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Plasticrusts, as crostas de plástico descobertas nas rochas da ilha da Madeira

Os plasticrusts — nome que os investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente do pólo da Madeira usaram para baptizar o fenômeno — foram encontrados em várias rochas costeiras da zona Sul da ilha da Madeira.

Os plasticrusts, o nome que os cientistas deram ao fenômeno agora descoberto, é uma espécie de crosta plástica que se formou em algumas rochas vulcânicas e que foram detectados numa zona intertidal, área costeira que apenas se encontra exposta ao ar durante a maré baixa, ficando submersa com a subida da maré, na Madeira.

Em 2016, enquanto realizavam uma visita à zona costeira perto do laboratório do Mare, os investigadores verificaram a presença de plástico em forma de crosta nas rochas daquela zona intertidal, mas consideraram que era algo pontual e que (ainda) não valia a pena ser documentado. Em 2017, o fenômeno continuava presente, mas não se tinha alastrado para outras rochas.

“Só este ano, em Janeiro, é que verificamos que existia não só mais plástico agarrado como também mais cores desse material nas rochas, porque inicialmente só tínhamos encontrado fragmentos azuis. Só detectamos este fenômeno numa área com cerca de 20 metros e não temos ainda a certeza se é algo que acontece noutras zonas da ilha”, explica o coordenador do estudo, o espanhol Ignacio Gestoso, ao PÚBLICO.

O objectivo do estudo que foi publicado este mês na revista científica Science of the Total Environment foi dar a conhecer um fenómeno que mesmo para a equipa que o descobriu e investigou ainda é novo, e perceber se o mesmo acontece noutras zonas ou em ambientes similares. O coordenador do estudo acredita que foi importante reportar o acontecimento, uma vez que ainda era desconhecido, ao contrário de outros tipos de poluição por via do plástico, como os microplásticos, por exemplo.

“Precisamos de estudos futuros para verificar qual é a relevância desta descoberta, tanto a nível da sua escala de expansão como no impacto que pode ter na fauna intertidal, uma vez que ali existem pequenos invertebrados, como caracóis marinhos, que normalmente se alimentam de algas que estão precisamente nas rochas. Achamos que podem acidentalmente ingerir estas crostas de plástico na sua alimentação”, refere Ignacio Gestoso.

Depois de recolher amostras, a equipa verificou que o material era polietileno, um dos plásticos mais baratos e mais utilizados por todo o mundo. Os investigadores pensam que estas crostas possam resultar da colisão de fragmentos de plástico de maior dimensão com as rochas, por ação das ondas e marés, mas podem existir outros factores que contribuem para o fenômeno.

“A própria textura das rochas, a sua forma e mesmo a temperatura das águas podem influenciar a que o plástico fique encrostado. Como grande parte das rochas em que os encontramos são de cor escura, quando a maré esvazia e a rocha fica ao sol, as altas temperaturas podem ajudar à aderência do plástico à rocha. Só encontramos os plasticrusts na parte das rochas exposta ao mar, daí acharmos que as ondas tenham a maior influência”, explica o investigador.

Ignacio Gestoso garante que a equipa pretende continuar a investigar o fenômeno, mas que não pretende causar alarme, pois ainda é uma descoberta recente. “Não queremos alarmismos, queremos sim documentar e explicar que ainda é um fenômeno pequeno e que só detectamos numa área mínima da ilha”, diz.

Ainda assim, os investigadores acreditam que a descoberta pode ter implicações em futuras estratégias de gestão ambiental, uma vez que estes plasticrusts poderão vir a ser consideradas uma nova categoria de lixo marinho.

 

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