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Relatório do IPCC aponta que o nível tolerável de emissões de CO2 é zero

Por Redação  – Além da Energia – 12 de agosto de 2021 – Novo relatório do IPCC destaca a necessidade de eliminar totalmente os combustíveis fósseis; empresas e governos devem assumir compromissos nesse sentido

Entre 2011 e 2020, a temperatura global aumentou 1,09 Cº em comparação com o período pré-industrial (1850-1900).

Desta quantidade, a maior parte (1,07ºC) foi consequência de atividades como desmatamento e queima de combustíveis fósseis. A conclusão é do recém-lançado relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que ressalta que a meta de manter o aquecimento em 1,5ºC está praticamente perdida, uma década antes do esperado.

De acordo com o relatório, divulgado em 9 de agosto, o conjunto de eventos climáticos extremos recentes seria extremamente improvável se não houvesse influência humana.

O documento traçou cinco cenários globais possíveis, sendo que dois deles consideram baixas emissões (SSP1-1.9 e SSP1-2.6), um médias (SSP2-4.5) e dois altas emissões (SSP3-7 e SSP5-8.5).

Para IPCC, consequências são irreversíveis

Mesmo com a perspectiva mais baixa de emissões, o aquecimento global só poderá ser controlado no fim do século – desde que o mundo passe a cortar emissões desde já.

Em resumo, no melhor cenário (SSP1-1.9), a temperatura global entre 2081 e 2100 ficará entre 1ºC a 1,8ºC superior ao período pré-industrial e, no pior (SSP5-8.5), entre 3,3ºC a 5,7ºC mais quente.

“O relatório deve soar como uma sentença de morte para os combustíveis fósseis, antes que destruam o planeta”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em release encaminhado à imprensa.

O documento informa, ainda, que as emissões do passado já tornaram irreversíveis algumas consequências do aquecimento global, como o degelo, o aumento no nível do mar e as mudanças nos oceanos.

Desde 1970, a temperatura aumentou mais rapidamente do que em qualquer período anterior. Além disso, o material destaca que, em 2019, as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2) foram mais elevadas do que em qualquer outro momento, considerando pelo menos dois milhões de anos

Vale destacar que os cientistas são claros quanto à necessidade de combater outros gases de efeito estufa, além do CO2, no curto prazo. As emissões de metano, conforme o relatório, são particularmente preocupantes.

O que é o IPCC e qual seu objetivo?

O IPCC foi criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Ele é um comitê composto por mais de 1,2 mil cientistas, escolhidos para avaliar periodicamente as medidas relacionadas ao controle das mudanças climáticas.

Não existe uma quantidade fixa de cientistas. O novo relatório contou com 801 autores e revisores, dos quais 21 são brasileiros. O grupo se divide em três frentes de avaliação: um deles analisa as causas das mudanças climáticas, outro as consequências e um terceiro as soluções para mitigação.

Importante destacar que o IPCC não pode fazer previsões, mas aponta, de forma estatística, as probabilidades de cada fenômeno.

 

IPCC e a COP26: qual a relação?

Em novembro, líderes de todo o mundo devem se encontrar em Glasgow, na Escócia, para discutir os compromissos com o clima e o cumprimento das metas assumidas no Acordo de Paris (COP21).

A conferência, denominada COP26, certamente será influenciada pelas conclusões do relatório do IPCC.

Para o presidente da COP26, Alok Sharma, os impactos da crise climática já estão sendo sentidos em todo o mundo.

“Se não agirmos agora, continuaremos a ver os piores efeitos das altas temperaturas, afetando vidas, meios de subsistência e habitats naturais”, afirmou em comunicado de imprensa.

“A próxima década é decisiva e as nações precisarão assumir providências imediatas. Podemos fazer isso juntos, avançando com metas ambiciosas de redução de emissões em 2030 e estratégias de longo prazo, com um caminho para o zero até meados do século, e tomando medidas agora para acabar com a energia do carvão, acelerar o lançamento de veículos elétricos, combater o desmatamento e reduzir as emissões de metano”, completou Sharma. 

Confira as principais conclusões do relatório

Para diminuir o aquecimento global, as emissões líquidas de CO2 precisam ser zeradas desde já, alerta o IPCC. O AR6 destaca que cada trilhão de toneladas de CO2 emitidas cumulativamente na atmosfera causa o aumento de temperatura de 0,27ºC a 0,63ºC.

Confira a seguir outros pontos de atenção.

  • Hoje, o planeta sofre consequências de emissões de carbono do passado. Para limitar o aquecimento global induzido pelo homem, é fundamental restringir as emissões acumuladas, alcançando pelo menos zero emissões líquidas.
  • A remoção do dióxido de carbono é fundamental. Isso pode ser feito de várias formas, como reflorestamento, restauração de áreas úmidas e captura e armazenamento direto de carbono no ar, além de fertilização oceânica.
  • A remoção de carbono não pode ser considerada equivalente, pois quando uma tonelada de CO2 é emitida para a atmosfera, seu impacto é maior do que quando uma tonelada é removida por sistemas de captura e armazenamento.
  • A quantidade máxima de CO2 que ainda pode ser liberada é de cerca de 400 Gt de CO2, se quisermos ter 67% de chance de ficar abaixo de 1,5ºC.
  • Pela primeira vez, um relatório do IPCC abordou “poluentes climáticos de curta duração”, como aerossóis, partículas e outros gases reativos (como o ozônio), que resistem na atmosfera por períodos que podem ser de algumas horas a alguns meses. Em seu capítulo 6, o documento inclui o metano, que tem uma vida útil de cerca de 12 anos.

Quais os riscos para o planeta?

Sem medidas urgentes de controle, o IPCC destaca vários riscos.

  • Regiões semiáridas e a chamada Região da Monção da América do Sul, que engloba parte do Centro-Oeste brasileiro, da Amazônia, da Bolívia e do Peru, deverão ter os maiores aumentos de temperatura nos dias mais quentes do ano. Isso significa aumento até duas vezes acima da taxa de aquecimento global.
  • Em 2050, se o limite de 2ºC for atingido, muitas regiões sofrerão eventos extremos simultâneos ou sequenciais, que poderão afetar a produção de alimentos.
  • Temperaturas extremas (mais quentes e secas), bem como precipitações de grande intensidade, tendem a se tornar comuns.
  • O nível dos oceanos continuará subindo, já que a expansão térmica é irreversível. No pior cenário, picos de maré alta extrema, que ocorriam uma vez a cada século, poderão acontecer uma vez por ano em 80% das localidades.
  • O derretimento de geleiras como as dos Alpes, dos Andes e do Himalaia, é a maior causa isolada (41%) do aumento do nível do mar entre 1901 e 2018, enquanto o degelo da Groenlândia e da Antártida responde por 29%. Na última década, a cobertura de gelo marinho no Ártico e nas geleiras atingiu a sua menor extensão em 170 anos no inverno e em mil anos no verão. O derretimento atual das geleiras é o mais acelerado em dois mil anos e tende a se acentuar.

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