões são o uso excessivo de agrotóxicos e a propagação de imensas monoculturas, que destroem seu habitat natural. Este fenômeno foi batizado de colony collapse disorder (síndrome do colapso da colônia).

O fato é: sem abelhas, o mundo sofrerá com escassez de alimentos e surtos de fome de proporções catastróficas.

Para saber mais sobre o tema, clique AQUI e AQUI.

Para entender sobre esses insetos primordiais à vida, visitamos a Fazenda Itaicá, da marca MBee Mel de Terroir. Situada na Serra da Bocaina, a Fazenda Itaicá conta tanto com criação abelhas africanas (também conhecidas como europeias e italianas) – aquelas com listrinhas pretas e amarelas) quanto de abelhas nativas (sem ferrão).

E, vou dizer, os meles das mais de trezentas espécies de ‘abelhas mansas’ são infinitamente mais interessantes gastronomicamente. Meles que, por sua vez, também estão ‘entrando em extinção’: o desconhecimento por parte do público, e o consequentemente não-consumo, faz com que cada vez menos gente se interesse em produzi-los. Eu os considero uma iguaria, assim como trufas e caviar.

Então, comecemos pelo começo:

O que é mel?

O mel é o alimento principal das abelhas. Os grãos de pólen, retirados das flores, são suplementos. Quando extraímos mel para consumo humano, estamos tirando comida da colmeia – da mesma forma que acontece com leite em vacas, ovelhas, cabras. Por isso há que existir bom senso e boas práticas de manejo.

Como abelhas produzem mel?

O néctar coletado das flores pelas abelhas operárias – néctar é uma solução de açúcares com água, produzida pelas flores – é transportado para o enxame, maturado, concentrado e transformado em mel. Inicialmente, as abelhas operárias armazenam o néctar coletado em sua vesícula melífera (papo de mel) localizada ao lado do estômago e o transportam até o enxame. Então, o repassam para outra abelha operária, boca a boca. Nesta ocasião, ocorre a reação enzimática do organismo da abelha operária, a sacarose, que é a principal substância do néctar e que é transformado em frutose e dextrose. As abelhas operárias que receberam o néctar transportam-no para armazenar na melgueira e produzem vento, batendo suas asas, a fim de evaporar a umidade. A temperatura de 34 graus no interior da colmeia também acelera a concentração e a maturação do mel. As melgueira com mel maturado são fechadas com a cera.
(texto adaptado do site Yamada Bee Farm).

Qual o papel do pólen?

Ele é o principal produto não-líquido da dieta das abelhas, e é à partir de sua obtenção que elas elaboram a geléia real, alimento da rainha. No momento em que as abelhas operárias mergulham no interior da flor em busca do néctar, os grão de pólen agarram nas penugens que envolvem seu corpo. Ao irem de uma à outra, “deixam” alguns grãos, o que causa a polinização das plantas.

O pólen que resta nas abelhas é umedecido com néctar, levado para a colmeia, triturado e guardado no fundo do enxame para futuro consumo.

Larva da abelha rainha sendo alimentada com geleia real

O que é geleia real?

É o alimento exclusivo da abelha rainha. Na verdade, é alimentando uma larva comum exclusivamente com geleia real que ela se tornará rainha.

A geleia real é preparada com o pólen armazenado no fundo do enxame misturado a secreção glandular das abelhas operárias. O resultado é um superalimento: por conta dela, a abelha rainha – que come geleia real desde sua fase de larva – terá até três vezes o tamanho de uma abelha operária. A alimentação também impacta outros aspectos: enquanto as operárias vivem entre 30 e 45 dias, a rainha vive cerca de 4 anos.

Ao contrário do mel, a geleia real não é palatável aos humanos.

Manejo de abelhas europeias na fazenda da MBee Mel de Terroir

E o que é própolis?

Algumas árvores encontradas na natureza produzem um tipo de resina com propriedades antibacterianas e antifúngicas que protegem o vegetal do ataque de insetos e fungos. Ao coletarem essa resina, as abelhas a levam para a colmeia. Lá, será misturada à cera e também a secreções salivares, formando a própolis, substância rica em antioxidantes.

Na colmeia, a própolis é utilizada no preenchimento de espaços, como falhas e rachaduras, que podem servir de entrada ao frio e também a predadores; para embalsamar insetos ou outras abelhas intrusas que porventura entrem na colmeia; e também para recobrir as células que guardarão os ovos colocados pela rainha. A própolis tem uma função muito importante na colmeia: elimina micro-organismos e outros agentes infecciosos.

Meles de abelhas nativas: para mim, uma iguaria tão incrível como trufas ou caviar

O que são abelhas sem ferrão?

Jupará, Jandaíra, Jandaíra-Preta, Uruçu-Boca-de-Renda, Mandaçaia, Guarupú, Guaraipo,Monduri, Rajada,Tiúba, Jataí: já ouviu falar de alguma delas? Pois as abelhas nativas eram as grandes estrelas por aqui antes da chegada da Apis mellifera – aquelas abelhas de listras amarelas e pretas- no continente americano. Na era pré produção de açúcar, o mel das abelhas nativas era o principal adoçante natural e fonte de energia indispensável aos humanos.

As abelhas sem ferrão, ou meliponíneos, ocorrem em grande parte das regiões tropicais da Terra, ocupando praticamente toda a América Latina e África, além do sudeste asiático e norte da Austrália. Mas é nas Américas que grande parte da diversidade de espécies ocorre: são aproximadamente 400 tipos descritos.

Porque acabaram relegadas a segundo plano? Principalmente por produzirem menos mel que as europeias. Por darem menos lucro, basicamente. Enquanto uma colmeia de apis mellifera – ou abelhas europeias – chega a produzir 40 kg de mel em um ano, as nativas dão, em média, 300 ml…

Quais as diferenças sensoriais de meles de abelhas europeias e nativas/sem ferrão?

Antes de tudo, é bom entender que o sabor e qualidade do mel vai depender de alguns fatores: alimentação e espécie da abelha. Alimentação, aqui, é um tema bem importante porque está ligado a biodiversidade – quantos maior a variedade de plantas de uma região, mais rica será a alimentação da colmeia e, portanto, mais sensorialmente interessante será o mel. Além disso, o bioma deve conter árvores que tenham floradas em diferentes épocas do ano para que as abelhas sempre tenham alimento (o que alguns produtores fazem é manter meia dúzia de árvores e ‘complementar’ a alimentação da colmeia no inverno com xarope de açúcar invertido…).

Em se tratando de espécie, posso dizer por experiência: em termos de descoberta de sabores, nada se compara a uma degustação de meles de abelhas nativas. Cada um deles tem notas próprias, completamente distintas.Um tesouro gastronômico que está logo aqui, no nosso quintal – mas corre risco de desaparecer se não dermos o devido valor.

Fonte – Ailin Aleixo, Gastrolândia de 02 de agosto de 2017

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