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Aquecimento global pode dobrar erosão no Sul do Brasil até ano 2099

Terra com grandes trechos desgastados pela erosão. A perda de solo é um grande problema para a agricultura (Foto: Thinkstcok/Getty Images)Terra com grandes trechos desgastados pela erosão. A perda de solo é um grande problema para a agricultura. Preservar matas de encosta e beira de rios ajuda a evitar o problema (Foto: Thinkstock/Getty Images)

Pesquisa inédita mapeia risco de perda de solo pela mudança no regime de chuvas do país. Áreas agrícolas mais vulneráveis do Sul podem ter até 109% de aumento no potencial erosivo

Um dos impactos pouco falados e estudados das mudanças climáticas é o potencial para aumentar a erosividade do solo. A erosividade é o potencial da chuva de causar a erosão do solo. As alterações nos regimes de chuva (com pancadas mais intensas em períodos mais curtos) podem mudar bastante a vulnerabilidade de cada região. Isso é agravado pelo desmatamento, que expõe o solo desprotegido. O resultado pode ser catastrófico, com a destruição de solo precioso para a agricultura e assoreamento de rios.

Apesar da importância do tema, há poucos estudos sobre isso. Mas, agora, um grupo de pesquisadores de Estados Unidos, Alemanha e Brasil fez o primeiro levantamento do risco climático para a erosividade nas regiões brasileiras. A pesquisa é coordenada por André Almagro, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Estudos desse tipo foram desenvolvidos nos Estados Unidos e na Europa. Esse é o primeiro do Hemisfério Sul.

nova pesquisa foi publicada na revista Scientific Report, da  Nature. No estudo, o grupo avaliou a influência das mudanças climáticas na erosividade das chuvas no Brasil até o ano 2099. Consideraram dados de precipitação de modelos de mudanças climáticas em dois cenários de emissão de gases do efeito estufa (médio e alto) até o fim do século. A análise sugere que as regiões mais afetadas, com aumento de até 109%, são o Nordeste e o Sul do Brasil. Do outro lado, reduções de até 71% na taxa de erosividade são estimadas para o Sudeste, o Centro-Oeste e o Norte do país.

Essas alterações estão associadas à intensificação da frequência e magnitude do El Niño, fenômeno cíclico de aquecimento das águas do Oceano Pacífico na faixa do Equador, com repercussões globais no clima. No Brasil, o El Niño provoca redução nas chuvas no Norte, no Nordeste e em partes do Sudeste. E aumento das chuvas no Sul. O impacto do El Niño é maior nas chuvas de verão (de janeiro a março) no Sul. O El Niño também interfere nas chuvas da Amazônia, reduzindo sua intensidade.

O possível aumento da erosividade na Região Sul pode afetar uma parcela significativa da produção agrícola do Brasil devido ao aumento das taxas de perda de solo e à diminuição da fertilidade do solo e da disponibilidade de água. Por outro lado, a diminuição projetada nas regiões Norte e Nordeste pode reforçar a tendência do desenvolvimento do agronegócio nessas áreas.

O estudo é um desdobramento do mapa global da erosividade, feito por Paulo Tarso, da UFMS. O mapa revelou que a Bacia Amazônica é uma das regiões do mundo mais vulneráveis à erosão. Embora a redução nas chuvas também tenda a diminuir a erosão na região, o desmatamento torna o solo mais vulnerável.

Os modelos feitos pelos pesquisadores são importantes para orientar ações que evitem a erosão. Desejáveis sempre, eles são ainda mais necessários se a tendência à perda de solo for ampliada pelas mudanças climáticas. A conversão de vegetação natural em área plantada torna a superfície mais vulnerável à erosão. Para evitar isso, é preciso adotar práticas sustentáveis de agricultura. É especialmente importante ser mais rigoroso com a manutenção de mata nas áreas de declive e nas margens dos rios, como prevê o Código Florestal.

Fonte – Alexandre Mansur, Blog do Planeta de 18 de agosto de 2017

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