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Microplásticos estão em todo lugar, mas eles podem fazer mal à saúde?

Por Letícia NaísaVivaBem – 09 de setembro de 2022

Não é exagero dizer que não existe um lugar no mundo livre de plástico, segundo cientistas.

Eles estão em todos os lugares: na sua mesa de trabalho, na sua roupa, na sua cozinha e até na sua geladeira. Indo mais longe: o plástico está na água que bebemos, na comida que comemos e também no ar que respiramos. O mundo está lotado de plástico.

Para além do que os olhos enxergam, pequenas partículas de plástico quase invisíveis chamadas de microplástico foram encontradas na placenta humana, na corrente sanguínea e, mais recentemente, nos pulmões de pessoas saudáveis — por um grupo de pesquisadores brasileiros, inclusive.

Por definição, os microplásticos são partículas menores do que 5 milímetros.

Um estudo australiano estimou que uma pessoa chega a ingerir o equivalente a um cartão de crédito por semana em plástico.

Sabendo dessas informações, a pergunta que fica é: como isso vai afetar a saúde humana?

A julgar pelo que acontece com animais, as notícias não são muito animadoras para os humanos, dizem especialistas.

Pensar sobre os efeitos do plástico em si na saúde foi algo que só veio à tona no início dos anos 2000, quando cientistas começaram a ver efeitos graves do material nos oceanos.

“Tem uma grande ‘sopa de plástico’ no meio ambiente”, afirma Luís Fernando Lourenço, pesquisador do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e um dos autores do estudo que encontrou microplásticos em pulmões humanos.

O especialista faz referência ao termo cunhado em 1997 pelo oceanógrafo Charles J. Moore, que encontrou uma grande quantidade de plástico flutuando no Oceano Pacífico.

Em animais marinhos e pequenos mamíferos, como ratos, cientistas já identificaram diferentes graus de inflamação nos intestinos, diz Lourenço, e, dependendo do tamanho do microplástico, ele pode viajar para outros órgãos e causar mais processos inflamatórios.

Essa “sopa de plástico” começa a se formar dentro de organismos vivos, inclusive dos humanos.

“Como são partículas muito pequenas, elas conseguem vencer barreiras do intestino e do pulmão e cair na corrente sanguínea, e daí elas vão para qualquer lugar do corpo, até para o cérebro”, explica o médico.

Algumas partículas de plástico são tão pequenas que são chamadas de nanoplástico e, dizem os cientistas, existe a hipótese de que elas possam estar afetando até o funcionamento de células.

Ainda é difícil provar que o microplástico dentro dos órgãos pode causar doenças ou fazer algum mal para a saúde, mas há estudos que indicam maior incidência de doenças de pulmão, como câncer e fibrose no tecido pulmonar, entre trabalhadores de fábricas de plástico.

Antes ainda, nos anos 1990, fibras de plástico foram encontradas em tecidos pulmonares de pessoas que morreram de câncer.

Cadeia alimentar

“É difícil provar uma relação de causa e efeito”, diz Thaís Mauad, professora associada do Departamento de Patologia da USP.

“Mas se está fazendo mal para a saúde marinha, pode nos fazer mal também”, completa.

É improvável que, a longo prazo, a concentração de microplásticos no corpo humano não cause efeitos nocivos à saúde humana, reforça Mauad.

Além da contaminação pela água e do uso de objetos no cotidiano, os microplásticos chegam até nós, humanos, por meio da cadeia alimentar.

“Os microplásticos podem não acabar com a humanidade, pode não ser o nosso juízo final, mas ele é um estressor para várias espécies”, explica Walter Waldman, químico e professor da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos).

Ele cita exemplos de estudos com peixes: os animais contaminados por microplásticos apresentaram alterações no metabolismo e, em alguns casos, na fertilidade.

Para Waldman, a humanidade deveria estar mais preocupada com a presença de pequenas partículas de plástico em pequenos animais.

“Os microplásticos prejudicam a minhoca, que é comida pelas aves que nós comemos”, aponta.

“Não temos evidência conclusiva de que faz mal e qual é esse mal, mas os plásticos têm fontes potenciais de toxicidade.”

Lourenço concorda com o colega:

“Já existe uma concentração muito grande de plástico no ar e nós continuamos produzindo mais, a tendência é que isso só aumente”.

Para se tornar um veneno de verdade, no entanto, é preciso considerar a quantidade.

“Tudo depende da dose, quanto maior, mais preocupante”, alerta o cientista.

Mauad compara a atual situação do plástico com a dos pesticidas como o DDT, que, quando começaram a ser usados na agricultura, não eram considerados nocivos à saúde.

Foi só nos anos 1970 que ele começou a ser proibido em diversos países — no Brasil, só em 2009 — e por causa de uma longa investigação feita pela bióloga marinha Rachel Carson, publicada no livro “Primavera Silenciosa”, em 1962.

Há 100 anos, o uso de plástico não era tão abusivo, diz Mauad.

“A geração de lixo era muito diferente”, reflete.

“O uso de recursos naturais explodiu em 50 anos. Temo um consumo absurdo de plástico que vem de um modo de vida capitalista fora de controle. Nós perdemos o controle da razoabilidade”, completa a pesquisadora.

Para ela, é preciso rever o consumo desse tipo de material, que não se decompõe na natureza e não passa por uma reciclagem ampla como outros materiais, como o alumínio, e, portanto, também degrada o meio ambiente de forma severa.

Reduzindo o consumo

A maior concentração de microplásticos que pode afetar a saúde humana está dentro de casa: no material sintético de cortinas, tapetes, sofás, nas roupas que usamos, embalagens de comida.

“Onde a gente mais inala plástico é dentro de casa, a maior concentração no ar é em ambientes fechados”, afirma Mauad.

E muitos desses plásticos de uso doméstico não entram na cadeia de reciclagem.

Um grande exemplo é a buchinha de lavar louça.

“Essa esponja é terrível, ela se fragmenta e, quando o microplástico chega na rede de tratamento de esgoto, ele não é capturada pelo processo de tratamento”, afirma Lourenço.

Uma opção é trocar esse tipo de buchinha pela bucha vegetal.

Algumas outras dicas podem ajudar a diminuir a sua ingestão de plástico no dia a dia:

  • Recuse itens de plástico descartáveis;
  • Use os objetos até o fim de suas vidas úteis;
  • Faça trocas: use xampus e condicionadores em barra, bucha vegetal, potes de vidro;
  • Tente fazer seu próprio sabão para lavar roupas e seus produtos de limpeza.

 

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