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Pesca de arrasto: entenda como acontece a destruição do habitat

Por João Lara Mesquita – Mar Sem Fim –

A destruição de habitats, principal causa de perda de biodiversidade marinha, não é o único problema da pesca de arrasto.

Uma equipe de pesquisa com membros da Espanha, Argentina e Itália, descobriu que a modalidade em águas profundas leva a desertificação do fundo do mar.

Em artigo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, a equipe relata o que encontrou em sedimentos retirados de áreas fortemente arrasadas, em comparação com áreas no fundo do mar não utilizadas pelo arrasto.

Segundo os pesquisadores, o arrasto não apenas reduz as populações de peixes.

Mas também as populações de todos os tipos de fauna que vivem no fundo do mar.

”O arrasto de fundo está alterando dramaticamente o solo oceânico.”

imagem de pesca de arrasto de fundo

A criminosa pesca de arrasto de fundo.

No Mediterrâneo

No noroeste do Mediterrâneo, onde o arrasto industrializado ocorre desde meados da década de 1960, cientistas descobriram que a prática deslocou 5.400 toneladas de sedimentos em apenas 136 dias monitorados.

 

Os cientistas explicaram em artigo publicado na Nature:

Ambientes de encostas continentais com redes de arrasto são o equivalente submarino de uma encosta de morros, parte da qual foi transformada em campos de cultivo que são arados regularmente, substituindo o padrão natural de contorno normal por áreas niveladas

imagem de barco de pesca de arrasto

Foto:http://www.ticotimes.net.

Impacto no arrasto de fundo é visível do espaço

Resultados de estudos científicos mostram que o arrasto de fundo mata  grande número de corais, esponjas, peixes e outros animais.

Por isso foi banido em um número crescente de locais protegidos nos últimos anos.

Agora, imagens de satélite mostram que nuvens de lama se espalham e permanecem suspensas no mar muito depois que a traineira passou.

imagem de golfinho morto

Golfinhos, outra das vítimas das redes…

A ponta do iceberg

Mas o que os satélites podem ver é apenas a “ponta do iceberg”.

Porque a maioria das pescarias de arrasto acontece em águas profundas demais para detectar plumas de sedimentos na superfície.

A declaração dos cientistas aconteceu na sessão de simpósio Dragnet: Bottom Trawling, the World’s Most Severe and Extensive Seafloor Disturbance at the American Association for the Advancement of Science 2008 Annual Meeting.

A sessão foi organizada pelo Marine Conservation Biology Institute. Dr. Les Watling, professor de Zoologia na Universidade do Havaí, declarou:

O arrasto de fundo é a ação mais destrutiva que os seres humanos realizam no oceano

imagem de tubarão morto pela Pesca de arrasto

Os tubarões já sofrem demais por suas barbatanas apreciadas na Ásia mas, além disso, milhares são mortos pelas redes.

Captura acidental ou fauna acompanhante

ONG Oceana informa que  a morte de vida marinha, não intencional, chega até 40% da captura global (estimada hoje em 90 milhões de toneladas), algo em torno de 36 milhões de toneladas.

Milhões de toneladas de peixes, moluscos, mamíferos, tartarugas, e aves marinhas morrem em artes de pesca (especialmente redes, mas não apenas) destinadas a capturar outras espécies.

Todo esse dano colateral é chamado de “bycatch“.

imagemde tartaruga presa pela pesca de arrasto

Milhares de tartarugas marinhas são mortas inutilmente

Vídeo não deixa dúvidas dos malefícios da pesca de arrasto

O vídeo que apresentamos (com legendas) mostra o dano causado pelas redes de arrasto.

Ele conta que, em 2006 alguns países, entre eles o Brasil, pediram na ONU uma moratória da pesca de arrasto profundo em águas internacionais.

Mas não foram ouvidos.

O recado é claro: “o tempo está se esgotando”. Os governos devem agir enquanto ainda há tempo. Uma rede de arrasto pode varrer uma área equivalente a cinco mil campos de futebol numa única pescaria.

imagem de desperdício da pesca de arrasto

Para cada quilo de camarão as redes chegam a trazer até 80% de fauna acompanhante.

Protestos mundiais contra o arrasto

Cientistas encabeçam a lista. Ambientalistas, em seguida.

E até artistas de renome internacional protestam.

Em vão!

Mas  os próprios pescadores sabem do crime que cometem.

Em minhas navegações pelo litoral brasileiro sempre converso com pescadores.

Todos, quase sem exceção, reconhecem os problemas das redes e, em especial, do arrasto.

Mas dizem, com razão, “que não têm outra opção, o governo não ajuda. Não propõe outros métodos de pesca”.

E isso também é verdade.

Nunca houve política para a pesca, ou ocupação do litoral, não Brasil.

A zona costeira está ao deus-dará.

Pesca de arrasto no Brasil

Infelizmente esta modalidade é praticada no Brasil sem qualquer fiscalização.

Aqui, cada um dos 17 estados costeiros tem uma regra a respeito de como deve ser praticada, sempre em relação à distância da costa.

Em alguns estados a distância é de uma milha náutica. Em outros, três milhas. Mas, como não existe fiscalização, é comum ver barcos passando o arrasto na zona de arrebentação.

Pesca de arrasto no mundo

Os cientistas provaram o mal que este tipo de pesca provoca.

O que falta é força aos governos para proibirem de vez a modalidade.

Com medo do desemprego, muitos governos fingem não ver o mal que o arrasto provoca.

E adiam uma solução. Recentemente, até Portugal que tem forte tradição pesqueira, proibiu o arrasto.

O Governo português aboliu por decreto todas as pescas de fundo, exceto a pesca  com espinhel, autorizada sob certas condições.

A proibição vale para uma área de 2.280.000 km2, cerca de quatro vezes o tamanho da Península Ibérica.

Ilustração mostra pesca de arrasto de fundo

Novo estudo descobre que o arrasto contribui com mais carbono nos oceanos, e mais acidificação. Ilustração, www.earthforcefightsquad.org.

A última novidade é um estudo que mostra que, ao revolver o subsolo marinho, as redes de arrasto contribuem para mais gases de efeito estufa na atmosfera.

Pesca de arrasto, imagem de barco de pesca passando rede de arrasto

O Mar Sem Fim cansou de flagrar a pesca de arrasto na zona de arrebentação

A pesca de arrasto no Brasil de Bolsonaro

Depois de anos de luta, em 2018 o Rio Grande do Sul aprovou uma Lei (por unanimidade na Assembléia Legislativa) restringindo o arrasto a menos de 12 milhas da costa.

O que era comemorado por cientistas, pescadores e ambientalistas, foi criticado em agosto de 2019, pelo presidente da República que investiu contra um dos poucos Estados brasileiros que tiveram a coragem de adotar medidas restritivas  à pesca de arrasto no Brasil.

O Mar Sem Fim considera que o setor da pesca é tão mal dirigido, na atual administração, como o do Meio Ambiente. Ambos, uma secretaria, e um ministério, dirigidos  por amadores.

E notórios transgressores de leis ambientais.

Outros problemas do arrasto além da destruição de habitats

A destruição de habitats, maior causa de perda de biodiversidade marinha mundial, não é o único problema do arrasto, antes fosse.

 

 

 

 

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