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Poluentes acumulados em abelhas nativas revelam a importância de áreas verdes nas cidades

Por – Mongabay – 9 Dezembro 2021 – Cientistas analisaram a presença de metais pesados na abelha nativa jataí para avaliar a qualidade ambiental de oito áreas com remanescentes de Mata Atlântica em São Paulo. – Quanto maior a área verde de uma região agindo como filtro e barreira protetora, menor será a presença de materiais tóxicos depositados no ambiente – e, consequentemente, no corpo das abelhas. – O resultado toxicológico amplia o debate sobre as consequências dos impactos humanos no ambiente e a necessidade de ampliar projetos de mitigação, como a arborização dos núcleos urbanos. – A poluição do ar é hoje líder mundial em adoecimento e morte em consequência de doenças crônicas não transmissíveis.

O que as abelhas nativas do Corredor Ecológico Cantareira-Mantiqueira, no estado de São Paulo, podem dizer sobre a qualidade do ar que respiramos e o papel que a vegetação exerce contra a poluição atmosférica nas cidades?

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) usou as abelhas jataí (Tetragonisca angustula) como bioindicadores de qualidade ambiental para confirmar uma relação direta entre a quantidade de vegetação e a contaminação do ar, como já se supunha.

Quanto maior a área verde de uma região agindo como filtro e barreira protetora, menor será a presença de materiais tóxicos depositados no ambiente – e, consequentemente, no corpo das abelhas.Estes insetos são os principais polinizadores do reino animal, responsáveis pela polinização de 75% do total de plantas cultivadas e utilizadas de forma direta ou indireta na alimentação humana em todo o mundo.

A pesquisa mediu a concentração de 21 elementos químicos acumulados no tecido das abelhas jataí coletadas em oito áreas onde há remanescentes de Mata Atlântica no estado de São Paulo, do limite da zona norte da capital, na Serra da Cantareira, ao município de Joanópolis, na Serra da Mantiqueira.

Foram analisadas paisagens que contêm entre 16 e 70% de trechos de floresta, submetidas a diversas formas de atividade humana como cultivo agrícola, estradas, cidades, indústrias, pastagens e áreas degradadas.

“O diferencial do nosso trabalho é que a gente usou um grupo de abelhas como bioindicadores que ainda não tinha sido estudado em escala global e está amplamente distribuído no Brasil, ocorrendo tanto em áreas urbanas quanto áreas conservadas”, diz Marcela de Matos Barbosa, doutora em Entomologia pela USP de Ribeirão Preto e uma das autoras do trabalho.

Barbosa explica que, quando a jataí voa por diversos ambientes para coletar o pólen, ela pode carregar partículas finas de aerossóis atmosféricos que são gerados pela poluição do entorno.

Entre os elementos detectados no corpo das abelhas durante a pesquisa, foi notado que aquelas que vivem em áreas mais florestadas têm níveis menores de mercúrio, cobre, cádmio e cromo, sendo que estes dois últimos tem como fonte principal os agroquímicos usados no manejo da terra na agricultura.O estudo indicou ainda a influência das diferentes classes de uso do solo nos níveis de metais encontrados nas abelhas.

A presença de estradas, por exemplo, revelou um acúmulo de cromo, mercúrio, alumínio, urânio, arsênio, chumbo e platina no corpo dos insetos.Em áreas onde há solo degradado ou pastagens, os principais elementos encontrados foram zinco, cádmio, manganês, magnésio, bário e estrôncio.

Abelha jataí em flor de morango. Foto: Cristiano Menezes.

A importância de corredores ecológicos urbanos

O resultado toxicológico obtido no corpo das abelhas amplia o debate sobre as consequências dos impactos humanos no ambiente e a necessidade de ampliar projetos de mitigação, como a arborização dos núcleos urbanos.

De acordo com o coordenador da pesquisa, o professor Milton Cezar Ribeiro, do Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro, uma área que vem crescendo muito dentro da academia é a ecologia urbana, que estuda a criação de corredores ecológicos urbanos pela perspectiva ecológica e socioambiental.

“Nós desenvolvemos uma ferramenta para simular os melhores cenários dentro um contexto humano e não humano, onde são selecionados determinados grupos de plantas de acordo com as vias para ligar o centro com as periferias”, diz Ribeiro.

Segundo o pesquisador, não basta cuidar dos parques separadamente, sem garantir uma conexão entre eles.

“A arborização das ruas é fundamental, assim como é importante estimular o plantio de vegetação nas casas, nos  prédios e até mesmo nas paredes”.

Em outra frente de trabalho, o biólogo Giuliano Locosselli, pesquisador do Instituto de Biociências da USP e autor de um pioneiro estudo publicado em 2019 que revelou como a poluição da cidade de São Paulo impacta o crescimento das árvores, ressalta a importância de escolher as espécies certas para a criação de corredores ecológicos urbanos.

“Existem árvores mais e menos resistentes a poluição.

A questão hoje é saber quais são”, diz Locosselli.

“Estamos tentando responder a esta pergunta dentro de um projeto maior que faz parte de um grande consórcio internacional pautado em soluções baseadas na natureza. A ideia é ajudar as prefeituras, os tomadores de decisão, a construírem florestas urbanas mais eficientes e mais resilientes.”

 

Vista da cidade de São Paulo a partir da Serra da Cantareira. Foto: Renan William Candido (CC BY-SA 3.0).

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