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Dos dinossauros à embalagem one way: o desafio de reduzir emissões

O plástico responde por uma importante parcela dessas emissões: gerou 1,8 gigatonelada em 2019, ou 3,4% das globais.

Mais de 90% se deram na produção e conversão do plástico, o que aponta a economia circular com enorme potencial para a mitigação.

Uma das formas de frear o crescimento das emissões é aumentar ao máximo o ciclo de vida do plástico.

Usar diversas vezes a mesma embalagem, com preferência para recipientes retornáveis, por exemplo, é uma boa maneira de alongar o ciclo – embora essa alternativa ainda apresente dificuldades logísticas e de conveniência que dificultam uma adesão em maior escala.

Outra maneira de esticar a vida útil é preferir o consumo de embalagens e produtos feitos com plástico reciclado.

Os dois casos reduzem a necessidade de uso da resina virgem e, consequentemente, as emissões a ela relacionadas.

Pode-se  perguntar também se a substituição de plásticos por outros materiais reduziria a pegada de carbono.

Segundo o relatório da OCDE, a resposta é negativa, em parte devido aos componentes comportamentais do uso de um produto, mas também ao gerenciamento de seu ciclo de vida.

A pegada de carbono de uma garrafa de plástico, por exemplo, é quase sempre melhor do que sua contraparte de vidro, como mostra esse gráfico:

 

A pegada de carbono de uma garrafa de plástico não retornável é maior que a equivalente de plástico

Quando comparado com outros materiais em uma mesma função, o plástico costuma ser muito eficiente em termos de carbono, como mostra o Veolia Plastic White Paper. Chega a conclusão similar o relatório Climate Impact of Plastics, da consultoria McKinsey, segundo o qual as emissões de plásticos foram de 10% a 90% menores ao considerar o ciclo de vida do produto e o impacto do uso, na grande maioria das aplicações analisadas.

É evidente que o consumo e descarte de plástico desenfreado gera problemas substanciais para o planeta, que estão cada vez mais conhecidos por meio de informações veiculadas nos meios de comunicação.

O entendimento, no entanto, é que não se dá até hoje a necessária importância para a eficiência do plástico em relação ao seu consumo de carbono, quase sempre substancialmente menor do que alternativas como aço, alumínio e vidro.

Sob essa perspectiva, torna-se imperativo que a economia circular do plástico seja ampliada rapidamente. A reciclagem é necessária, não só para reduzir emissões, mas também para mitigar outros impactos relevantes gerados pelo plástico.

Medir para gerir

Seguindo a conhecida máxima de que só se pode gerenciar aquilo que for medido, o primeiro passo para orientar políticas de controle de emissões é conhecer a quantidade de gases de efeito estufa emitida por pessoas, empresas ou tipo de atividade.

As políticas de mensuração, gestão e redução de carbono são cada vez mais cobradas das organizações empresariais, em consonância com a agenda ESG (que segue segue critérios ambientais, sociais e de governança) e as ações rumo ao net zero (que buscam emissão líquida de carbono igual a zero).

Claro que tudo isso também vale para a indústria do plástico e as empresas que os utilizam em seus produtos e embalagens.

Para facilitar o cálculo do inventário de emissões nas organizações, o programa GHG Protocol separa as emissões de carbono em três escopos.

O escopo 1 trata das emissões diretas geradas dentro das operações da própria empresa, enquanto o 2 refere-se às emissões oriundas do consumo de energia.

Quanto mais se usam fontes renováveis, menores as emissões, contribuindo para a economia circular. Já o escopo 3 é mais complexo de medir porque abarca as emissões indiretas sobre as quais a empresa tem menor controle, como aquelas geradas pela cadeia de valor, tanto a montante como a jusante (saiba mais aqui).

Além de fazer inventário de emissões, é possível calcular especificamente a pegada de carbono do plástico reciclado, considerando o que se deixa de emitir quando se usa o material reciclada.

A Wise Plásticos, empresa que transforma o plástico em fim de vida em resina reciclada, já vinha fazendo inventário de carbono desde 2020, e passou também a calcular a pegada de carbono especificamente das resinas recicladas.

Esse cálculo tem sido feito em parceria com a WayCarbon, reconhecida consultoria do setor.

Para isso, segue as metodologias ISO 14.044, 14.040 e 14.067, o que confere credibilidade e transparência ao processo.

O estudo comprova que o uso dessa resina reciclada emite 525 quilos de CO2 equivalente por tonelada, desde sua coleta até a entrega na empresa de transformação (dióxido de carbono equivalente é o resultado da multiplicação das toneladas emitidas de gases de efeito estufa pelo seu potencial de aquecimento global).

O resultado corrobora alguns estudos internacionais, mostrando que a redução é da ordem de 60% a 70% em relação à resina virgem. Isso significa que, se a resina virgem emite 1 unidade de carbono, a reciclada emite 0,4 a 0,3 – essa variação depende da escolha do modelo de cálculo.

No caso da Wise, entram nesse cálculo fontes emissoras como matéria-prima, insumos, energia e logística, ou seja, a coleta do plástico em fim de vida, o seu transporte até a Wise, o processo de reciclagem em si (que demanda uso de insumos e de energia), o tratamento de resíduos sólidos e de efluentes, as embalagens utilizadas e o transporte da resina reciclada até os clientes.

Para todos esses itens, há referências para o cálculo de emissões, com base em médias do mercado.

 

Esse modelo de cálculo considera o resíduo (a sucata na cooperativa) como carbono zero, assumindo que o material descartado no Brasil a princípio iria para o aterro, diante da falta de sistemas de coleta.

Mas há quem utilize outros modelos, como o Circular Footprint Formula, considerando que ao menos uma parte da pegada do plástico virgem deve ser contabilizada na pegada do plástico reciclado.

Neste caso, a argumentação é de que se se não houvesse o plástico virgem, o reciclado não existiria.

Mesmo neste cenário, a redução do impacto do plástico reciclado sobre o plástico virgem ainda fica acima de 50%.

Quanto mais vezes o mesmo plástico puder ser reciclado, melhor.

Tecnicamente, o plástico pode ser reciclado cinco a dez vezes, dependendo do tipo e da tecnologia empregada.

Um modelo no qual se usa plástico em vez de outros materiais e se recicla este plástico diversas vezes parece ser vencedor em termos de emissão de carbono.

O cliente com metas de redução de emissão ou políticas de net zero, por exemplo, estará mais próximo de seu objetivo sempre que optar pela resina reciclada.

Rastreabilidade: de onde vem a sucata?

Parte relevante da emissão de carbono de uma resina reciclada está na logística para buscar a sucata nos diferentes locais do País.

É importante, portanto, que a distância seja um atributo relevante na escolha de fornecedores, buscando uma pegada de carbono mais eficiente.

Como ainda não é possível ter rastreabilidade total de todos os materiais – até porque há diversos elos na cadeia de fornecedores –, a saída encontrada até o momento pela empresa foi calcular a pegada sobre os materiais dos quais a empresa consegue identificar plenamente a origem, o que possibilita alto nível de assertividade e funciona como uma boa amostragem a ser extrapolada para o todo.

Com isso, a resina reciclada contém também o atributo da rastreabilidade, com a mensuração da pegada de carbono e as informações necessárias para que o cliente possa fazer a compensação das emissões em sua cadeia de valor.

Subindo a barra de exigências

Embora o tema da pegada de carbono tenha despertado interesse principalmente das corporações mais sofisticadas e do mercado financeiro, falta avançar com maior velocidade no comprometimento de metas quantitativas.

O momento é de transição, sendo que a tendência é a agenda evoluir em termos de qualidade técnica e auditável da informação, puxada primeiramente por compromissos net zero.

Propiciar às empresas que utilizam plástico a oportunidade de ter a informação quantitativa sobre carbono faz com que essa agenda avance. O cliente engajado com o net zero estará mais competitivo comercialmente, apto a ganhar no mercado de carbono e menos exposto a riscos financeiros.

Mas a história não para por aí.

Há uma tendência crescente de litigância climática, que é a judicialização de organizações e governos por conta de questões ligadas ao clima.

Há empresas, por exemplo no setor de óleo e gás, que já estão sendo juridicamente acionadas pela sua responsabilidade no aquecimento global.

Isso indica que os compromissos, até então morais e econômicos, passariam a ser também de ordem legal, exigindo das organizações a comprovação de que estão fazendo o melhor que podem para medir e reduzir as emissões, o que por sua vez exige produtos auditáveis do ponto de vista do carbono.

Outra frente da litigância climática é contra o greenwashing.

Se uma empresa anuncia um compromisso net zero e não comprova o seu cumprimento, pode se tornar alvo de ações judiciais.

Todos esses casos, de ordem moral a legal, mostram a necessidade não só de reduzir a pegada de carbono, mas também comprovar que os esforços têm sido feitos, podem e devem ser replicados.

*Bruno Igel é CEO da Wise Plásticos e **Roberto S. Waack integra o Conselho.

 

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