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Informação e mobilização podem dar um basta à indústria do fracking na América Latina

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É preciso ainda congelar qualquer tipo de investimento em combustíveis fósseis se quisermos evitar os devastadores impactos das mudanças climáticas

Ainda há muito a fazer para tornar a Argentina e a América Latina livres do fraturamento hidráulico, tecnologia altamente poluente usada para a exploração do gás de xisto do subsolo também conhecida como Fracking, que está contaminando a água e o ar, prejudicando a economia e a saúde das pessoas e destruindo o meio ambiente.

Mas uma coisa é certa: As comunidades impactadas estão organizadas, coesas e mantendo a pressão sobre esta indústria mortal, que explora os hidrocarbonetos sem levar em consideração os impactos ambientais, econômicos, sociais e culturais que essa tecnologia impõe.

“A região de Allen é uma área de sacrifício,” alertou Sebastián Hernández, presidente da Associação de Produtores de Frutos na Província de Rio Negro na patagônia argentina. A exploração de petróleo não convencional, com o uso do Fracking, está impedindo que muitas famílias possam continuar com a tradicional atividade de produção de maçãs, peras e cerejas. As pequenas propriedades estão presas entre as torres de fraturamento hidráulico, e não há garantia de que a água que chega às frutas não esteja completamente contaminada.

De acordo com Hernández, “a indústria do Fracking não tem futuro porque não gera a continuidade da riqueza que a nossa atividade produtora nos dava”. Ele destacou ainda que é impossível a convivência entre a indústria minerária extrativista com a atividade produtora: “Estamos sem o apoio do estado e as indústrias fazem o que querem, mas vamos seguir resistindo para defender a água e a nossa terra”.

Para conter o avanço da indústria do Fracking, há quatro anos a cidade de 5 Saltos, na Província de Neuquén, aprovou uma lei proibindo o fraturamento hidráulico. “Somente a mobilização popular pode impedir que o pior aconteça, já que essas empresas não reconhecem as leis e fazem o que bem entendem”, afirmou José Candia, vereador que em 2012 aprovou a primeira legislação municipal na América do Sul.

Candia acredita que a conscientização da população é fundamental para proteger a água e produção de alimentos da contaminação, mas também conter um dos efeitos do Fracking que são as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global. “O aquecimento vai nos matar a todos, os que vivem na área de Fracking ou não. Não podemos esperar mais, essa luta é para ontem”, completou.

Conexão dos povos

Estes e outros relatos foram registrados pelos representantes da 350.org Argentina e Coalizão Latino-americana contra o Fracking pelo Clima, Água e Agricultura Sustentável, que realizaram diversas atividades em Buenos Aires e nas Províncias de Neuquén e Rio Negro entre 01 e 04 de dezembro.

A extensa programação fez parte do Segundo Encontro Internacional “Mudanças Climáticas e Crise Ambiental: Os Perigos do Fracking e as Alternativas para a América Latina”. A Coalizão Latino-americana é uma iniciativa de expansão regional da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida – e 350.org Brasil e América Latina e reúne legisladores, representantes eclesiais, da sociedade civil, especialistas ambientais, cientistas climáticos, lideranças indígenas e comunitárias de países como Argentina, Brasil, Uruguai, Equador e Colômbia.

“Foi muito importante reunir pessoas de diversos setores e diferentes países para debater um tema que nos conecta, pois sabemos que o movimento contra o Fracking é um movimento legítimo, urgente e necessário. Não é possível mais assistir passivamente a devastação do ambiente e a morte das pessoas. E pelo nível do engajamento e determinação sabemos que o fim da indústria dos combustíveis fósseis está próximo”, adverte Nicole Figueiredo de oliveira, diretora da 350.org Brasil e América Latina e coordenadora da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil e América Latina.

No último 01 de Dezembro foi realizado o Segundo Encontro na Câmara dos Deputados em Buenos Aires com a presença de Durante mais de cinco horas foram debatidos os riscos e perigos do Fracking, fortalecendo a união de esforços para traçar estratégias conjuntas de ação para conter o avanço desta perigosa e perversa tecnologia no continente.

Ente os dias 2 e 4, aconteceram reuniões, visitas a comunidades impactadas pelo Fracking e conferências de imprensa nas províncias de Neuquén e Rio Negro, na região de Vaca Muerta na patagônia. São cerca de 1.100 Poços de Fracking hoje na Argentina, muitos destes em áreas produtivas e perto de ricas reservas de água. São entre 100 e 120 hectares ocupados pelo Fracking em Allen e há a previsão de subir para 300 nos próximos anos.

“Os relatos de contaminação da água, que provocam graves infecções de pele e gastroenterites recorrentes especialmente em crianças e idosos, dão conta que a indústria do Fracking é responsável direta pelos graves problemas na saúde na população”, disse Nicole. A cidade de Añelo, em Rio Negro, está com o ar totalmente poluído, provocando dor de cabeça, tonturas e náuseas. “Toda a nossa equipe sentiu os impactos da poluição e alguns apresentaram sintomas de intoxicação”, informou. Há um ano, uma missão organizada pelas mesmas organizações levou um grupo de parlamentares brasileiros a mesma região para ver de perto os impactos do Fracking e conhecer a situação dos fruticultores.

Vitórias compartilhadas

Durante as atividades, foram compartilhadas as inúmeras vitórias já conquistadas. No Brasil, por exemplo, mais de 200 cidades já proibiram a Fracking em seus territórios e no último dia 29 de novembro o Estado do Paraná suspendeu o licenciamento dessa técnica. A Província de Entre Rios deve se tornar o primeiro estado Argentino a proibir o Fracking.

“Podemos compartilhar experiências e unir forças dentro da América Latina para evitar a expansão do fraturamento hidráulico e promover a transição justa para 100% de energia renovável para todos”, assegurou Nicole.

Ela lembrou que na COP 22, realizada em início de novembro em Marrakesh, no Marrocos, mais de 375 organizações não-governamentais entregaram uma carta aos líderes mundiais com uma nova e urgente demanda de ação climática que é o abandono de novos combustíveis fósseis. “Se quisermos manter o aquecimento do planeta em 1.5C, não há mais espaço para combustíveis fósseis na matriz energética. E precisamos congelar qualquer tipo de investimento em combustíveis fósseis se quisermos evitar os devastadores impactos das mudanças climáticas”, destacou a diretora da 350.org Brasil e América Latina.

Afinal, o combate ao Fracking é apenas um dos lados de uma grande batalha contra a indústria de combustíveis fósseis. Com impactos climáticos atingindo duramente as comunidades em todo o mundo – e com o anúncio de que 2016 provavelmente será o ano mais quente já registrado – é insano continuar investindo, construindo e explorando fósseis.

Fonte e fotos – Silvia Calciolari, 350Brasil/COESUS de 05 de dezembro de 2016

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