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Dióxido de carbono na atmosfera baterá novo recorde em 2020 apesar da pandemia

Por MANUEL PLANELLES – El Pais – Madri – 23 novembro de 2020 – Foto Usina termoelétrica de carvão em Belchatow (Polônia).CZAREK SOKOLOWSKI / AP

Redução pontual devido ao confinamento não compensa décadas de aumento das emissões que provocam a mudança climática, segundo a Organização Meteorológica Mundial.

As medidas de confinamento mundiais ante a covid-19 quase não terão impacto na pronunciada curva de crescimento das concentrações na atmosfera do dióxido de carbono (CO2), causador da mudança climática. E a paralisação da economia mundial não significará uma redução no acúmulo de gases que esquentam o planeta, informou nesta segunda-feira a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Como consequência, níveis recordes serão novamente atingidos.

A OMM, vinculada às Nações Unidas, apresentou de forma virtual o boletim anual sobre a evolução dos três principais gases do efeito estufa: CO2, metano e óxido nitroso. Embora o documento se concentre nos dados fechados de 2019 ―quando as concentrações atmosféricas desses três gases voltaram a crescer―, a OMM já ofereceu algumas estimações para 2020.

O organismo lembra que os cálculos preliminares indicam que as emissões de CO2 feitas pelo ser humano diminuirão entre 4,2% e 7,5% este ano, ainda que a incerteza seja grande, pois falta saber se os confinamentos serão mais endurecidos na reta final de 2020. Em qualquer caso, a OMM afirma que, “em escala mundial, uma redução das emissões dessa magnitude não permitirá diminuir a concentração de dióxido de carbono atmosférico”. A redução apenas fará com que a concentração aumente “a um ritmo ligeiramente menor”.

 

Uma usina de geração elétrica de carvão na Alemanha.

Usina de Geração Elétrica movida a Carvão na Alemanha – WOLFGANG RATTAY / REUTERS

Essa desaceleração será similar às “flutuações normais no ciclo do carbono produzidas de um ano para outro”. Ou seja: no curto prazo, “o impacto das medidas de confinamento aplicadas em virtude da covid-19 não pode se diferenciar da variabilidade natural”, explica a OMM.

Cerca de metade do CO2 emitido pelo homem acaba se acumulando na atmosfera (a outra metade é capturada pela vegetação e pelos oceanos). Portanto, esse gás permanece concentrado na atmosfera durante séculos. As emissões antropogênicas têm crescido desde o século XVIII, na época pré-industrial. E se acentuaram nas últimas décadas. O ritmo foi tão elevado que “a última vez em que se registrou na Terra uma concentração de dióxido de carbono comparável foi entre três e cinco milhões de anos atrás”, afirmou nesta segunda-feira Petteri Taalas, secretário-geral da OMM.

O aquecimento e as mudanças no uso do solo aumentarão o risco de grandes incêndios florestais como o da semana passada na Califórnia.

O aquecimento e as mudanças no uso do solo aumentarão o risco de grandes incêndios florestais como o da semana passada na Califórnia. STUART PALLEY / EFE

As emissões históricas acumuladas, somadas à permanência do gás durante séculos na atmosfera, explicam, em parte, por que os confinamentos que levaram a reduções pontuais das emissões (não estruturais) quase não serão percebidos nas concentrações atmosféricas. O boletim da OMM explica que somente quando as emissões geradas pela queima de combustíveis fósseis se aproximarem de zero será possível começar a reduzir a concentração desse gás na atmosfera. “A pandemia de covid-19 não é uma solução para a mudança climática. No entanto, oferece uma oportunidade para que adotemos medidas climáticas mais sustentáveis e ambiciosas”, resumiu Taalas.

 

Foto ONU/Kibae Park – Desaceleração industrial não reduziu os níveis recordes de gases de efeito estufa

Novo recorde em 2019

Os dados reunidos pela OMM, através da rede mundial de estações de medição, confirmam que a concentração de CO2 na atmosfera voltou a bater recorde em 2019. A média anual foi de 410,5 partes por milhão (ppm), o que equivale a quase 48% a mais que os níveis pré-industriais, quando essa concentração girava em torno de 278 ppm. Por meio do estudo de alguns fósseis e blocos de gelo, porém, é possível estimar as concentrações de muito mais tempo atrás. Segundo Taalas, para encontrar uma concentração similar à atual na Terra, deve-se retroceder entre três e cinco milhões de anos. “A temperatura era na época dois a três graus mais quente, e o nível do mar, entre 10 e 20 metros superior ao atual”, afirmou.

 

Queda relacionada aos bloqueios é insignificante em longo prazo,Trinn Suwannapha/Banco Mundial

O CO2 é o gás que mais contribui para o aquecimento global, mas há outros que também preocupam, como o metano. Em 2019, a concentração desse gás ―que retém mais o calor, mas que só permanece na atmosfera por uma década― voltou a bater recorde. Atingiu 1.877 partes por bilhão (ppb), um aumento de 160% em relação aos níveis pré-industriais (722 ppb). A OMM explica que cerca de 40% das emissões de metano procedem de fontes naturais (como os pântanos) e os 60% restantes se devem a atividades vinculadas com o ser humano, como a pecuária, a agricultura, os combustíveis fósseis e a gestão de resíduos. Por último, a OMM destaca que a concentração de óxido nitroso, outro gás do efeito estufa (e que além disso degrada a camada de ozônio), chegou a 332 ppb em 2019, 23% a mais que no século XVIII (270 ppb).

 

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