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Ártico em perigo preocupa cientistas

Por João Lara Mesquita – Mar Sem Fim  –   

O navio de pesquisas russo R / V Akademik Keldysh. Imagem, Markus Rex/Alfred-Wegener-Institut.

Como já comentamos por aqui, o Ártico esquenta ao dobro da taxa média do resto do planeta o que preocupa a comunidade acadêmica. As mudanças dramáticas no sistema climático do Ártico e a rápida diminuição do gelo marinho afetam fortemente o clima global.

Os cientistas acreditam que até o fim deste século não haverá mais a calota congelada sobre o mar do Ártico com que nos acostumamos.

Mas agora, de acordo com matéria do The Guardian, outubro de 2020, ‘cientistas encontraram evidências de que depósitos de metano congelado no Oceano Ártico começaram a ser liberados em uma grande área da encosta continental da costa leste da Sibéria’. Ártico em perigo preocupa cientistas, saiba porquê.

Ártico em perigo e o gás metano

O metano é um tipo de gás produzido pela decomposição de matéria orgânica. Ele é encontrado em depósitos de hidrocarbonetos, em pântanos, e no manto terrestre. E tem um efeito para o aquecimento 80 vezes mais forte do que o dióxido de carbono.

O metano do Ártico

Ele é armazenado em grandes depósitos de gás natural, no permafrost (solos permanentemente congelados) e em hidratos submarinos. Os depósitos são tão grandes no Ártico que foram chamados de “gigantes adormecidos do ciclo do carbono”.

Adormecidos porque estão sob a terra, e a terra no Ártico era permanentemente coberta de gelo. Era… O Ártico está perdendo sua capacidade de armazenar o gelo como dissemos no início. A preocupação dos cientistas é que, ao ser liberado em grande escala, apresse ainda mais o aquecimento.

Segundo o Guardian, ‘Altos níveis do potente gás de efeito estufa foram detectados a uma profundidade de 350 metros no Mar de Laptev, perto da Rússia, gerando preocupação entre os pesquisadores de que um novo ciclo de feedback positivo climático pode ter sido acionado, o que poderia acelerar o ritmo do aquecimento global’.

O Ártico em perigo e o estudo sobre o vazamento de metano

Ele é conduzido por uma equipe internacional a bordo do navio de pesquisa russo R / V Akademik Keldysh. O Guardian entrou em contato com um deles, Örjan Gustafsson, da Universidade de Estocolmo, direto de bordo:

“Neste momento, é improvável que haja um grande impacto no aquecimento global, mas a questão é que esse processo já foi desencadeado. Este sistema de hidrato de metano da encosta da Sibéria Oriental foi perturbado e o processo estará em andamento.”

imagem de cientistas no mar Ártico

A calota de gele caminha para o fim. Imagem, NASA/Kathryn Hansen.

Descoberta preliminar

Os pesquisadores disseram que ‘a escala de emissões de metano não será confirmada até que eles retornem, analisem os dados e tenham seus estudos publicados em um jornal revisado por pares’. Portanto, trata-se ainda de um alerta. Mas um alerta perigoso.

Recentemente publicamos um texto sobre o ponto de inflexão a que chegou o gelo que cobre a Groenlândia, mais uma prova do aquecimento mais rápido da região.

O temor dos cientistas é justamente este: “a descoberta de metano congelado potencialmente desestabilizado em encostas levanta preocupações de que um novo ponto de inflexão tenha sido alcançado, o que poderia aumentar a velocidade do aquecimento global.”

Também publicamos matéria recente que informava sobre o aquecimento do Atlântico Norte tem sido o maior nos últimos 10 anos, e tudo isso contribui para o possível liberação em alta escala do metano do Ártico.

“A equipe de 60 membros do Akademik Keldysh, que ainda está no mar,  acredita ser a primeira a confirmar  que a liberação de metano já está ocorrendo em uma ampla área da encosta a cerca de 600 km da costa.”

“Em seis pontos de monitoramento em uma área de encosta de 150 km de comprimento e 10 km de largura, eles viram nuvens de bolhas liberadas de sedimentos.

imagem submarina dos oceanos

Sibéria transformando-se no Novo México?

Outra publicação que abordou a descoberta é a revista Esquire que publicou: “Durante todo o verão, ouvimos histórias sobre como a Sibéria estava se transformando no Novo México.”

“A Sibéria sofreu incêndios florestais este ano que se podem ver  da órbita da Terra. Isso intensificou a ameaça de maior liberação de metano. As temperaturas na Sibéria foram 5ºC mais altas que a média de janeiro a junho deste ano.”

Para a Esquire, “a causa mais provável da instabilidade é a intrusão de correntes quentes do Atlântico no Ártico oriental.”

Entenda o que significa a expressão ‘feedback positivo’

A expressão representa o temor dos cientistas. O site weather.com explicou: “O metano preso na região permanentemente congelada da região ártica é uma acumulação de centenas de milhares de anos de biomassa escondida da atmosfera. Conforme o aquecimento continua, a geleira derrete, liberando grandes quantidades de metano e causando mais aquecimento.”

“Isso é chamado de ciclo de feedback positivo que reforça ainda mais o aquecimento global.”

O Ártico tem grandes quantidades de metano congelado e outros gases – chamados hidratos – em seus sedimentos nas encostas. De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos, se o hidrato do Ártico for desestabilizado, haverá um grande risco, já que este é um dos quatro cenários mais perigosos que podem causar mudanças climáticas abruptas no futuro.

O derretimento do gelo marinho no inverno passado começou incomumente cedo, enquanto o congelamento deste inverno está atrasado, ainda não começou.

O mesmo problema foi registrado no polo oposto. Há um vazamento de metano no Mar de Ross. Estima-se que a Antártica contenha até um quarto do metano marinho da Terra.

imagem de Vazamento de metano do mar austral

Tapetes microbianos brancos são sinais reveladores de áreas onde o metano pode ser liberado dos depósitos subterrâneos. Imagem, Andrew Thurber/Oregon State University.

Os estudos no polo Sul começaram em 2016 mas só em 2020 vieram à tona. Apesar do perigo que representam, ao menos o vazamento na Antártica não é atribuído ao aquecimento já que o Mar de Ross não aqueceu de maneira significativa. Ainda é preciso esperar a conclusão do estudo para sabermos os motivos.

Imagem de abertura: Markus Rex/Alfred-Wegener-Institut.

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