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O lado sombrio do “boom” das flores para o Dia das Mães

Jarro de flores(Issalina/Thinkstock)

Pico na produção gera um efeito preocupante sobre a saúde das crianças de comunidades agrícolas em um dos maiores exportadores de rosas do mundo

Flores acrescentam um toque de cor, alegria e poesia para qualquer ocasião, especialmente no Dia das Mães, data que provoca um pico na produção e demanda. Mas há um lado não tão bonito nesse “boom” de cores e aromas que os cientistas estão começando a desvendar agora.

Em um estudo publicado neste mês na revista científica NeuroToxicology, cientistas associaram o pico de pulverização de pesticidas na colheita de flores para o Dia das Mães a alterações neurocomportamentais em crianças de áreas agrícolas.

O estudo de caso ocorreu no Equador, um dos maiores produtores de flores do mundo, das quais 70% são rosas. A indústria de flores do país emprega mais de 100.000 pessoas e depende muito de pesticidas agrícolas.

Diferentemente de estudos anteriores, focados em crianças que trabalhavam na agricultura diretamente expostas aos agrotóxicos, os pesquisadores examinaram crianças que não trabalham no campo mas que vivem em comunidades agrícolas no país.

Ao todo, eles testaram 308 crianças, com idades entre quatro e nove anos de comunidades de floricultura antes do pico da produção de flores do Dia das Mães e dentro de 100 dias após a colheita. Foram realizados testes de comportamento e de sangue.

A exposição aos pesticidas agrícolas comumente aplicados foi associada a mudanças neurocomportamentais nas crianças, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.

“As crianças examinadas mais cedo, logo após a colheita das flores, apresentaram menor desempenho na maioria das análises, como atenção, autocontrole, processamento visuoespacial (a capacidade de perceber e interagir com o nosso mundo visual) e sensório-motora (coordenação olho-mão) em comparação com as crianças examinadas mais tarde em um momento de menor produção de flores e uso de pesticidas”, disse Jose R. Suarez-López, pesquisador do Departamento de Medicina Familiar e Saúde Pública da UC San Diego School of Medicine.

Os resultados da pesquisa levantam graves preocupações quanto ao desenvolvimento futuro das crianças dessas regiões. As funções mentais são essenciais para o aprendizado das crianças. Se suas habilidades de aprendizagem e desempenho são afetadas, especialmente no período das provas, que ocorre de maio a julho, elas podem concluir o ensino médio com desempenho baixo, o que pode dificultar o acesso ao ensino superior ou obter um emprego, alerta a pesquisa.

Mas a floricultura é uma importante fonte de renda para muitas comunidades no mundo, então qual a saída? Felizmente, nos últimos anos, temos visto alguns esforços em prol de um cultivo menos intensivo no uso de químicos.

A organização global Rainforest Alliance, por exemplo, vem trabalhando com a Rede de Agricultura Sustentável para desenvolver requisitos rigorosos de sustentabilidade para floriculturas na América do Sul. Os requisitos ajudarão a proteger a saúde dos trabalhadores, minimizar o uso de produtos químicos e a manter a qualidade do solo e dos rios.

Fonte – Vanessa Barbosa, Exame de 14 de maio de 2017

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