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Há mais de mil anos que as correntes marítimas do Atlântico não estavam tão fracas

Por  Rita Martins – Visão Verde – 28.02.2021

O enfraquecimento da corrente Atlântica trará mais ondas de frio à Europa no inverno. NA foto, Paris, a 10 de fevereiro. Chesnot / Getty Images

Devido às alterações climáticas, as correntes oceânicas estão a perder força, o que pode trazer consequências dramáticas para o clima da Europa

O enfraquecimento da circulação meridional do Atlântico (AMOC, na sigla internacional), que sustenta a Corrente do Golfo, vai fazer com que os invernos sejam mais frios e ocorram mais tempestades.

Também as ondas de calor na Europa vão ser mais intensas e o nível médio das águas na costa leste dos EUA vai subir ainda mais.

Vários estudos ligam este enfraquecimento às alterações climáticas, mas este, publicado na Nature Geoscience, faz uma avaliação do fluxo das águas dos últimos 1 600 anos, como explica Stefan Rahmstorf, do Instituto de Investigação do Impacto Climático de Potsdam, na Alemanha.

A investigação tentou perceber se já existiram variações nas correntes ou se este é um acontecimento sem precedentes. “Os resultados do estudo sugerem que as correntes têm sido relativamente estáveis até ao final do século XIX.

Por volta de 1850, as correntes oceânicas começaram a decair, com um segundo declínio mais drástico que começou em meados do século XX e continua.” Há mais de mil anos que isto não acontecia.

Corrente do Atlântico. As águas relativamente quentes (linha vermelha) ajudam a que, na Europa, o clima seja relativamente ameno. Imagem: Getty Images

 

Gulf Stream System at its weakest in over a millennium

Graphik: Levke Caesar.

Para chegar a esta conclusão, além de tidos em conta os estudos já existentes, foram analisados os dados de sedimentos do fundo do oceano, da temperatura da água e as pistas em gelo com várias centenas de anos.

De acordo com os investigadores, o mais provável é que o aquecimento global seja a causa destas mudanças na AMOC.

Uma das consequências das alterações climáticas que afeta a circulação das águas é o degelo do Ártico, que faz com que grandes quantidades de água fria sigam para o sul da Gronelândia.

O aquecimento global também afeta diretamente as correntes marítimas.

Cada vez mais fraca

Levke Caesar, da Unidade de Investigação e Análise Climática da Universidade de Maynooth, na Irlanda, explica que esta desaceleração poderá causar condições climáticas mais extremas na Europa, como uma mudança nas rotas das tempestades de Inverno, que poderão ser mais intensas, bem como o surgimento de ondas de calor extremas e menos chuva no verão.

A AMOC é responsável por o clima europeu ser mais quente do que seria suposto, dada a sua latitude: a corrente transporta água quente do Golfo do México em direção ao Atlântico Norte, local onde vai ficar mais fria, tornando-a mais salgada.

Uma água mais fria e mais salgada é mais densa, e, por isso, esta vai afundar perto do norte da Islândia, passando a deslocar-se para sul no fundo do oceano.

O ciclo fica concluído quando a água é novamente puxada para a superfície e aquecida, num fenômeno chamado “upwelling”.

Esta circulação é acompanhada por ventos que também ajudam a trazer clima ameno para Portugal, Irlanda, Reino Unido e outras partes da Europa Ocidental.

Esse processo global garante que os oceanos do mundo sejam continuamente misturados e que o calor e a energia sejam distribuídos pela Terra. Daí ter um impacto no nosso clima. Andrew Meijers, ligado à direção do programa Polar Oceans, que não esteve envolvido no estudo, disse: “A AMOC tem uma influência profunda no clima global, particularmente na América do Norte e na Europa, portanto, o enfraquecimento contínuo da circulação é um novo dado que pode ser usado na interpretação das projeções futuras do clima regional e global.”

“Se continuarmos a impulsionar o aquecimento global, as Correntes do Golfo vão enfraquecer ainda mais – de 34% a 45 % até 2100 – de acordo com a última geração de modelos climáticos”, conclui Stefan Rahmstorf.

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